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XXVIII – Como devemos crer - Firmeza e Simplicidade


Como devemos crer

A Firmeza e a Simplicidade


Um discurso de Demóstenes – O célebre orador grego Demóstenes († 322 a.C.) falava certa vez à multidão sobre o amor da pátria. Apesar dele, acalorado, sacar toda a sua eloquência para persuadir e comover o auditório, percebeu que este não prestava nenhuma atenção: um bocejava, outro cochichava e outro ainda cochilava. Então interrompeu seu grave assunto, e começou a contar não sei que fábula do asno e de sua sombra. Acreditá-lo-eis? No auditório se fez imediatamente um grande silêncio, e ficaram todos a escutar o orador, como se ele falasse de coisas de que dependesse a sua felicidade.


Ora, é o que acontece entre muitos cristãos. Há uma coisa que deve interessar a todos, bem mais que o amor da pátria, de que falava Demóstenes: e é o amor da eterna salvação. E, no entanto, a estes se dá menos atenção do que a certas frivolidades. O que leva à salvação eterna é a Fé. Mas se possui essa Fé? Muitos a têm, mas não qual deve ser. Por isso sua Fé não é a Fé que salva. Têm-na sim, porém, demasiado atento às coisas mundanas, quase não sabem que a têm; semelhantes às montanhas que, inconscientes, contêm em suas entranhas preciosíssimos metais. Para que a nossa Fé nos possa levar à eterna felicidade, isto é, a Fé que salva, deve ter quatro qualidades, que são:


1 - A Firmeza

2 - A Simplicidade

3 - A Universalidade

4 - A Operosidade


I – Como devemos crer


1 – Firmeza


A Fé deve ser firme e inabalável. Devemos crer nas verdades reveladas mais do que nas verdades que conhecemos com a nossa razão, sabendo que a razão nos pode enganar, mas Deus não. Portanto, nem dúvidas, nem hesitações. Aprendamos dos Mártires que, à custa da vida, não se deixavam remover um só ponto da sua Fé. E o tempo dos Mártires não acabou: todo o mundo oriental dá testemunho disso.


Um pequeno mártir da Fé – Entre milhares de cristãos mandados ao martírio na Armênia, há como exemplar um menino de 12 anos. Aprisionado pelos turcos e tentado com lisonjas a apostatar da Fé em Jesus Cristo, responde resolutamente: “Não!”. Ameaçam-lhe, então, a lhe cortar uma das mãos, e ele: “Ei-la: fazei vosso mister”. Os bárbaros cortam-lhe. Depois, julgando que o menino cederia, medicam-no imediatamente e lhe dizem: “Se não queres perder a outra também, faze-te muçulmano”. “Eis a outra”, responde o cristão intrépido. Cortada também esta, fica o rapazinho mais forte do que dantes. E aqueles endemoninhados: “Cede, ou perderás a cabeça!”. “Que se vá até a cabeça, contanto que eu continue cristão!”. Os maometanos com um golpe decepam a cabeça do garoto e a alma do mártir voa como pomba ao trono de Deus. O fato é histórico e é narrado por um religioso armênio. Que exemplo de firmeza e de apego à Fé nesse querido menino!


Agora pergunto: existe tal firmeza em todos os cristãos? Quantos seriam capazes de sofrer por sua Fé, não digo o martírio e a morte, mas apenas incômodos, ignomínias e perseguições? Entretanto, isso é de se deplorar: que muitos se deixam desviar por falsos doutores; muitos são oscilantes em suas crenças religiosas; e existem até os que, cedendo às lisonjas de celerados, divorciam da Fé! Com que lucro afinal...?!


2 – Simplicidade


Devemos crer sem discussões. É o caso de discutir, quando Deus falou? Devemos ser como os filhinhos que creem em sua mãe. Jesus Cristo falou: “Se não ficardes como crianças, não entrareis no reino dos Céus: Nisi efficiamini sicut parvuli, non intrabitis in regnum Coelorum” (Mt 18, 3). “A Fé, diz S. Agostinho, não está nos orgulhosos, mas junto aos humildes”. E acrescenta: “Considera que te chamas fiel, não racional”. Quem tem estima por sua Fé, não se fia na razão que discursa, mas em Deus que revela; e quem pretende ver demasiado longe, acaba não vendo mais nada. Daí a advertência também de Alighieri:


“Homem, vos baste o guia: se a superno

Saber alevantar-vos fosse dado,

Da Virgem ao seio não baixara o Eterno.”

(Purg. III, 37-39)


Tenhamos, pois, nossa inteligência sempre submissa à obediência de Cristo, como ordena São Paulo: In captivitatem redigentes omnem intellectum in obsequium Christi (2 Cor 10, 5).


a) Ob. “Mas... certos mistérios...” dizem alguns – R. Que é o Mistério? É uma verdade superior, mas não contrária à razão. Nós não compreendemos os Mistérios da Fé, porque ultrapassam a nossa fraca inteligência. E com isto? Devíamos neles crer igualmente, apoiados na veracidade de Deus que os revelou. E não há, porventura, mistérios até na ordem natural? Todavia, sem os compreender, acreditamos neles. Nós estamos rodeados de mistérios: nós próprios somos um mistério. Quem compreende o princípio da vida? A essência íntima das coisas? O alimento que se transforma em carne, ossos, sangue? A pequenina semente que germina e vira árvore? A essência da luz? O átomo? O fogo? A eletricidade? Quantos mistérios há, que não compreendemos, e, no entanto, neles cremos? E não lhes daremos crédito também na ordem sobrenatural?


Fábula ou mistério – Um missionário narrava a um príncipe pagão as condições e os fenômenos naturais da Europa. O príncipe ouvia com atenção; mas quando o missionário lhe assegurou que no inverno a água vira gelo e tão duro que até elefantes podem andar sobre os rios, o príncipe interrompeu: “Chega! Chega! Até aqui eu te escutei, mas agora tu estás mentindo pela gorja!”. Para esse príncipe, que nunca tinha visto gelo, era este um mistério incrível. A ele se assemelham outros que dizem:


b) “Só creio no que vejo.” – R. Se isso fosse verdade, estes tornar-se-iam ridículos. Já viram todas as partes do mundo? A África, a América, a Oceania? Não. E, no entanto, creem nos historiadores que lhos narram. Viram os milhões de micróbios que vivem num pingo d’água? Não. Todavia creem nos cientistas que o dizem. Mas merecem afinal os homens mais fé que Deus?


“Já viu a sua inteligência?” – Em 1895 um rapazinho bem inteligente viajava num trem de Namur a Bruxelas, mergulhado na leitura de um livro. Um senhor a ele: “Que lês com tanta atenção?”. “Uma história interessantíssima: de um mouro que abraçou a Fé católica e recebeu o Batismo e a Comunhão”. “Mas crês tu na Comunhão e em semelhantes mistérios?”. “Sim, creio em tudo o que Deus revelou e me ensina a Igreja”. “Mas que Deus? Que Igreja? Eu, que tenho estudado a natureza, jamais encontrarei vestígio de um Deus...”. “Então o senhor não quis encontrá-Lo: porque toda flor, toda folhinha de erva, manifestam a sabedoria e a onipotência de Deus. Fez-se por si esta terra...?”. “Ah! Queres agora tu ensinar-me a mim (interrompe o senhor), tu que és um menino! Tu crês até no absurdo! Eu só creio no que vejo.”. “Perdão, mas já viu o senhor a sua inteligência?”. “É impossível!”. “Pois bem, então deve o senhor dizer que não a tem.”. O cientista se cala, enquanto os outros se riam dessa curiosa discussão.


Aqui se afirmou exatamente a palavra de Jesus Cristo: “Ó Senhor, mantivestes ocultas essas coisas aos sábios... e as revelastes aos pequeninos: Abscondisti haec a sapientibus et prudentibus, et revelasti ea parvulis” (Mt 11, 25).


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempli)

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