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XXIII – A Pureza - Beleza e valor da pureza


A Pureza


Beleza e valor da pureza


O tesouro oculto – Quando um lavrador trabalhava num campo, deu com a enxada num corpo duro que se quebrou. Curvando-se para ver de que se tratava, descobriu um vaso cheio de moedas de ouro. Doido de alegria, sentiu-se logo tentado a levar embora aquele tesouro; mas pensou diferentemente, e disse a si mesmo: “Esse dinheiro não é meu; não posso apanhá-lo; mas sei perfeitamente o que me convém fazer”. Entretanto, deixou ainda enterradas todas as moedas. Chegando depois à sua casa, vendeu todos os seus haveres; e com o dinheiro obtido comprou aquele campo, ficou senhor também do tesouro oculto ali.


Esta é uma parábola semelhante à que se lê no Evangelho (Mt 13, 44). No tesouro oculto é por Jesus Cristo figurado o reino dos Céus. Mas é ainda figurada uma bela virtude cristã. Qual? A pureza.


E o lavrador industrioso que sacrifica tudo para possuir esse tesouro, significa o cristão que aplica todos os meios para conservar essa bela virtude.


Agora, caros jovens, aqui estou para falar-vos do tesouro da pureza, a fim de que possais guardá-lo cuidadosamente; e se por desgraça o perderdes, possais recuperá-lo para não o perder mais. Dir-vos-ei:


I. Como é bela e preciosa a virtude da pureza

II. O que ela proporciona

III. Como se pode perdê-la



I – Beleza e valor da pureza


1 – A estima que dela faz Deus


O Senhor, já na antiga lei, disse que não há no mundo coisa de tal valor que se possa igualar a uma alma casta e pura (Eclo 26,20). E por quê? Porque a pureza faz com que a gente se aproxime de Deus: Incorruptio facit esse proximum Deo (Sab 6, 20). Por isso Deus na Sagrada Escritura chama as almas castas suas amigas e prediletas. Elas são como alvas pombas que se levantam da lama deste mundo, são os anjos da Terra, o sorriso de Deus, a delícia do Paraíso. Aqueles que são puros e limpos de coração, diz o Senhor que figurarão no Céu coroados de lírios, com vestes cândidas e palmas na mão, e lá entoarão um hino novo e um canto angélico.


Que importa se um menino ou menina aparece miserável nessa vida e com pobres vestes? Se possui o tesouro precioso da pureza, tem toda a riqueza; e perante Deus goza de mais estima do que qualquer pessoa rica e poderosa.



2 – A estima que dela faz Jesus Cristo


Vindo, afinal, Jesus Cristo à terra, escutai o que disse e o que fez para exaltar a virtude da pureza. No início de sua vida pública, vendo-se um dia rodeado por uma grande multidão de gente, subiu a um monte, e lá fez um sermão com o qual ensinou as turbas que estavam suspensas de seus lábios. E entre outras coisas disse: “Felizes daqueles que têm o coração puro porque estes verão a Deus” (Mt 5, 8). E de outra feita, falando dos que praticam essa virtude, disse: “Estes serão como os Anjos de Deus no Céu” (Mt 22, 30). Por isso foi a pureza denominada pelos santos Padres “a virtude angélica”.


Observai agora nos fatos que conta fez Jesus Cristo dessa bela virtude. Nascendo aqui na terra, quis Ele, com um prodígio único no mundo, ter por mãe uma Virgem Imaculada. E por esposo e guarda de Maria Virgem, o qual deveria fazer para Ele as vezes de Pai, quem escolheu? São José, de costumes castíssimos. Quando, afinal, se fez anunciar ao mundo, quem mandou como seu Precursor? São João Batista, de vida intemerata e virginal, que morreu depois de mártir em defesa da castidade.


Deveis ainda saber como Jesus, no tempo de sua vida mortal, encontrava as suas delícias ao estar com as crianças, e as acariciava, e as apertava ao peito. Mas por que esta predileção especial? Porque estas eram puras e inocentes.


Demais: Ele permitiu que o demônio o tentasse de várias maneiras, mas não na pureza. Tolerou que seus inimigos lhe fizessem acusações e o chamassem subversor e até endemoninhado, mas nunca tolerou a mínima acusação de impureza. Até os seus Apóstolos ele os quis castos e sem mácula. E entre estes houve um predileto. Qual? São João Evangelista, a quem concedeu favores especiais: teve-o perto de si no Tabor; deixou-o repousar em seu peito na última ceia; pretendeu-o testemunha de sua morte aos pés da Cruz; e, por fim, confiou-lhe a guarda de Maria Santíssima e lha deixou como Mãe. E por que tudo isso? Porque João era virgem e o mais puro dos Apóstolos.


3 – Os santos padres


Quantos elogios fizeram dessa virtude os Santos Padres e Doutores da Igreja! Escreveram livros inteiros para magnificá-la. Dentre outros, disse Santo Ambrósio, que a pureza transforma os homens em Anjos. São João Crisóstomo vai além, e afirma que essa virtude torna os homens de certo modo superiores aos Anjos; porque os Anjos não têm corpo e não estão sujeitos a macular-se. Eis o grande valor da pureza!


4 – E muitos não o conhecem!


Uma gema vendida por um escudo – Carlos, o Temerário, último duque de Borgonha (+ 1477), numa derrota campal perdeu uma gema preciosíssima. Achou-a um soldado suíço, o qual, julgando-a um pedaço de vidro colorido, já estava para jogá-la fora, quando um companheiro seu lha comprou por um escudo. Dessa gema não compreendeu o grande valor nem o soldado que a achou, nem o que a comprou. Mas bem o compreenderam outras pessoas em seguida: pois a gema foi comprada depois por 20 mil liras pelo Papa de então e serviu para adornar o trirregno pontifício.


Assim acontece à gema que é a virtude da pureza. Uns julgam-na sem valor algum e facilmente jogam-na fora. Entretanto ela é mais preciosa que todas as gemas do mundo; como tem um valor maior que todos os tesouros e riquezas desta, porque, como disse Jesus Cristo, é a virtude que torna semelhante aos Anjos, e obtém, para quem a possui, a posse de Deus: Beati mundo corde; quoniam ipsi Deum videbunt (Mt 5, 8).


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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