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Pobre Chile! Pobre Argentina!



Por Gustavo Corção publicado n’O Globo em 16-06-1973


TODO o mundo sabe que o povo chileno, traído pelo governo democrata-cristão e especialmente por Eduardo Frey, e traído por seus padres e por seus bispos, com exceções cada vez menos honrosas e mais raras, foi entregue a uma gang comunista que em três anos o arruinou. Lembremos que existe um decreto de Pio XII condenando o comunismo e a colaboração dos católicos com esse movimento histórico sob pena de excomunhão (A.A.S. 1 de julho de 1949). Esse decreto foi reforçado por João XXIII (A.A.S. 4 de abril de 59) Nenhum dos dois foi revogado. Nos meios realmente católicos ninguém pode admitir que a Igreja de Cristo tenha terminado em Joao XXIII e que agora vivemos dentro de Outra. Então, a propósito do caso do Chile podemos dizer que houve uma explosão de apostasias já que o clero e o episcopado não fizeram outra coisa senão ajudar Allende, com Te Deum e pronunciamentos de conferências episcopais. A associação TFP chilena publicou uma nota, que foi transcrita no Diário de Notícias do dia 15-4-73 e na Folha de São Paulo de 2-3-73, na qual, com densa documentação, mostra a infeliz atuação do clero e do episcopado chileno. Estamos cansados de saber que esse Monstrengo, que tenta se inculcar como a Nova e verdadeira Igreja de Cristo, é obra de graduados e graduadíssimos apóstatas. Em todo o Orbe, onde tentam inculcar Outro Evangelho, sabemos que há sempre bispos e cardeais puxando o cordão, mas o caso chileno, que mata de fome um povo, é especialmente escandaloso.


NOTEM os leitores que no dia em que as donas-de-casa vieram para as ruas com as panelas vazias, em outubro de 72, o Cardeal Silva Henriquez enviou de Roma, onde se achava em entrevista com Paulo VI, uma mensagem pública solidarizando-se com Allende e oferecendo-se para interceder junto aos queixosos. Como? Enchendo as panelas? Pregando a resignação cristã?


A DESORDEM no Chile acelerou-se e agora é com pasmo, com assombro, com infinito e supremíssimo cansaço que vemos os mesmos Bispos chilenos a externarem suas preocupações como se os cúmplices do assalto e da desordem pudessem ter agora o direito de queixarem-se do resultado. A sem-cerimônia desses bispos da Outra igreja, que tão desembaraçadamente desprezaram os decretos de Pio XII e João XXIII, em pleno vigor, ultrapassa todos os limites. Amanhã ou depois, se as forças armadas do Chile acordarem e descobrirem que têm o dever de instalar um governo cirúrgico ou purgativo, como tão bem fizeram as nossas em 64, esses mesmos bispos de sucessivas igrejas estarão a lançar manifestos contra o Governo, e em nome de uma revolução social, como a que sonham nossos prelados do Nordeste.


A REVISTA Itineraires, no seu número 171, em excelente artigo de Jean-Marc Dufour, descreve assim as etapas das experiências socialistas:


a) No primeiro ano comem-se as reservas;

b) No segundo raspam-se as gavetas;

c) No terceiro fecha-se a loja.


Perdão. Há um quarto ano: aquele em que os Estados Unidos correm a salvar os comunistas, porque isto, para a grande nação americana, desde a 1ª Revolução russa, tornou-se o maior dos mandamentos.


O ESCANDALOSO apoio do clero e do episcopado ao assalto dos comunistas no Chile foi tão evidente e tão multiplicado que o próprio Allende foi levado a formular declarações teológicas sem encontrar nenhum protesto. Em entrevista concedida ao New York Times, em Santiago, outubro de 70, Allende anuncia que a Igreja Católica mudou sua doutrina tradicional. E acrescenta: "Tive oportunidade de ler a Declaração dos Bispos em Medelin: a linguagem que empregam é a mesma que usamos desde nossa iniciação na vida política há trinta anos. Naquela época éramos condenados por tal linguagem que hoje é empregada pelos bispos católicos."


A TRANQUILA confiança com que o então candidato diz essas palavras indica a certeza que tem de assim agradar os bispos, que se sentem lisonjeadíssimos de não dizerem hoje as mesmas palavras de 30 anos atrás.


E AGORA, diante do fenômeno monotonante repetido, isto é, diante da calamidade produzida por um governo comunista, os Bispos chilenos ainda acharam um palavrório para lamentar a situação que eles mesmos criaram.


NA MESMA revista Itineraires, número 173, o mesmo autor atrás citado analisa o resultado das eleições argentinas e conclui com estas palavras que merecem nossa atenção: "Pode-se falar de delírio. Mas esse delírio não deixará de encontrar fervorosos adeptos em outros países. O inimigo de uma nova cruzada já foi achado: basta ler os artigos dos correspondentes mais engajados para verificar que, desde a vitória de Perón, "o imperialismo brasileiro" está na berlinda com uma frequência cada vez maior."


E JEAN Marc Dufour continua: "A ideia de uma grande aliança antibrasileira que agruparia a Argentina, o Chile (é claro) e os países do grupo andino (entre os quais têm destaque o Peru e o Equador) está certamente na linha da natureza das coisas. (...) Não faltarão aliados. Todos os subdesenvolvidos crônicos, que não podem perdoar ao Brasil o êxito que eles nem conseguem sonhar, se unirão alegremente. Há, entretanto, uma outra possibilidade que não se pode desprezar: a do caos triunfante. Vinte e sete anos atrás Domingos Perón pôde desprezar certo número de contingências, e ter confiança em seu magnetismo. Mas 27 anos fazem do exilado de Madri, do coronel triunfante, um velho de 77 anos. O simples declínio das forças físicas pode desempenhar um papel decisivo. A vitória do peronismo poderia então trazer uma volta à era dos "montoneros"... que trocariam o cavalo pelo jeep ou pela moto, mas que trariam com eles o arbitrário, a instabilidade, os massacres fratricidas."


SE ESTA previsão de Dufour tem algum fundamento — e receio que tenha — é fácil acrescentar que esse caos argentino tomará forma comunista, e que o cerco antibrasileiro no continente terá a mesma inspiração, e contará com o clero e o episcopado "progressista" de nosso País. E com quem contaremos nós para a defesa da Civilização e do Cristianismo?

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

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