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XXVI – Trabalho e Estudo - Os danos do ócio



Trabalho e Estudo

Os danos do ócio


II – Os Danos do Ócio


1 – Há ociosos


Não obstante, a lei que obriga todo mundo a trabalhar, há ociosos e preguiçosos que desejariam subtrair-se a essa lei. E não é coisa nova: sempre houve ociosos. Lembrai-vos daquele homem do Evangelho, que viu na praça os desocupados e lhes disse: “Por que estais aqui todo o dia no ócio? Ide vós também à minha vinha” (Mt 20, 6-7).


Quantos ainda há que andam desocupados?! Vaguear, dormir, brincar... sim; trabalhar, estudar... não! Para eles o trabalho pesa! Mas que se ganha procedendo assim? Ouvi os bens ganhos pelo ócio.


2 – Danos Espirituais


O ócio abre a porta a todos os vícios. Diz o Espírito Santo: “De muitos vícios é mestra a ociosidade: Multam malitiam docuit otiositas” (Eclo 33, 29).


a) Primeiro que tudo: no ócio se perde o tempo, que é tão breve, fugaz e precioso. “Vai-se-lhe o tempo, e o homem já não o tem”, diz Dante (Purg. 4,9). Foge o tempo irreparável, diz Virgílio (Geórg., III). E não volta nunca mais. “Foge o tempo e jamais retorna – aos caminhos por que passou”, diz outro sábio poeta, para advertir os jovens a não perderem tempo. E a mesma advertência nos faz o Espírito Santo: “Filho, conserva o tempo: Fili, conserva tempus” (Eclo 4, 23). Oh, como choram os condenados por não terem empregado bem o breve tempo que tiveram nesta vida! Lê-se de um santo homem que, toda vez que ouvia soar as horas, suspirava dizendo: “Ai de mim! De uma hora para outra devo prestar contas a Deus!”. São Pedro Damião conta que S. Barlaão, ao chegar a tardia velhice, foi interrogado por um príncipe sobre quantos anos tinha, e respondeu: “Se conto os anos de nascido, terei 80; mas se retiro os anos perdidos na ociosidade, terei apenas 45. Os outros não valem coisa alguma”. Como se deve, afinal, ter em conta o tempo, mormente os jovens! Disse um sábio escritor: “Os jovens e os loucos imaginam que vinte anos ou vinte moedas jamais devam acabar” (B. Franklin). E acrescentava: “O tempo é o tecido de que se faz a vida”. Queria dizer que não faltará nada na vida de quem aplica bem o tempo.


b) No ócio vem, afinal, os vícios – Um solo ocioso, isto é, não cultivado, produz o quê? Sarças, espinhos e urtigas. A água que não está em movimento, como fica? Estagnada e pútrida, e dentro dela reinam répteis e insetos asquerosos. O ar confinado, e que não é agitado, faz o quê? Infecta-se e traz moléstias. O fogo não agitado, apaga-se; o ferro não aplicado, se enferruja. Assim ocorre ao coração do homem: quando o homem se entrega a uma vida ociosa, seu coração corrompe-se. Lembrarei alguns fatos da Sagrada Escritura. São tristes consequências do ócio. Eva cai em pecado, dando ouvido à serpente, porque lá estava ociosa debaixo da árvore do fruto proibido. O povo hebreu, no deserto, desconhece seu Deus, porque se dera ao ócio. Sansão manteve-se forte e virtuoso enquanto combatia os filisteus, entregando-se, afinal, à vida indolente e mole, perdeu a força e a virtude. Salomão, enquanto esteve ocupado na construção do templo, foi virtuoso; e afinal no ócio, prevaricou. Davi, ocupado nas guerras, mantém-se fiel a Deus; no ócio cede às tentações impuras e cai em gravíssimos pecados. E foi ainda por causa do ócio que os habitantes de Sodoma se entregaram a vergonhosos excessos para atraírem sobre a cidade o fogo do Céu. “Foi esta a iniquidade de Sodoma (diz Ezequiel): o luxo, a abundância e a ociosidade: Haec fuit iniquitas Sodomae: saturitas... et otium ipsius” (Ez 16, 49).


3 – Danos Materiais


Além dos danos espirituais, do ócio decorrem ainda os danos materiais: e são a miséria e a desonra. Conta Plutarco que Apeles, o mais célebre por pintores gregos (+ 324 a.C.), pintou a Fortuna de pé, e interrogado sobre o porquê, respondeu: “Porque ela não sabe sentar-se”. Queria dizer com isto (acrescenta Plutarco) que a fortuna não é feita para os poltrões, e que, para alcançá-la, em vez de sentar-se, deve-se é correr-lhe atrás. Quem não corre, isto é, quem não trabalha e não cansa, ficará sempre na miséria. E Dante diz que com o estar no ócio e a dormir não se conquistará glória, mas desonra.


Os jovens que, afinal, devem atender ao estudo, se não aplicam todas as suas forças para tirar proveito, escutai as calamidades que vão buscar. Tornam inúteis os cuidados de seus preceptores; traem a expectativa dos parentes que por eles fazem grandes sacrifícios: comem o pão sem ganhá-lo; frustram a esperança da pátria; iludem a sociedade que tem direito de possuir cidadãos úteis; depois, por causa da ignorância, acham trancado o acesso aos empregos honrosos. Assim se tornam desprezíveis aos olhos do mundo, e são condenados a uma vida de dificuldades. Eis o que significa evitar o trabalho quando se é jovem: significa topar mais tarde a miséria e a abjeção. Virá, afinal, o arrependimento, mas será inútil.


A cigarra e a formiga – Os poetas antigos contam este apólogo, que deve ensinar os homens relativamente ao trabalho. Ia uma porção de formigas ao seu formigueiro, levando grãos de trigo para a provisão do inverno, quando uma cigarra, da árvore onde estava, ao ver aquela procissão de negros insetos, começou a mofar deles: “Oh, pobres bichinhos que sois! Danai-vos todos a arrastar pelo chão cargas como jumentos. Eu, no entanto, estais vendo? Canto todo o dia, pulando de ramo em ramo”. A estas palavras ergueu-se um formigão velho e respondeu: “Canta afinal como quiseres: ver-nos-emos depois neste inverno”. Veio realmente o inverno e a cigarra, que não havia colhido nada, foi bater à porta das formigas, pedindo socorro. Mas ouviu o formigão velho responder: “Não te disse eu que viria o inverno? No verão passado, enquanto nós formigas trabalhávamos tu cantaste: pois bem, agora dança, que nossa provisão só chega para nós”.


Mas é preciso recorrer a fábulas? O próprio Espírito Santo nos diz que aprendamos a tempo das formigas, para não nos vermos mais tarde com as mãos vazias: “Vai à escola das formigas, ó preguiçoso, e considera o labor dela; e aprende a ser prudente” (Prov 6, 7). “Ela prepara no estio o seu sustento, e na época das messes recolhe o seu comer” (ib., 7). Aqueles que não fazem assim, sabeis o que acharão nas mãos? Di-lo claramente o Salmista: “Dormirão seus sonos, e nada encontrarão em suas mãos todos os homens que acumulam: Dormierunt sumnum suum; et nihil invenerunt omnes viri divitiarum in manibus suis” (Sl 75, 5).


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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