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XVII – As Ocasiões - Os motivos



II – Os motivos


1 – A força da ocasião


Por que se deve fugir às ocasiões? Porque elas têm uma grande força sobre nós, e nós somos fracos; serão por isso a nossa ruína. Compreendeis agora os motivos? Se o demônio consegue atrair-vos à ocasião, ele se ri de todos os vossos propósitos, porque está certo de vos fazer cair em seus laços e fazer-vos escravos.


O camponês e a víbora – Um camponês, ao ceifar o trigo, cortou com a foice uma víbora pelo meio. Mas escutai o que fez depois esse bom homem. Contente com o golpe dado, apanhou a parte da víbora em que estava a cabeça, e com ar de triunfa a mostrava aos companheiros. Que nunca o tivesse feito! Essa cabeça, retorcendo-se envenenada, mordeu-lhe a mão; e o coitado, por causa dessa picada envenenada, teve de morrer.


***


Assim acontece a quem, depois de confessar, ainda se mete em ocasião de pecar. Cortou a víbora, isto é, destruiu o pecado; mas se ainda brinca com a cabeça da víbora, isto é, com a ocasião do pecado, será por este mordido, com risco de ficar eternamente perdido.


2 – Tremiam os santos ante o perigo


São Jerônimo, tão penitente e tão forte na virtude, temia as ocasiões; e quando fugia delas, retirando-se nos desertos da Palestina, dizia: “Confesso a minha fraqueza”.


Santo André Avelino quando jovem era advogado. Mas quando viu que essa carreira era para ele ocasião de dizer mentiras, deixou-a.


São Carlos Borromeu era hóspede em casa de um rico parente seu. Percebendo uma perfídia armada à sua passagem por ali, fugiu de tal casa de manhã bem cedo, e sorrateiramente, sem despedir-se de ninguém.


As religiosas de um mosteiro de Marselha, atacadas por inimigos silenciosos, vendo o perigo que ameaçava a sua honestidade, deformaram-se horrendamente os rostos, cortando-se com uma navalha o nariz e os lábios.


Todas essas campeãs de Deus, como todos os outros santos, eram bem fortes na virtude; e, no entanto, temiam as ocasiões do pecado e delas fugiam. Ora, que se deve pensar de certos jovens que não têm nenhuma virtude e vão até procurar os perigos graves de cair nos pecados?


3 – Os pretextos


Dizem eles: estaremos firmes, e não pecaremos. R.: Isso é temeridade. Diz, porém, o Espírito Santo que caireis; e a ruína, se não é hoje, será amanhã. Que diríeis de alguém que se pusesse a bailar no gelo liso? Que deseja levar um tombo por força. E se alguém com a mão apanhasse uma brasa, e pretendesse não se queimar? Diríeis: Este é doido! E se alguém se pusesse a dormir entre víboras e escorpiões, e pretendesse não ser picado? Diríeis: Esse vai buscar a morte!


Já vistes alguma borboleta em torno de uma luz? Ela gira e esvoaça um pouco; e depois? aproximando-se demais da chama acaba por ficar queimada.


Assim se dá com quem procura as ocasiões confiante em si próprio. Diz S. Bernardo: “É maior milagre não cair quando se está em ocasião, do que ressuscitar um defunto”.


4 – A experiência ensina


Existiram homens já santos que procuraram ocasião e ficaram presos no laço do demônio e se tornaram pecadores. Assim Davi, assim Salomão, assim Sansão...


E quantos jovens, que eram anjos, caíram miseravelmente e se perverteram com as ocasiões! A ruína alheia devia pôr-vos de sobreaviso. Escutai uma fábula que contavam os antigos, para nos ensinar a ficar longe dos perigos, justamente porque outros ali toparam a ruína.


A fábula do leão e da raposa – Conta a fábula que um dia o leão se fingiu de doente; e, como rei de todos os animais, convidou estes a visitá-lo em seu covil. Ali foi até a raposa. Mas quando chegou a certa distância, parou. “Por que não vens adiante?”, diz o leão. E a raposa: “Eh! Meu caro! Tu não me pilhas! Veja uma coisa que não me agrada realmente! Vejo as pegadas dos outros animais todas voltadas para dentro, e nenhuma voltada para fora. Isto é sinal de que dentre todos aqueles que entraram em teu covil, nenhum deles daí saiu mais: por isso eu te cumprimento... de longe!”.


***


Vedes? Quando se sabe por experiência que outros mais fortes do que nós, caíram na armadilha do demônio, não é loucura arriscarmo-nos a cair também nós? Isso não o faz quem tem vontade de salvar sua alma. E não vos ensina a própria experiência? Quando procurardes certas ocasiões, certos companheiros, certos lugares, não caístes?


5 – Até os animais ensinam


Os peixes que conseguem libertar-se do anzol uma vez, não os pescais nunca mais. os pássaros escapos da rede ou da armadilha, são bem avisados para não se deixarem mais pegar. Se um cavalo tivesse de cair numa passagem perigosa da estrada, por esse lugar ele não quer passar mais; e mesmo que lhe batamos para fazê-lo ir adiante, ele recusará. Os próprios animais fogem ao perigo, com medo de caírem onde caíram doutra feita.


Diz o profeta Ezequiel: “Salvar-se-ão os que fugirem; e ficarão nos montes como pombos dos vales, muito cheios de medo: Salvabuntur qui fugirint; et erunt in montibus, quase columbae convallium, omnes trepidi” (Ez 7,16).



(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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