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XX – Encerramento dos Exercícios Espirituais e Recordações - Meios e Recordações - Parte 1



II – Meios e Recordações


Parte 1


1 – Vigilância


Vigiar quer dizer:


a) Estar em guarda e com olhos abertos, para que o demônio não possa surpreender-vos. Quem tem valores não anda descuidado: está atento por onde anda e com quem se acha, para não deixar que lhe levem os valores. Os marujos que navegam em mares perigosos, cuidam que o navio não vá bater em escolhos, com o risco de afundar-se com todos os tesouros que carrega. Também vós: agora que sois possuidores de um valor inestimável e trazeis convosco, para não perder esses grandes tesouros.


b) Viver circunspecto e em temor – Estais no meio de um mundo muito corrompido e maligno. Mundus totus in maligno positus (1 Jo 19). Deveis fazer como os pássaros quando descem ao chão. Vêdes os pobres animaizinhos catar grãos, ou tomar o pingo d’ água circunspectos e medrosos, e voar logo; porque sabem que estão em lugar inseguro, onde lhes preparam visgos e lhes armam laços. Quando os pássaros fazem assim, em vão se armam as redes diante de seus olhos. Assim deveis fazer: deveis viver sempre circunspectos; porque neste mundo não há senão emboscadas. Deveis tratar com o mundo como quem sabe que está tratando com um traidor. Diz o Espírito Santo: “Feliz do homem que está sempre temeroso (Prov 28,14). E ainda: “Quem sabe evitar os laços, estará seguro” (Prov 11,15).


c) Fugir às ocasiões – É este o mais importante conselho da religião. O demônio se ri da vossa conversão e de todos os vossos bons propósitos, se ainda procurais as ocasiões do pecado. “Quem ama o perigo, nele perecerá”, diz o Espírito Santo. Fugi, pois, dos lugares, das pessoas, das companhias ou amizades, dos divertimentos, dos livros, dos objetos que já vos foram causa de pecado.


d) Viver na presença de Deus – O velho Tobias recomendava isso com grande ardor ao seu filho: “Em todos os dias da tua vida, tem em mente Deus (Tob 4, 6). O que quer dizer que a ideia da presença de Deus é um dos meios mais seguros para evitar o pecado. Como, afinal, poderá pecar aquele que pensa que o olhar de Deus o acompanha e o perscruta a todo momento e por toda a parte? Foi esse o pensamento que evitou que pecassem José, o Hebreu e a casta Susana, como diz a Sagrada Escritura: pecar diante de Deus? Jamais! Um rapazinho, tentado por um colega a cometer o mal, lhe disse: “Sim, mas leva-me a um lugar onde tenhamos Deus”. Dizei também em toda tentação: “Deus me vê” pecarei em sua frente?”. Esse pensamento, além de fazer-vos esquivar o mal, também vos será estímulo para fazer o bem.


e) Fazer caso das pequenas coisas – Disse o Senhor que “quem é fiel no pouco, também no muito é fiel; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito” (Lc 16,10). Lembrai a famosa estátua vista por Nabucodonosor. Tinha ela a cabeça de ouro, as costas de prata, o peito de bronze, as coxas de ferro, e finalmente de barro os pés. Eis a imagem de quem aos poucos declina do bem. O primeiro degrau é passar do ouro à prata; o segundo é passar ao bronze; depois ao ferro e ao barro. E quando se está no barro? Basta desprender-se do alto uma pequena pedra, e a estátua vai por terra. Por isso nos adverte o Espírito Santo: “Quem despreza as pequenas coisas, a pouco e pouco irá à ruína: Qui spernit modica, paulatim decidet” (Eclo 19,1).


O demônio ao tentar-vos, contentar-se-á, de início, com pequenas falas: mentirazinhas, negligências, palavras meio livres... dizendo-vos: “Que mal há nisso? Mas depois: “à pequena fagulha se segue grande chama”, como diz Dante. Do pouco se cai depressa no muito, isto é, no pecado grave. Já vistes como se fazem as cordas? Um fio, depois outro fio, e depois mais outro fio; e torcem-se juntos. Assim um pecado chama o outro..., e depois onde se vai acabar?


Fazei, pois, muito caso das pequenas coisas, tendo sempre em mente aquele aviso do Espírito Santo: “Como da frente da cobra foge aos pecados; pois, se a estes te chegares, morder-te-ão” (Eclo 21, 2).


A picada de uma cobrinha – Um viandante, ao passar por uma selva, viu uma árvore derrubada, e se foi sentar em cima dela, sem se preocupar se o lugar era seguro. Mas ai de mim! De sob o tronco da árvore sai uma cobrinha venenosa que picou o imprudente, de sorte que teve de ali deixar a vida. Tais são as cortesias do pecado a quem a ele se achega.


Não é dito pelo Espírito Santo de que pecados se deve fugir: compreendem-se, pois, todos, até os pequenos; porque estes em seguida levam aos graves que dão a morte à alma. E como é, então que, para significar uma coisa temível se fala em “cobra”, e não em leão ou em lobo? Porque os leões e os lobos, quando pequenos, se podem acariciar e ficar domesticados; ao passo que não existe ninguém que acaricie uma cobra, porque, embora pequena, a cobra tem o seu veneno.


Os bons jovens não negligenciam as pequenas coisas assim no bem quanto no mal. “Quem teme o Senhor não negligencia coisa alguma” (Ecl 7,19).


Vedes o avaro? Que fez para enriquecer? Não despreza os pequenos lucros.


Procurai adquirir méritos em todas as ações, mesmo pequenas, e em qualquer ocasião.


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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