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XXV – A Oração - Necessidade da Oração


A Oração

Necessidade da Oração


O oficial e o turco – Um oficial francês, feito prisioneiro de guerra na África, tornou-se escravo de um beduíno (senhor turco), o qual o chamava sempre com estas palavras estúpidas: “cão de cristão”. Indignado o oficial, por ser tratado desse modo, disse um dia ao beduíno: “Por que me chamas de cão? Apesar de prisioneiro, não sou um homem igual a ti?”. “Tu, um homem? (retruca o turco com desprezo); não, tu és um cão: há três meses que te tornaste meu prisioneiro, e nunca te vi rezar; e não queres que eu te chame com este nome?”.


O turco não estava errado. O homem que não reconhece a lei e o dever da oração faz-se igual aos animais irracionais, os quais, incapazes de conhecer a Deus, não rezam. Por isso, caros jovens, far-vos-ei agora ver:


I – Necessidade da oração


1 – Que é a oração?


“É uma elevação do espírito e do coração a Deus, para adorá-Lo, agradecer-Lhe e pedir-Lhe o que carecemos”. Assim ensina o Catecismo, que nos faz compreender até o dever que temos todos de rezar.


a) Dever de adorá-Lo: Porque Ele é o nosso Criador, e nós somos criaturas suas; ele é o nosso soberano Senhor, e em tudo dependemos dele. É um dever maior e mais estrito do que aquele que nos obriga a honrar os grandes e os superiores deste mundo.


b) Dever de agradecer-Lhe: Porque nos tem feito tantos benefícios. Todos os bens que temos e que desfrutamos, porventura não nos vêm dEle? Logo somos obrigados a agradecer-Lhe. Gostaríamos de ser ingratos com Deus? Oh! que coisa iníqua e ignominiosa é afinal a ingratidão! São João Crisóstomo diz: “Com que cara podes tu mirar o nascer do sol sem adorar o amoroso Senhor que to manda? Como podes comer sem agradecer ao bom Deus que te provê e te alimenta? Como te podes pôr na cama à noite, sem bendizer o Senhor por tantos benefícios dele recebidos durante o dia?”. “Seria horrível (aduz Tertuliano), passar mesmo um só dia sem fazer oração: Horrendum est diem transigere sine oratione”.


2 – Esse dever reconheceram-no todos os povos


O dever da oração reconheceu todos os povos, até os bárbaros, e sempre o praticaram. Desde que os homens existem, sempre se elevaram preces a Deus em todos os lugares da terra. Os judeus, os cristãos, os hereges, os maometanos, até os selvagens, todos rezam. Conhecer Deus e orar a ele é coisa natural no homem que raciocina.


O filósofo Sintennis e o menino – O filósofo Sintennis quis fazer uma experiência, a fim de ver se o homem chega por si a conhecer a Deus e a rezar-Lhe. Tomou, então, um menino que ainda não sabia coisa alguma, e o levou a uma casa de campo, separando-o do mundo e jamais falando-lhe em Deus. Certa manhã, quando o menino já estava crescido, o filósofo o viu ajoelhado no jardim, voltado para o sol, ao qual mandava beijos, dizendo: “Ó tu que és tão belo e estás mais perto do Criador de todas as coisas, saúda-o por mim, e dize-lhe que eu O amo!”. O filósofo lhe disse admirado: “Quem te disse que há um Deus? E quem te ensinou a rezar assim?”. E o garoto: “Tudo o que vejo me diz que há quem fez o mundo, e que o devo adorar”. O filósofo persuadiu-se de que o homem chega por si a conhecer Deus e a rezar-lhe.


3 – Esta obrigação no-la dá Deus


E não podemos descurá-la sem culpa. Deus manda-nos o orar, e orar frequentemente. Ouvi o que diz Jesus no Evangelho: Vigilate et orate (Mc 14, 38). Deve-se, pois, rezar sempre e não parar nunca. Vigiai, pois, rezando a todo tempo (Lc 21, 36). Pedi e ser-vos-á dado. Manda-nos até que oremos pelos inimigos: Orai pelos vossos caluniadores (Lc 6, 28). E S. Paulo diz: “Sede perseverantes na oração, velando nelas e nas ações de graças: Orationi instate, vigilantes in ea et in gratiarum actione” (Col 4, 2).


O exemplo de Jesus Cristo – Jesus Cristo repetia frequentemente a seus apóstolos que é necessário rezar; e lhes ensinou até o modo e o tempo de orar, e até as palavras que deviam dirigir ao seu divino Pai. Mas contentou-se, porventura, em só lhes dar a ordem? Não: foi Ele o primeiro a dar o exemplo. Menino ainda, ia ao templo rezar; quando se fez batizar por S. João Batista e desceu sobre Ele o Espírito Santo, achava-se em oração (Lc 3, 21). Até noites inteiras passava em oração: Erat pernoctans in oratione Dei (Lc 6,12). E sempre nos deu esse exemplo de orar, até o último momento de sua vida mortal: moribundo na cruz, ainda rezou pelos seus crucificadores (Lc 23, 34). Não teremos nós, então, o dever de praticar o que Jesus nos ordenou com as palavras e ensinou com o exemplo?


4 – A nossa necessidade


Dizem alguns: “Que necessidade há de rezar? Des não precisa de nossas orações”. Isto é uma impiedade. De fato, Deus não precisa de nós; nós, porém, temos muita necessidade de Deus. Temos necessidade:


a) De perdão – Que deve fazer um menino que haja ofendido um colega, um mestre, um pai? Pedir desculpa e perdão. Assim devemos proceder com Deus. Nunca ofendestes o bom Deus? Oh, quantas vezes! Logo deveis pedir perdão com a prece.


b) De ajuda – Quem é fraco pede ajuda a quem é forte. Nós somos fracos e temos necessidade da graça de Deus, que nos faça fortes. “Sem mim não podeis fazer nada”, diz o Senhor; nós não somos capazes nem de um bom pensamento (2 Cor 3, 5). Neste mundo vivemos entre mil perigos: temos muitos inimigos que nos fazem guerra. Tão inermes como somos, tão fracos e inclinados ao mal, como poderemos vencer sem a oração? “É essa a grande arma que nos torna fortes”, diz São João Crisóstomo: Magna armatura est oratio. Quantos jovens se deixaram vencer pelas tentações e caíram miseravelmente em graves pecados porque não rezaram!


c) De socorro – Quem pobre pede socorro ao rico. Pois bem, nós somos uns pobres mendigos diante de Deus, de quem devemos esperar tudo, assim quanto à alma como quanto ao corpo. Deus bem sabe as nossas necessidades, e deseja dar-nos suas graças; mas estabeleceu não concedê-las senão aos que as pedem: Non dat nisi petenti (S. Agostinho). Vedes, pois, que todo cristão deve rezar não só algumas vezes, mas todo dia, e frequentemente cada dia, se quer viver virtuosamente. Dizei-me: pode viver uma planta sem umidade? Não. Pode viver o peixe fora d’água? Não. Também o cristão não pode ser bom sem a prece. Pode voar um pássaro se não tem asas? Não. Também não poderemos ir ao Paraíso sem as asas da oração. Por isso S. Afonso dizia: “Quem reza se salva; quem não reza se condena”. Vedes, pois, que grande necessidade temos de orar?


5 – Essa necessidade compreendiam-na bem os Santos


Os Santos davam importância à salvação de sua alma. S. Jerônimo refere de S. Tiago, que de tanto ficar ajoelhado a rezar, calejaram-se durissimamente os joelhos. S. Paulo Eremita começava sempre o dia recitando cem vezes o Pai Nosso. Santa Isabel, rainha da Hungria, passava em oração grande parte das noites, e para não prolongar o sono, dormia no chão. S. Martinho rezava sem parar, mesmo quando estava ocupado em trabalhos manuais. No leito de morte continuava a rezar: parou quando a morte lhe tapou a boca. S. Patrício desde menino se levantava de noite, e através do gelo e da neve e debaixo da chuva, ia à igreja fazer orações, e cem vezes por dia se ajoelhava para orar ao Senhor. S. Luís Bertrand, ainda menino, era amiúde encontrado pelos pais num canto da casa a rezar. S. Estanislau Kostka, rapazinho, levantava-se à noite de mansinho, e primeiro se punha de joelhos, depois se deitava de borco no chão com os braços abertos, e assim passava longas horas em fervorosíssimas orações. Assim também fazia S. Luís Gonzaga, que nas noites mais duras do inverno ficava demoradamente ajoelhado na terra nua, para depois cair desmaiado.


Eis o que faziam os Santos! Eles conheciam a necessidade da oração. E vós, fazeis assim? Talvez rezeis bem pouco e com dificuldade! E se entre vós houvesse alguém que descurasse até as orações matinais e da noite? Que desgraça seria isso! Oh! se compreendêsseis a utilidade e os efeitos prodigiosos da oração, não procederíeis assim.


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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