top of page

Resposta

ree

Por Gustavo Corção,

publicado n’O Globo em 17 de junho de 1971


LEIO n'O GLOBO de 5 do corrente esta carta de D. Ivo Lorscheider dirigida ao Sr. Cândido Mendes de Almeida: "Exatamente no dia em que V. regressa de uma laboriosa e fecunda viagem à Europa tenho o desprazer de vê-lo atacado despudoradamente em alguns órgãos da imprensa por um conhecido colunista católico. Obviamente não é o caso de refutar as costumeiras e facciosas investidas contra o Papa e contra a CNBB. Mas não quero deixar de reafirmar a V. toda minha confiança e meu profundo reconhecimento por aquilo que V. representa para o ensino e a cultura desta cidade, para o trabalho de assessoria da CNBB, para a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, para numerosos Organismos e Movimentos Internacionais. Sua rara competência e sua edificante dedicação merecem a admiração de todos os homens de boa-vontade. Receba neste ensejo, prezado amigo, o meu abraço de integral solidariedade." — (a) Dom Ivo Lorscheider, Secretário-Geral da CNBB."


* * *


AGORA respondo eu: o “conhecido colunista católico" sou eu. Fui eu que manifestei o desagrado e a tristeza de ver a indicação do Sr. Cândido Mendes de Almeida para a elaboração de um roteiro para os trabalhos da CNBB relativos à "Justiça no Mundo". E antes de explicar as razões de meu protesto gostaria de entender por que é que Dom Ivo Lorscheider o qualifica de "despudorado". Gostaria também de saber se Dom Ivo Lorscheider, como Secretário-Geral da CNBB, tem poderes e delegação para escrever e publicar em nome da CNBB cartas polêmicas e agressivas como a que transcrevi. E desde já aproveito o ensejo para dizer que minhas queixas da... CNBB, que bem quisera nunca ser compelido por dever de consciência a formular, são sempre motivadas por episódios deste tipo, onde se vê claramente que um pequeno grupo ou até um só pratica um ato que claramente se configura como exorbitação de competência, ou como abuso de confiança.


NO CASO presente, por ex., não estou respondendo à CNBB, estou apenas respondendo à agressão recebida de Dom Ivo Lorscheider, que, no afã de defender o Secretário da famosa Comissão de Justiça e Paz, usa ou abusa da... CNBB (desde o título do tópico distribuído aos jornais "pela CNBB") para classificar de "despudorada" a minha "investida" contra o Sr. Cândido Mendes de Almeida.


RESPONDENDO ainda a Dom Ivo Lorscheider (e não à CNBB) digo que é falsa e caluniosa sua afirmação de que faço "costumeiras e facciosas investidas contra o Papa". Aponte-me uma só passagem de um só artigo onde eu tenha "investido contra o Papa". Tenho realmente criticado atos e pronunciamentos de personagens eclesiásticos, todos eles evidentemente ligados à Hierarquia e, portanto, ao Papa, mas nunca escrevi nenhuma "investida contra o Papa", a não ser na imaginação ou na memória infiel de quem me acusa. Insisto em protestar contra a caluniosa imputação formulada por Dom Ivo Lorscheider e mal atenuada pelo fato de não ter escrito meu nome com todas as letras, til e cedilha.


COM a franqueza pós-conciliar, que costumo usar, não hesito nunca em dar os nomes às coisas, aos bois e às pessoas. No meio de tantos "aggionarmentos" permitam-me este do sim-sim, não-não, ou do pão-pão, queijo-queijo.


E VAMOS ao queijo, isto é, ao Sr. Cândido Mendes de Almeida, de quem só disse, no citado artigo, que é um falso valor, ou um "Pacheco" do Eça de Queiroz. Direi hoje mais alguma coisa para reavivar as memórias. Dom Ivo Lorscheider nunca soube talvez, ou já esqueceu o papel destacado que o Senhor Cândido Mendes de Almeida teve no grupo do famigerado ISEB dirigido por Roland Corbisier e ativado por notórios comunistas como o Coronel Nélson Werneck Sodré, o Professor Vieira Pinto, e outros. O Sr. Cândido Mendes de Almeida teve nesse tempo atuação na PUC onde rivalizava com o Padre Vaz na tarefa de mistificar os moços e na de transformar em comunistas as moças de melhores famílias egressas dos melhores colégios católicos (hoje desmoronados ou degradados). Convém também lembrar a atuação do mesmo personagem no Metropolitano, órgão oficial da agitação estudantil da UNE entregue aos comunistas. Várias vezes o Professor Cândido Mendes de Almeida contribuiu para a algaravia comunista com suas impenetráveis reflexões que a muitos néscios devem dar uma impressão de insondável profundidade. O Secretário Geral da CNBB talvez não se lembre bem do que acontecia no ISEB e no MEC entregue ao Sr. Paulo de Tarso, porque nesse tempo estava no Sul assistindo ao desmoronamento do Seminário do Viamão também tomado de assalto pelos comunistas. Eu tenho lembrança nítida das eleições em que os seminaristas apoiaram em bloco os comunistas, como tenho lembrança das muitas cartas que recebia de mães de seminaristas. Dom Ivo Lorscheider talvez não se lembre da grosseira agressão feita a Dom Jaime Câmara em fins de abril de 1961 pelo ISEB. Em repulsa a tão insólita agressão do companheiro do Sr. Cândido Mendes de Almeida, falaram na Assembleia Legislativa o Deputado Gladstone Chaves de Melo e o Deputado Raul Brunini. Falando como líder da Maioria, o Sr. Afonso Arinos Filho também revidou energicamente as agressões feitas ao Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro pelo líder da esquerda isebiana.


O MOVIMENTO de 64 dispersou o ISEB e cassou os direitos de todos os seus membros, com uma só exceção: o Sr. Cândido Mendes de Almeida, graças a sua conhecidíssima maleabilidade, escorregou entre os dedos da Revolução de 64, e à sombra do nome vegetou algum tempo.


SUA nova chance de carreirismo surgiu com o progresso vertiginoso da Esquerda Católica, ou, como diz Paulo VI, com a autodestruição da Igreja. E com esse "progresso" do sofrimento da Igreja, e da infiltração comunista sem freios, o Sr. Cândido Mendes de Almeida se achou num pique seguro e confortável. Pode ser nomeado ao lado de D. Branca Melo Franco Alves, Exma. Sra. mãe do famigerado Marcito, para representar o Laicato Católico na Assembleia da CNBB, Brasília, 1970. Agora temo-lo na Comissão de Justiça e Paz, onde novamente se cruza com D. Branca Melo Franco Alves, que integrou uma "União da Senhoras Brasileiras" portadoras de farto material para a campanha contra o Brasil. D. Branca Melo Franco Alves, que é a pessoa mais aparentada do Brasil, também, se destacou pela entrevista dada aos jornais, com foto e manchete, na qual contestava a Humanae Vitae, com grande desembaraço. Nessa mesma comissão de Justiça e Paz figuram Alceu Amoroso Lima, mutacionado em socialista-com-liberdade, e D. Marina Bandeira, militante do I-DOC, que não esconde suas convicções comunistas nem disfarça muito suas atividades.


E AÍ ESTÁ. Tendo eu a límpida evidência do papel que todos esses personagens representam na promoção da anti-Igreja, e estando eu ainda com a caneta na mão até o dia e a hora marcada por Deus, sinto-me na obrigação de lutar contra eles. “Quem põe a mão no arado, e olha para trás, não é digno do reino de Deus." (Luc. 9, 62).


* * *


AS CONVICÇÕES de Dom Ivo Lorscheider diferem sensivelmente das minhas. Certamente para ele o Seminário de Viamão progrediu e produziu frutos excelentes; certamente, pelo que se lê na carta transcrita acima, para Dom Ivo Lorscheider o Sr. Cândido Mendes de Almeida, em vez de ser um carreirista e um falso valor, é uma coluna da Igreja; D. Branca será outra, D. Marina Fiandeira, outra; e o pobre autor destas mal traçadas linhas não passa de um "despudorado" oficialmente desqualificado pela CNBB.


TAMBÉM diferem das minhas as apreciações que D. Ivo Lorscheider fez da Humanae Vitae, e que estão no JB [Jornal do Brasil] de 17/08/68, 1º cad., pág. 7. Ei-las: "O Secretário-geral da CNBB, Dom Ivo Lorscheider, manifestou-se ontem favorável à pílula anticoncepcional "PORQUE SE DEVEMOS LEALDADE AO PAPA DEVEMO-LA TAMBÉM AO POVO DE DEUS."


JAMAIS em meus artigos encontrará o leitor tão desembaraçada "investida" contra a autoridade do Sumo Pontífice. Dom Ivo, seguindo a tendência democratizante da anti-Igreja, nivela o Papa com o povo de Deus, reduz toda a obediência a uma "lealdade", e será capaz de dizer que não investe contra o Papa já que o trata lealmente como um qualquer membro da Igreja. E o que nos dói de modo particularmente agudo é a desenvoltura com que, em cada opinião emitida por este ou aquele eclesiástico, é envolvida a... CNBB inteira. E depois eles vêm dizer, mais uma vez em nome da CNBB, que sou eu quem despudoradamente faz costumeiras e facciosas investidas contra a... CNBB e contra o Papa. O leitor de bom-senso decidirá quem é que efetivamente maltrata a CNBB e desacata o Papa.

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos, ilustrações ou qualquer outro conteúdo deste site por qualquer meio sem a prévia autorização de seu autor/criador ou do administrador, conforme LEI Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

bottom of page