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A Igreja e as superstições



Por Gustavo Corção, publicado n’O Globo em 30-06-1973


Recebi de um frade dominicano uma carta empenhada em defender seus "irmãos" religiosos por mim apontados, em artigo publicado em 9 do corrente, como "membros do Corpo Místico do Monstrengo". Devo esclarecer o leitor a respeito dessa denominação já mais de uma vez usada para designar a falsa igreja pós-conciliar que se permite todos os erros e extravagâncias contra a Fé, como essa exibição de alegre e amável tolerância por todas as superstições que devoram as almas sem prumo e sem rumo.

ANEXA à carta meu missivista enviava-me o folheto 163 de VOZES, sobre a LIBERDADE RELIGIOSA e AS RELAÇÕES DA IGREJA COM AS RELIGIÕES NÃO CRISTÃS, evidentemente com o intuito de me provar que o histrionismo exibicionista publicado na revista "Manchete" é o mais puro catolicismo pós-conciliar.

PASSEI os olhos fatigados sobre as páginas lidas e relidas, e já me dispunha a fechar o opúsculo, e a pensar em outra coisa, quando a atenção me foi despertada por uma palavra de Jesus que me pareceu escrita com sangue: "Quem crer e for batizado será salvo; quem no entanto não crer será condenado". (Mc, 6, 16).

POR aí se vê que, mesmo depois do Concílio, permanece uma condicional, um SE mais importante do que todos os IF de Kipling. Se tal condição não for observada, a alma não se salvará. Nós sabemos que Deus oferece a todos a graça suficiente para a salvação; mas também sabemos que a liberdade humana não é uma alegre e amena disponibilidade: é um trágico abismo que dá ao homem a capacidade de negar Deus e de perder-se.

POR isso, enviou-nos Ele seu próprio Filho que por nós se imolou na Cruz. A Salvação é agora oferecida a todos os homens na Palavra de Deus e no Sangue do Cristo: ao abismo da soberba humana responde Deus com o abismo de sua misericórdia. E para que a presença de Cristo se perpetue no mundo até o dia do Juízo, Ele mesmo fundou a Sua Igreja, e entregou-lhe a custódia da Palavra e do Sangue.

MAS o abismo da liberdade humana, diante do qual parecem sorrir alegre e confiantemente todos os que veem no documento conciliar uma porta aberta para todas as concessões.

Em palavras singelas e duras para serem nítidas direi o seguinte: os religiosos que amavelmente tranquilizam e confirmam a pobre gente na prática da magia e da superstição, amavelmente os afastam da Fé, e amavelmente os empurram para a perdição. Porque "os que não crerem não serão salvos". Bem sabemos, bem sabemos que Deus reserva todos os recursos de sua misericórdia para nos salvar, mas isto não nos autoriza a concluir que tudo é permitido, e que todos, façam o que fizerem, se salvarão; porque se admitirmos tal coisa, estaremos admitindo que foi inútil o Sangue, inútil a Paixão, inútil a Cruz. O Sacrifício de Cristo — se o opúsculo VOZES 163 pode ser interpretado como quer o meu missivista — foi um aberrante equívoco, ou foi um desatino exagerado de Deus.

O MESMO correio que me trouxe a dialética pós-conciliar do frade dominicano trouxe-me um recorte de "O Estado de São Paulo" (14.6.73) onde se lê o seguinte, que vale à pena transcrever:

"A IGREJA já perdeu muito tempo em hostilidades. Agora, chegou o momento de buscar no Espiritismo e na Umbanda, os elementos vivos que sirvam à Igreja no seu trabalho de evangelização." Esta afirmação foi feita ontem, em Belo Horizonte, por Dom José Pedro Costa, bispo de Uberaba, no segundo dia da reunião da Regional Leste II da CNBB da qual participam 100 religiosos, entre os quais, 26 bispos, em busca "de uma linha de desenvolvimento cultural que ajude o povo a ser mais cristão, de modo brasileiro".

DOM José Pedro Costa, que como bispo de Uberaba se considera bispo da "capital espírita do Brasil", afirmou que admira o trabalho desenvolvido em sua cidade pelo medium Chico Xavier, a quem ajuda fornecendo alimentos da Caritas diocesana para as crianças órfãs do "Lar Espírita". Mas apesar de admirar esse trabalho, o bispo de Uberaba faz-lhe algumas restrições ao afirmar que os kardecistas "desenvolvem ação muito paternalista, pois estão aparentemente preocupados em distribuir sopa e esquecidos da verdadeira promoção humana".

* * *

EIS aí mais uma amostra da aberrante monstruosidade a que chega a igreja dita progressista e pós-conciliar, e mais um exemplo do desapreço do Sangue de nossa redenção.

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

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