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Carta de Broadstairs - Nº 07

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Nova et vetera

(Mat. 13, 52)


A Igreja durante o tempo da tribulação

[extraído de The drama of the end times, do Père Emmanuel, 1885]


I - São Gregório Magno, em seus comentários esclarecedores e proféticos sobre o Livro de Jó, apresenta as mais profundas avaliações sobre toda a história da Igreja. Ele contempla a Igreja no fim dos tempos sob a figura de Jó em suas humilhações e sofrimentos, exposta às pérfidas insinuações de sua esposa e às amargas reprovações de seus amigos. Tal será a sorte da Igreja rumo ao fim de sua peregrinação, quando for privada de todo apoio temporal. Além disso, será privada até mesmo do esplendor de seus dons sobrenaturais: “O poder dos milagres será retirado, a graça das curas será suprimida, a profecia cessará… Isso não quer dizer que nada disso subsistirá absolutamente, mas que tudo será diminuído. Não obstante, a recompensa dos bons será ainda maior, visto que permanecerão fiéis unicamente por causa da recompensa celeste, enquanto os maus se afastarão devido à ausência de qualquer atração temporal.” Embora a Igreja jamais possa ser inteiramente silenciada, aqueles que deveriam pregar dos telhados serão grandemente reduzidos ao silêncio pelo medo.


São Gregório fala repetidas vezes de três categorias de pessoas no seio da Igreja: os hipócritas ou falsos cristãos, os fracos e os fortes. Nos tempos de angústia, os hipócritas manifestarão sua apostasia secreta; os fracos perecerão em grande número; e mesmo entre os fortes alguns cairão, por confiarem excessivamente em suas próprias forças. Entretanto, a Igreja não perderá nem a coragem nem a confiança. Será sustentada pelas promessas de Nosso Senhor, que assegurou que esses dias seriam abreviados por causa dos eleitos, e assim se dedicará, com energia incansável, à salvação das almas.


II - Apesar do terrível escândalo desses tempos de perdição, não se deve pensar que os pequenos e os fracos estejam necessariamente perdidos. O caminho da salvação permanecerá aberto e acessível a todos, mas os que perecerem o terão feito por se afastarem da Santa Mãe Igreja. A própria Igreja não será privada dos meios de preservação proporcionais à gravidade do perigo, conforme indicado na Sagrada Escritura. Ela se recordará da advertência dada pelo próprio Nosso Senhor acerca da destruição de Jerusalém, mas aplicável também a esta perseguição final: “Quando virdes a abominação da desolação instalada no lugar santo, conforme foi predito pelo profeta Daniel, aqueles que estiverem na Judeia fujam para os montes…”


Em conformidade com essas instruções, a Igreja protegerá os irmãos mais fracos em sua fuga para lugares inacessíveis, onde a Besta não os poderá alcançar. Pergunta-se como tais lugares poderão existir, dadas as comunicações de alcance mundial, mas a Providência Divina assegurará a segurança desses fugitivos, como foi predito por São João no capítulo 12 do Apocalipse. Aí, o Apóstolo apresenta a imagem de uma mulher vestida de sol e coroada de estrelas, representando a Igreja, e suas dores de parto recordam como a Igreja dá à luz os eleitos em meio aos sofrimentos. Diante dela está um dragão vermelho, imagem do demônio e de suas armadilhas, mas ela foge para um lugar deserto, preparado pelo Todo-Poderoso, onde, na pessoa dos fiéis mais fracos, é protegida e alimentada por um período de três anos e meio, a duração da perseguição sob o Anticristo.


O fim desse capítulo contém detalhes da própria fuga. À mulher são dadas as grandes asas de uma águia para que seja levada ao deserto. O demônio, em perseguição, lança contra ela uma massa de água como um rio, mas a terra vem em seu auxílio e engole o dilúvio. Essa representação enigmática refere-se a algum acontecimento de grande magnitude que o Deus Todo-Poderoso realizará em favor de Sua Igreja. Enquanto os fracos rezam no lugar de refúgio, porém, os fortes e corajosos estarão engajados numa luta formidável contra o dragão enfurecido, à vista de todo o mundo.


III - É fora de dúvida que, nesses últimos tempos, haverá santos de virtude heroica, comparáveis aos próprios Apóstolos. Santo Agostinho descreve esses valorosos soldados como prudentes e fortes, sábios e, ao mesmo tempo, pacientes. Afirma também que, embora as conversões sejam mais raras, serão tanto mais marcantes, para que a graça de Deus apareça ainda mais poderosa diante do inimigo e do dragão furioso. Entre os santos dos últimos tempos haverá soldados, herdeiros da gloriosa linhagem dos Macabeus e dos Cruzados, dos Vendeanos e dos Zuavos Pontifícios, que resistirão firmemente aos exércitos do Anticristo. Mas, como este último, o dragão, será sobretudo um impostor e um sedutor, seus principais adversários serão os verdadeiros apóstolos armados com o crucifixo, unindo a paciência dos mártires à ciência dos doutores. À frente dessa intrépida falange aparecerão dois enviados extraordinários mandados por Deus, dois gigantes da santidade, dois sobreviventes dos tempos antigos, Enoque e Elias, dos quais falaremos no próximo artigo.


Continua…

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