A guerra mundial — III
- maybsantos
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Por Gustavo Corção publicado n’O Globo em 26 de março de 1970
A Guerra Mundial III já foi deflagrada há muito tempo e já está em plena atividade alastrada pelo mundo inteiro, mas muita gente, sobretudo nos meios intelectuais, preocupada com outras guerrinhas de tipo clássico ou neoclássico, ainda não se apercebeu do fenômeno. E por quê? Primeiro porque essa Guerra Mundial III é diferente, profunda e totalmente diferente das guerras de soldados, canhões etc. etc.; segundo porque uma das características da guerra revolucionária está nessa camuflagem ou nessa invisibilidade, sem falar na malícia de certos intelectuais que é um dos principais humores do estranho, hediondo e medonho fenômeno.
Qual será a causa profunda dessa guerra? Sempre a mesma dos grandes desconcertos: temos hoje no mundo uma onda imensa de ressentimentos e temos várias oficinas onde se atiçam essas manifestações do orgulho do homem que se rebela contra e natureza das coisas, contra os imperativos da lei natural e por conseguinte contra o Homem e contra Deus. E o objetivo? O fim visado por tal movimento é paradoxal como são sempre as manifestações do orgulho. Procurando exaltar, rebaixar; procurando afirmar a plena autonomia do homem diríamos quase a a-seidade do homem, o orgulho o corrompe e o avilta. E assim, consciente ou inconsciente, o objetivo procurado pelo inimigo de Deus e do gênero humano é a subcivilização do sub-homem, ou da antipessoa como já tem dito Nélson Rodrigues. Os agentes mais conhecidos dessa guerra revolucionária eram, até poucos anos atrás, as várias formas do socialismo, e mais especialmente o comunismo. Qualquer pessoa de bom senso sabe hoje que o comunismo foi uma sinistra patacoada que matou cerca de 100 milhões de homens entre 1920 e 1930 e que até hoje engana todo o mundo. Ainda mesmo os que lhe são contrários muitas vezes lhe concedem uma parte de verdade e de bem que não possui. Foi realmente a coisa mais burra, mais feia, e mais triste e sobretudo mais falsa e mais cruel que o homem, desde o paleolítico, inventou. E de onde vem sua enorme difusão? Vem da mentira e da porosidade de todas as mediocridades humanas. Por ela se insinua o veneno diluído no ar, e todos nós temos no sangue envenenado alguma coisa da radioatividade socialista.
Mas o liberalismo ocidental está num regime ativo de trocas e diálogos com o totalitarismo oriental, ambos apostados no mesmo rebaixamento do homem.
Uma das manifestações da guerra revolucionária no ocidente, e especialmente nos Estados Unidos, é a ruína dos costumes e mais especialmente a escalada da pornografia. A Dinamarca, que até poucos anos atrás se orgulhava de seus serviços públicos, de sua densidade de bicicletas, e da qualidade dos produtos laticínios, orgulha-se hoje de sua exposição Pornô II e amanhã da Pornô III.
E cumpre assinalar aqui uma importantíssima característica do fenômeno. Erraria gravemente quem visse nele a mesma antiga e jocosa pornografia colegial ou só para homens. Aquele fenômeno, de gosto mais ou menos duvidoso, era divertido e alegre. Hoje, a Pornô é um massacre de almas e seus espectadores, pelo que já vimos em fotografias, são tristes e lúgubres como se estivessem no velório de si mesmos. O fenômeno não é somente de escala maior, é especificamente outro, e de uma extrema perversidade. E há sempre algum intelectual arejado, "avançado", para dizer alegremente que tais coisas não devem sofrer repressões e que qualquer repressão é pior do que o crime. É pena que um grupo de rapazes bem dispostos não assaltem o carro ou a casa dos ditos intelectuais munidos dos artigos que lhes permitem tudo.
Há ainda um terceiro fenômeno também mais frequente no mundo ocidental ébrio de liberalismo: o achincalhe do princípio da autoridade na família, na escola, na sociedade e na Igreja.
Finalmente, entre os principais agentes da Guerra Revolucionária está o chamado "progressismo" católico. L um fenômeno tão burro, tão feio, triste e medonho como o comunismo. E tem uma suprema perversidade: ataca a única fonte de vida, de normalidade e de dignidade que se sobrepõe a todos os interesses divididos da humanidade, e que procura o bem máximo do homem: a Igreja de Cristo, una e única, santa em sua Cabeça, em sua Alma, e em todas as almas fiéis segundo aquilo que nelas estiver desligado da carne e voltado para Deus.
Os progressistas católicos têm hoje, indiscutivelmente, a Copa Mundial da inimizade entre os homens e de fervor no rebaixamento da obra de Deus. E mais especialmente no aviltamento daquela obra-prima que Deus amorosamente arrematou no sexto dia.
Neste setor da Guerra Revolucionária assinalo os cadernos da coleção "Educação Nova" produzidos pelo famoso ISPAC e agora distribuídos nas aulas de religião de nossos colégios. Voltarei a falar detalhadamente no assunto. No momento basta citar um exemplo da nova metodologia. Num dos colégios a freira (?), conscientizada pelos sacerdotes da fenomenologia designados pela CNBB para difamar o "vago cristianismo tradicional", propôs às meninas a seguinte ideia: inventarem uma peça de teatrinho. E como se chamaria esta primeira peça? "O pai quadrado."
Ser quadrado, para os organizadores da nova metodologia catequética, é ser alguém que resiste e luta contra o figurino de Mundo Novo que querem nos inculcar. O mundo novo que querem p r o m o ver, caracteriza-se bem por estes princípios colhidos numa página onde se faz a promoção dos hippies: "colocar a liberdade antes da autoridade. Cada hippie procura ser ele mesmo. Ser hippie é ser verdadeiro, e a única maneira de ser verdadeiro é desenvolver sua própria personalidade, sendo o único juiz daquilo que nos convém. Não creio nos deveres impostos. Só se tem os deveres e obrigações que se criou (sio). Cada um tem sua felicidade, cada um sua verdade, e cada um a descobre. É preciso ser senhor do próprio destino."
Este pequeno manifesto do mais insolente e orgulhoso individualismo é hoje difundido, em péssimo português (como se vê na amostra), pela Educação Nova, obra do ISPAC que por sua Vez é obra da CNBB.