Carta de Broadstairs - Nº 04
- Mosteiro da Santa Cruz
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Nova et vetera
(Mat. 13, 52)
Sofremos uma espécie de terror ao considerar as condições terríveis da humanidade na hora presente. Pode-se ignorar a aflição que é tão profunda e tão grave, infectando a sociedade humana mais do que nunca no passado, e piorando dia após dia, consumindo-a até a medula, conduzindo-a à ruína?
Essa aflição (…) diz respeito a Deus, à traição e à apostasia. Quem reflete sobre essas coisas pode bem temer que tal perversão dos espíritos seja o início daqueles males anunciados para os tempos do fim (…) e que já o filho da perdição de quem fala o Apóstolo esteja em nosso meio.
Papa São Pio X, E Supremi Apostolatus, 1903
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Damos continuidade abaixo ao nosso resumo do estudo do Pe. Emmanuel André (1826-1903) sobre o Drama do Fim dos Tempos:
Mesmo que os esforços generosos dos fiéis pudessem, pela graça de Deus e por suas orações, retardar por algum tempo a obra de descristianização — como que uma espécie de Domingo de Ramos — os inimigos da Igreja continuariam seu trabalho satânico com um ódio renovado. O estado da Igreja então se assemelharia ao de Nosso Senhor Bem-aventurado nos dias que precederam Sua Paixão.
O mundo ficará profundamente perturbado, como o povo judeu reunido para a Páscoa. Haverá intensos rumores a respeito da Igreja, alguns falando de Sua divindade, outros a negando. Ela será objeto dos ataques mais insidiosos dos livre-pensadores, mas os reduzirá ao silêncio, destruindo seus sofismas.
Em resumo, o mundo será posto diante da verdade e será ferido pelo esplendor divino da Igreja, mas voltará o rosto dizendo: Não a quero!
Esse desprezo pela verdade, esse abuso da graça, levará à manifestação do Homem do Pecado. A humanidade terá desejado esse terrível senhor e o terá. E por meio dele virá a sedução da iniquidade, um modelo de erro que punirá os homens por terem rejeitado e odiado a Verdade.
Falando assim, não fazemos mais que seguir o Apóstolo São Paulo, que escreve sobre aqueles que rejeitam a Verdade que poderia salvá-los, preferindo acreditar na mentira e consentindo com a iniquidade (II Tessalonicenses, 2, 11-12).
Assim, o Homem do Pecado aparecerá em seu tempo, quando o corpo dos ímpios, endurecido contra as obras da graça e obstinado em sua iniquidade, clamar por sua pessoa.
Ele se levantará e Satanás manifestará em sua pessoa todo o alcance de seu ódio contra Deus e contra os homens. O Anticristo não será o diabo encarnado, pois este não tem poder de assumir a natureza humana, mas sim um simples mortal de origem judaica, como afirmam unanimemente todos os Padres da Igreja, vindo da tribo de Dã, que não é mencionada no Apocalipse como originando eleitos para Nosso Senhor.
Essa crença se reforça ainda mais quando se considera que, sendo a Maçonaria de origem judaica, e estando os judeus no controle de seus tentáculos em todo o mundo, o chefe do império anticristão será ele próprio judeu, a quem eles venerarão como seu messias. “Eu vim em nome de meu Pai e não Me recebestes; se outro vier em seu próprio nome, a esse recebereis”, diz Nosso Senhor no Evangelho de São João (V, 43), e os Padres entendem que isso se refere ao Anticristo.
Embora esse indivíduo tenha conhecido a graça e a verdade e possua um anjo da guarda, estará perdido por sua própria culpa. Desde a idade da razão entrará em relações tão constantes e diretas com o espírito das trevas, a tal ponto de entregar-se ao mal com uma pertinácia e rebeldia contra Deus sem limites. Por essa aplicação contínua ao mal, atingirá um grau de impiedade jamais alcançado por qualquer homem, com a determinação irremediável dos condenados, donde vem o seu nome de filho da perdição.
Sendo diametralmente oposto a Nosso Senhor Bem-aventurado, ele será para Satanás um instrumento de eleição, um objeto de predileção. Assim como o Filho de Deus encarnado teve o poder de realizar milagres, o homem do pecado receberá de Satanás o poder de realizar falsos milagres (prodígios). Nosso divino Salvador só realizou milagres por bondade, sem ostentação alguma; já o Anticristo se deleitará em suas monstruosas exibições de poder enganoso, e os homens ficarão fascinados diante delas.
Daí decorre que o Anticristo se apresentará ao mundo como o exemplo mais perfeito daqueles falsos profetas que tornam as massas fanáticas, conduzindo-as a todos os excessos sob o pretexto de uma reforma religiosa, como já foi prefigurado por outros ao longo da história…
(continua)