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XXVII – Fé e Incredulidade - Natureza e provas da Fé



Fé e Incredulidade

Natureza e provas da Fé


A verdadeira glória – Luís IX, rei de França (+ 1270), que depois teve a honra dos altares, conversava certa vez sobre negócios de Estado com um embaixador. Este, que era também um grande adulador, entre outras coisas disse ao rei: “Majestade, congratulo-me convosco, por terdes nascido neste nobilíssimo e florentíssimo reino”. Ao que retruca o soberano: “Não é esta a minha verdadeira glória; mas sim o haver nascido na verdadeira Fé; e aqui tenho de ser chamado Luís de Poissy, porque nesta cidade fui batizado”.


Eis um homem que sabia a importância e a necessidade da Fé; e que a prezava como convém: por isso se gloriava de possuí-la. A graça da Fé também vós a possuís, ó jovens. Mas compreendeis bem a sua necessidade? Tentes por ela a verdadeira estima? Será que a conservais íntegra e inconcussa? Sabeis defendê-la contra os assaltos dos inimigos? Para que possais fazer-vos sempre mais fortes “nessa fé que vence todos os erros” e “que é princípio do caminho da salvação”, dir-vos-ei qualquer coisa:


I. Da Natureza e das provas da Fé

II. Das causas pelas quais ela falta

III. Da sua necessidade


I – Natureza e provas da Fé


1 – Que é a Fé?


É a virtude sobrenatural pela qual cremos, apoiados na autoridade de Deus, naquilo que Ele revelou e nos propõe à crença por intermédio da Igreja. Assim diz o Catecismo:


a) Virtude: Quer dizer que esse é um hábito bom de nossa alma, uma disposição para praticar atos aceitos por Deus.


b) Sobrenatural: Porque não se adquire só com as forças da natureza, mas é um dom de Deus, que nos vem da sua liberalidade. Diz S. Paulo, “Por intermédio de Cristo vos foi dado o dom, não só de crer nEle, mas também de padecer por Ele” (Flp 1, 29). E ainda: “Pela graça fostes salvos mediante a Fé; e isto não vem de vós (não é pelos vossos méritos), pois é dom de Deus” (Ef 2, 8).


c) Cremos: O crer aqui não significa ser de opinião, pensar, mas sim, dar assentimento incondicional às verdades reveladas por Deus, e tê-las como certas.


Portanto, recebemos da divina bondade esse dom importante sem nenhum mérito nosso, de preferência a outros povos que vivem nas trevas e nas sombras da morte. Por isso, recomendava S. Paulo a Timóteo que conservasse esse precioso dom: “Ó Timóteo, conserva o depósito: O Timothee, depositum custodi” (1 Tim 6, 20).


2 – O objeto da Fé


Em que cremos? Pela fé cremos em Deus; somos assim intimamente persuadidos da sua existência, da sua natureza, de suas imperfeições infinitas; somos convictos de que ele criou do nada o céu e a terra. Pela Fé cremos nos mistérios da vida do Homem-Deus; na origem do homem, em sua queda, em sua redenção, em seus futuros destinos; pois, como diz S. Paulo, “é a fé a base das coisas a esperar-se, demonstração das coisas que não se veem” (Hb 11,1).


Pela Fé nós cremos em tudo aquilo que Deus revelou; isto é, todas as verdades que Deus fez conhecer aos homens.


3 – Motivos da Fé


Por que cremos? Porque Deus falou. Eis o argumento sobre o qual se apoia a nossa Fé. Ela não se baseia na ciência ou na capacidade humana, mas na palavra de Deus, e na autoridade infalível de sua Igreja. Deus é absolutamente veraz; não pode enganar-se, nem pode enganar.


A resposta de um menino – Enquanto o tirano Asclepíades se enfurecia contra o mártir S. Romano, um menino, que se achava nos braços da mãe e que mal sabia falar, elevou a voz voltado para o tirano, dizendo: “Jesus Cristo é o verdadeiro Deus!”. O tirano a ele, rispidamente: “Quem te disse?”. “Minha mãe”, responde o menino. “E a tua mãe quem o disse?”. “Disse-o Deus”, concluiu o menino. Eis os motivos da nossa crença. A Igreja, nossa mãe, nos disse em que crermos, e Deus revelou-lhe todos os artigos da Fé que ela ensina.


Aristóteles (outros dizem Pitágoras), por sua vasta doutrina e grande autoridade, era tido em tal veneração, que bastava ele dizer uma sentença ou uma palavra, para admitir-se como oráculo indiscutível; daí vem o proverbial “ipse dixit!”; disse-o ele. Muito mais devemos nós crer em Deus que não se engana nem pode enganar.


4 – As provas


Mas falou Deus? Certamente. Falou aos nossos progenitores Adão e Eva; falou aos Patriarcas Noé, Abraão, Isaac, Jacó; depois a Moisés, Davi, Salomão; a Elias e aos outros Profetas: Isaías, Jeremias, Daniel, Ageu, os quais nos transmitiram o que Deus com sua boca lhes disse. Depois enviou a esta terra o seu próprio Filho Jesus Cristo que revelou aos homens a sua vontade e os seus mistérios. Daí S. Paulo: “Deus muitas vezes e de muitos modos falou outrora a nossos pais por meio dos Profetas; e ultimamente falou a nós por meio de seu Filho” (Hb 1,1-2). E toda a palavra escrita por Deus se resume no “Credo”, ou Símbolo dos Apóstolos.


Trata-se agora de saber os testemunhos ou as provas que Deus nos deu, para se concluir que Deus nos revelou as Verdade de Fé. Ei-las:


a) A realização das Profecias – Predizer com certeza os acontecimentos futuros e distantes, que dependam da livre vontade do homem, é coisa que ninguém pode fazer, a não ser Deus. Ora, os mistérios da Religião foram todos prenunciados muitos séculos antes: e todos se verificaram exatamente. Basta confrontar o Velho com o Novo Testamento, para se certificar disso. Daí dizer Jesus Cristo: “Investigai as Escrituras: são elas que falam a meu favor: Scrutamini Scripturas: illae sunt quae testimonium perhibent de me” (Jo 5, 39).


b) Os milagres – Os milagres operados por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos Apóstolos e por seus sucessores. Eles são inúmeros; e até os inimigos do Cristianismo não os puderam negar, antes os exaltaram. Ora, que é o milagre senão a voz com que Deus fala? Mas certamente Deus não concorre com o milagre para provar a falsidade: logo, de haver Deus comprovado com prodígio aquilo em que nós cremos, deve-se inferir que ele o revelou, e que não nos tem enganado.


c) Os Mártires – Deram a vida entre os mais atrozes tormentos, para atestar as verdades da Fé. Eles iam ao martírio como a uma festa, e exultavam de alegria sob o gládio dos algozes. Donde essa virtude sobre-humana? E não foram poucos: foram milhares e milhares, e de toda idade e condição. Atestam-nos as próprias Atas dos Gentios. Acrescentem-se os milagres estrepitosos que amiúde acompanhavam o martírio daqueles campeões da Fé, e os prodigiosos efeitos que se lhes seguiam: porquanto “o sangue dos Mártires era semente de novos Cristãos”, como disse Tertuliano. Não se vê nesses fatos o dedo de Deus e uma prova manifesta da divindade de nossa Fé?


d) A propagação da Fé – No mundo, de modo realmente maravilhoso a Fé se propagou. Escrevia S. Paulo aos romanos: “A vossa fé é anunciada em todo mundo: Fides vestra anuntiatur in universo mundo” (Rom 1, 8). E ao imperador Trajano escrevia Tertuliano: “Nós somos de ontem, e já estamos por toda a parte: ocupamos as vossas cidades, os vossos castelos, o município, o Senado, o Foro; a vós não deixamos senão vossos templos”. Para obter isso, era mister superar obstáculos que dir-se-iam instransponíveis: era mister destruir a idolatria, a corrupção e os vícios que acompanhavam, e todas as potências conjuradas; e, o que é mais, tornar aceita uma religião que impunha a penitência e a mortificação!


E com que meios? Poucos discípulos, inermes, de humilde condição. Nenhum prêmio a eles prometido; mas sim tribulações, perseguições e morte. E, no entanto, essa Religião, que parecia dever ser detestada, a breve trecho foi senhora do universo. Daí o poeta:


“Então falei: “Se o mundo convertido

Sem milagres de Cristo a lei se houvesse,

Este o maior milagre houvera sido”.

(Par. XXIV, 106-108)


e) A conservação da Fé – A Fé conservar-se através dos séculos, até nós, constitui também uma prova invencível da sua divindade. Quantas lutas não sustenta? Dez perseguições sangrentas se sucederam sem trégua nos primeiros séculos, a fim de sufocá-la. Depois surgiram cismas, escândalos, heresias. Os próprios expedientes do progresso, como as artes, as ciências, a indústria, a imprensa, conjuraram contra o edifício da Fé, para o demolir. E daí? Ela permaneceu sempre tal qual foi desde o início: imóvel, invariável em seus dogmas, em suas crenças, em suas práticas.


“Firme como rocha em alto monte.”


Sua perpetuidade, em meio as mudanças inumeráveis de todas as outras instituições, prova que ela é obra divina e que tem consigo a palavra infalível de Jesus Cristo: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela: Portae inferi non praevalebunt adversus eam” (Mt 16, 18).


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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