top of page

XXVI – Trabalho e Estudo - A obrigação do trabalho para todos



Trabalho e Estudo

A Obrigação do Trabalho para Todos


Um quadro esquisito – O escritor C. Schimd (+ 1854) conta haver visto numa igreja um quadro antiquíssimo, muito esquisito. Neles se viam pintados cinco figuras. 1- Antes de tudo se via um imperador com cetro e coroa, e sob ele estava escrito: “Eu vos governo a todos”. 2 – Ao lado havia um Papa com tiara e o pastoral, e sob ele se lia: “Eu ensino a todos”. 3 – Depois estava figurado um soldado com a espada ao lado, e embaixo da figura se lia: “Eu vos defendo a todos”. 4 – Ali perto estava pintado um camponês ao arado, e embaixo as palavras: “Eu vos alimento a todos”. 5 – Afinal, vinha um diabo com uma carreta, e embaixo dele havia a inscrição: “E eu vos levo a todos embora, se não cumpris vosso dever”.


Com essas figuras o que pretendia ensinar o pintor? Que no mundo todos têm deveres a cumprir: todos devem trabalhar; e se alguém descurar os seus deveres, entregando-se à madraçaria, terá na outra vida a punição eterna.


Meus caros filhos, tende também vossos deveres a cumprir, como os têm todo mundo no estado em que é por Deus colocado; também deveis trabalhar, embora ainda pequenos. Para alguns de vós o trabalho será material; para outros será atender à escola e ao estudo. De qualquer modo sempre é labor aquilo em que vos deveis exercitar mais. Ficai atentos e explicar-vos-ei:


I. A obrigação do trabalho para todos

II. Quais são os danos do ócio

III. Quais as vantagens do trabalho


I – A obrigação do trabalho para todos


1 – Como homens


Como homens somos todos obrigados a trabalhar: “O homem nasce para o trabalho, como para voar os pássaros (diz Jó): Homo nascitur ad laborem, et avis ad volatum”. É condição natural nossa a de dever trabalhar, porque a lei do trabalho já foi imposta por Deus aos nossos progenitores. Já nos primeiros dias da criação do mundo, como está dito na Sagrada Escritura, “Deus colocou Adão no paraíso de delícias, a fim de que o cultivasse e o guardasse” (Gên 2, 15). Mas esse trabalho devia ser sem pena, como um divertimento; e devia servir para preservar Adão e Eva do tédio e das tentações de caírem no pecado. Mas ai de mim! Adão e Eva pecaram e seu pecado fez mudar os desígnios de Deus. Então o trabalho se tornou um castigo que Deus impôs a Adão e a todos os seus descendentes. E eis as palavras com as quais foi aplicado esse castigo: “Tu comerás o pão mediante o suor de teu rosto: In sudore vultus tui vesceris pane”(Gên 3, 19).


Desde aquele momento o trabalho, que antes era alívio, se tornou a pena do pecado. E a essa penitência estamos todos sujeitos. É verdade que o trabalho não é igual para todos; mas dessa ou daquela maneira, cada qual deve trabalhar segundo sua condição; portanto, deve a tempo escolher o trabalho que mais convenha a seu estado. Há o trabalho manual e há também o trabalho intelectual, mas ninguém pode dispensar-se do trabalho. E vedes, afinal, como todos trabalham: o camponês, o operário, o industrial, o negociante, o soldado, o advogado, o engenheiro, o médico, o padre... cada qual em sua profissão e condição, porque o trabalho é penitência.


Um filho que não acha emprego – Um pai queria dar uma ocupação a um filho seu que tinha 14 anos. Chamando-o, perguntou-lhe o que desejava fazer. “Serei hortelão”, respondeu o filho, “assim estarei ao ar livre”. Mas poucas semanas depois, voltou ao pai, dizendo que o ofício de cavar a terra fazia-lhe subir o sangue à cabeça. “Serei caçador, assim terei mais ar livre e menos trabalho”, acrescentou. E o pai consentiu. Passado alguns dias vem o rapaz queixar-se ao pai de que levantar-se de manhã cedinho e correr pela campanha lhe prejudicava a saúde; e então disse: “Serei pescador, a vida será mais tranquila”. E o pai: “Está bem”. Mas também esse ofício não o satisfez, e tornou a vir ao pai queixando-se de que sentia frio nos pés e lhe vinham frieiras e concluiu: “Serei cozinheiro”. “Vá lá”, disse ainda o pai, aprovando. Mas quando o rapaz se apresentou de novo a ele, para dizer que também o ofício de cozinheiro não lhe agradava, porque perto do fogão ele perdia o apetite, o pai afinal perdeu a paciência e acabou por lhe dizer: “Agora chega: já experimentastes 4 ofícios, procurando 4 elementos (terra, ar, água e fogo), e por toda parte viste que se tem de sofrer; entretanto, um ofício ou outro será preciso que tu o faças, suportando os seus incômodos, porque o trabalho, em consequência do primeiro pecado, para todo mundo se tornou um dever e uma penitência”.


E tal penitência é diária e durante a vida inteira. Diz o Salmista: “Ir-se-á o homem a suas obras e a seus trabalhos até à noite” (Sl 103, 23).


2 – Como pecadores


O trabalho é, por conseguinte a pena do primeiro pecado; mas é também satisfação pelos pecados que se cometem continuamente. Nós somos pecadores: precisamos por isso de expiar os nossos pecados com um pouco de penitência, e assim satisfazer a justiça divina de Deus, se pretendemos ter dele perdão. Davi, que se reconhecia pecador, dizia ao Senhor: “Vede os meus trabalhos, e perdoai todos os meus pecados” (Sl 24, 18).


E se somos ricos? Que importa? Essa lei é para os ricos e nobres também, pois também estes são os filhos de Adão e são pecadores. Dizia S. Bernardo: “O homem nasceu para o trabalho, não para as honras”.


Carlos Magno foi um grande imperador; nem por isso descurava o trabalho; e, como pai de família modelo, quis que todas as suas filhas trabalhassem. Elas deviam atender até aos trabalhos grosseiros, como lavar, cozinhar, etc. E o imperador só usava roupas brancas e hábitos preparados por suas filhas. Com esse exemplo Carlos Magno ensinava ao povo e aos grandes que o trabalho não só não envergonhava, mas até é uma honra, como é um dever para todos.


Eu teria para citar-vos uma série de rainhas e princesas que nunca deixavam ociosas suas mãos. Julgando-se pecadoras e humildes donzelas da grande Rainha do Céu, trabalhavam com as próprias mãos no preparo de ornamentos para igrejas e altares, e de roupas para os pobres. Assim Santa Isabel, rainha de Portugal, assim Santa Cunegunda, Santa Margarida da Escócia, Santa Isabel de Hungria.


São Paulo trançava cordas, e protestava que não queria nem ouro nem prata de ninguém. Dizia ele: “Cansamo-nos, trabalhando com as próprias mãos: Laboramus, operante manibus nostris” (1Cor 4, 12); e ainda: “Vós sabeis que estas mãos têm servido às minhas necessidades e às do que estão comigo” (At 20, 34). E disse claramente que para comer cada qual o deve ganhar: “Quem não quer trabalhar, que não coma” (2Tes 3, 10).


3 – Como cristãos


Dizei-me: não somos nós adeptos de Jesus Cristo? Logo devemos imitá-Lo. Ele com seu exemplo nos ensinou a obrigação de trabalhar. Passou sua vida quase toda no labor e a se cansar, ora no ofício de carpinteiro que exercia junto com S. José em Nazaré, ora em sua vida pública, durante a qual percorria os rincões da Palestina, pregando e ensinando. E passando a noite na oração. O Evangelho diz que esses trabalhos e viagens O cansavam (Jo 4, 6). E trabalhava ele por necessidade? Não, porque, sendo Deus, como apascentava miraculosamente as turbas, podia apascentar a si próprio sem trabalho: ele tinha prontos às suas ordens milhares de Anjos. Mas, com sua vida laboriosa e difícil quis ensinar a nós o que devemos fazer. Que modelo para todos os cristãos, e de modo especial para os jovens!


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos, ilustrações ou qualquer outro conteúdo deste site por qualquer meio sem a prévia autorização de seu autor/criador ou do administrador, conforme LEI Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

bottom of page