Carta de Broadstairs - Nº 05
- Mosteiro da Santa Cruz
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Nova et vetera
(Mat. 13, 52)
O Império do Anticristo
(Extraído do “Drama do Fim dos Tempos”, de Pe. Emmanuel André, 1885)
I.
Certa noite, o profeta Daniel teve uma visão em que viu quatro bestas monstruosas, representando quatro impérios, sendo o último deles dotado de dez chifres, com outro chifre pequeno crescendo em seu meio. Foi-lhe explicado que eles representavam dez reis, sendo o último um rei que viria a dominar o mundo inteiro com um poder jamais visto.
“Ele vomitará blasfêmias contra Deus, esmagará debaixo de seus pés os santos do Altíssimo; pensará que poderá mudar os tempos fixados e as leis…” (Dn 7).
II.
Esse rei é interpretado por todos como sendo o Anticristo. A besta sobre a qual ele se erguerá é a Revolução, isto é, o corpo da impiedade, obediente a uma força oculta, que se rebela contra Deus. A Revolução é satânica e bestial, animada por um espírito infernal e entregue a todos os instintos da natureza corrompida. Ela forja leis despóticas para esmagar a liberdade humana e procura dominar reis e governos, que terão de se submeter a ela.
O Anticristo, diz Daniel, surgindo como um pequeno chifre, virá de origens obscuras, não de uma família real, mas sim como um “Mahdi”, que gradualmente se elevará pela força de suas imposturas, em aliança com o demônio.
Esse novo rei será um falso profeta, seduzindo mais pelo poder de suas palavras do que pelo poder das armas e da astúcia política. Todos os olhos se voltarão para esse impostor, cujos feitos serão enaltecidos pela imprensa complacente. Sua popularidade ofuscará a de outros soberanos apóstatas nesse império revolucionário, e, após uma luta gigantesca, o Anticristo derrotará seus rivais.
Nesse momento, todos os povos, fanatizados pelos seus prodígios e vitórias, o aclamarão como o salvador da humanidade, marcando o início de uma terrível crise para a Igreja de Deus, contra cujos santos será travada guerra.
III.
É provável que, durante esse primeiro período — que poderia durar muitos anos — o homem do pecado assuma uma aparência de moderação hipócrita.
Sendo judeu, apresentar-se-á aos judeus como o messias esperado e o restaurador da Lei de Moisés. Procurará aplicar a si mesmo as misteriosas profecias de Isaías e Ezequiel e, segundo vários Padres da Igreja, também reconstruirá o Templo de Jerusalém. Os judeus, por sua vez, deslumbrados por seus falsos milagres e exibições, colocarão a seu serviço as altas finanças, a imprensa e as lojas maçônicas espalhadas pelo mundo.
É muito concebível que o Anticristo, inicialmente, procure agradar a todas as falsas religiões em nome da liberdade religiosa — que é, em si mesma, uma das mentiras e máximas da besta revolucionária. Dirá aos budistas que é um Buda, aos muçulmanos que Maomé é um grande profeta, ou até mesmo que ele próprio é um novo Maomé. Poderá chegar ao ponto, como fez Herodes, de querer adorar Jesus Cristo! Ai dos cristãos que aceitarem sem indignação que o adorável Salvador seja colocado no mesmo nível de Buda ou de Maomé, em qualquer panteão de falsos deuses.
Todas essas maquinações conquistarão o mundo para o inimigo de Nosso Senhor e, uma vez no poder, ele se mostrará como o mais terrível tirano que a humanidade já conheceu.
IV.
São Paulo diz que o homem do pecado, o filho da perdição, “se exaltará acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, chegando a sentar-se no templo de Deus, apresentando-se como se fosse o próprio Deus” (II Tess. 2,4).
Assim, uma vez que o Anticristo tenha escravizado o mundo com seus tenentes espalhados por toda parte, empregará os meios de uma autoridade altamente centralizada para proclamar a abolição de todas as religiões, impondo à força que todo habitante da terra o adore como a única divindade, sob a ameaça dos mais terríveis tormentos. Esse monstro de impiedade e orgulho, exatamente oposto Àquele que é manso e humilde de coração, fará com que a humanidade, aterrorizada e seduzida, o adore, tendo-o escolhido como mestre em lugar de Nosso Senhor.
O trono desse falso culto será o Templo de Jerusalém, mas São João Apóstolo nos diz que a imagem da besta estará presente em toda parte para ser adorada pelos homens (Apoc. 13, 24).
Ainda que toda religião seja suprimida e abolida, a fúria do mundo será dirigida contra Nosso Senhor e Sua Igreja. A Santa Missa será celebrada apenas em cavernas e lugares ocultos, enquanto as igrejas profanadas terão a imagem do monstro erguida sobre os altares do verdadeiro Deus, cumprindo assim “a abominação da desolação”, como anunciado pelas Escrituras.
Entretanto, após três anos e meio, segundo ainda a visão de Daniel, a Mão de Deus se fará sentir, e aqueles dias de suprema angústia serão abreviados.
(continua)