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Sermões: 15º Domingo depois de Pentecostes (sem data)

Sermão proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.

PAX XV Domingo depois de Pentecostes (sem data)


Uma mãe que chora um filho único: eis aí a imagem mais viva, mais comovente, mais verdadeira do que é o coração de uma mãe.

A devoção ao Imaculado Coração de Maria está toda ela contida nestas palavras. Maria Santíssima é a Mãe de Deus e a Mãe dos homens. Ela nos ama como filhos únicos, como Jesus Nosso Senhor foi seu filho único.

As almas necessitam ser cuidadas uma a uma e elas custam muitas lágrimas e muito sangue, como na cruz donde jorrou sangue e água do Coração de Jesus e dos olhos de Maria Santíssima.

Eis aí o que fez e faz Nossa Senhora, que de modo misterioso apareceu chorando em La Salette, e em outras ocasiões. Nossa Senhor no Céu não pode chorar, mas ela aparece chorando para que possamos descobrir o seu coração de Mãe.

Dom Williamson passou pelo Brasil e nos falou de muitas coisas, inclusive do que é ser mãe. Hoje temos a alegria de festejar as bodas de Dona Iracema e do Sr. Antônio. Que belo exemplo de mãe, de casal que, entre tantas dificuldades, que só Deus conhece, não cederam aos princípios perversos do mundo moderno.

A sociedade moderna, sociedade liberal formatada pelos piores homens deste mundo, pelos precursores do Anticristo, esta sociedade está fazendo do coração destas mães um anti-coração. A sociedade liberal é “anti-” tudo o que Deus criou, porque a sociedade liberal é a revolta contra Deus, é a sociedade organizada em estado de pecado mortal, por assim dizer.

Felizmente, há ainda algum bom senso em muitas pessoas, mas este bom senso vai cedendo aos poucos diante da pressão dos meios de comunicação, da pressão do cinema, da televisão, das peças de teatro, da literatura, das universidades, das modas e de todas as campanhas contra a ordem natural instituída por Deus.

É entre os pontos chaves desta ordem estabelecida por Deus há o papel da mulher. “Vendo-a, diz o Evangelho de hoje, o Senhor moveu-se de compaixão”. Vendo o quê? Uma mulher que chora a perda de um filho único.

Ah! Como Nosso Senhor ama as mulheres que são verdadeiramente mães! Ah! Como tem razão Dom Williamson em insistir em que as mulheres devem ser o que Deus as fez e não se lançarem numa louca aventura contrária à sua natureza.

Há entre o homem e a mulher diferenças que Deus estabeleceu. Adão pediu a Deus uma companheira. Deus lhe disse, por assim dizer: “Cuidado!”. E Adão respondeu: “Estou sozinho demais”. “Cuidado!”, respondeu Deus. “Estou por demais só”, respondeu Adão. “Está bem, mas depois não se queixe”, disse Deus. Deus então criou Eva. Certo tempo depois, Adão veio ver a Deus e disse-lhe: “Está difícil!”. “Eu não lhe avisei?”, disse-lhe Deus. Ceio que todos estão entendendo de que se trata de uma ficção, e uma ficção britânica, mas continuemos. Adão então perguntou: “Mas, Senhor, por que a fizestes tão bela?”. “Para que você a amasse”, respondeu Deus. “Mas, Senhor, por que a fizestes tão tonta?”, perguntou a Adão. “Para que ela te amasse”, respondeu Deus.

Deixando de lado o humor inglês, vejamos o que há de doutrina aqui, pois é necessário entender a perversidade do mundo moderno e, por outro lado, a perfeição das obras divinas.

A mulher procura um homem que ela possa respeitar. A mulher, quando ela é verdadeiramente mulher, ela quer obedecer, ela quer encontrar alguém que ela possa admirar e obedecer. Quem é o chefe da Igreja? Uma mulher? Não. Por quê? Porque ao homem foi dado o raciocínio mais firme, mais capaz de traçar o rumo a seguir, mais capacidade para a justiça, para impor o que é justo. O homem, quando é homem, não é sentimental. Ele vê o que há de se fazer. Ele dá ordens. Ele vai à meta pelos caminhos mais próprios a atingi-lo porque ele foi criado para ser chefe.

E a mulher? A mulher foi criada para ser a auxiliar do homem. Ela tem o que o homem não tem, ou não tem no mesmo grau. Ela é intuitiva, ela vê não com o coração, ele é fiel nas suas afeições. Ela é a sede da misericórdia. Não se pode imaginar a fidelidade de uma mulher nas suas afeições.

Ao pé da cruz havia quatro ou cinco mulheres e um só homem. A mulher tem algo que falta ao homem. Ela tem um coração generoso e fiel. Ela é o complemento do homem. Mas o homem é o esteio. Ele é o que há de mais firme. Ele é o fundamento e a mulher é a decoração, a flor que dá graça e vida à sociedade e antes de tudo à família.

“Quando recebo meus hóspedes e lhes mostro minha casa, lá onde eles querem ir e mais desejam estar é na cozinha”, diz, mais ou menos, um provérbio inglês. E por quê? Porque na cozinha está a vida, está a mãe que prepara o alimento de toda a família, lá está a intimidade do lar porque lá está a mãe. A mulher é mulher quando ela se ocupa do que pertence à mulher, que é dar a vida.

Nosso Senhor tudo obteve para nós morrendo na cruz, mas Ele tudo confiou à Maria Santíssima que, por isso, é a Medianeira de todas as graças Assim como o pai traz o sustento para dentro de casa, mas é a mãe que o distribui aos filhos, assim é na ordem da graça entre Nosso Senhor e Nossa Senhora.

Mas retornemos a Dom Williamson. Sua visita e um artigo meu desagradaram ao Pe. Bouchacourt. É necessário, pois, dar uma explicação.

São Pedro nos pede para estarmos sempre prontos a dar a quem quer que no-las peça as razões de nossa esperança. No caso presente, não se trata de dar as razões de nossa Fé, fundamento de nossa esperança, mas de dar as razões de termos convidado Dom Williamson ao Brasil, onde ele visitou Salvador, Vitória, Maringá e Nova Friburgo, passando também pelo Rio de Janeiro. 99 crismas e 16 palestras, entre sermões e conferências. Por que esta vinda? Porque nós precisávamos dela. Precisávamos dos bispos fiéis. Assim é a Igreja fundada por Nosso Senhor. Os bispos são a Igreja docente e nós somos a Igreja discente. Nós precisamos de Dom Williamson. “Mas”, dirão alguns, “por que não pediram a permissão a Dom Fellay ou a Pe. Bouchacourt?”.

Primeiro, porque quem deve pedir permissão não somos nós – nós pedimos bispos, pedimos doutrina, pedimos sacramentos, pedimos socorro. Se alguém nos diz: “Eu vou, eu lhe socorro, eu lhe ajudo”. Nós responderemos: “Obrigado, muito obrigado’. “Mas”, continuarão os outros, “por que Dom Williamson não pediu permissão?”.

Caríssimos fiéis, os senhores seriam bem ingênuos se não soubessem que uma nuvem negra paira sobre o céu da vida da Igreja e, inclusive,  na vida da Tradição, que é a parte mais sã da Igreja, que é, na verdade, a Igreja no que ela tem de mais fundamental, que é a Fé, e de mais essencial, que é a Caridade.

“Mas o que está se passando?”, perguntarão umas dessas pessoas que vivem tão alheias das coisas humanas, que parecem viver nas nuvens e não nesta terra. A estes ilustres desconhecidos que vivem alheios a tudo, eu diria: “O que está acontecendo?”

O que está acontecendo é um drama terrível, um confronto entre duas linhas de pensamento dentro da própria Tradição. De um lado, temos aqueles que querem a legalidade, mesmo com Bento XVI. De outro lado, temos aqueles que querem a legalidade, mas só com um papa católico, não modernista e não liberal. Dos dois lados há o desejo de estar com Nosso Senhor, de obedecer às suas leis, ao menos é o que gostaríamos de poder afirmar, mas de um lado há a ilusão e do outro o realismo.

De um lado, há uma falta de integridade na Fé e do outro há, ao menos, uma Fé mais lúcida, mais íntegra, mais conforme o que recebemos de Dom Lefebvre e de Dom Antônio de Castro Mayer, que receberam de Pio XII, que recebeu de São Pio X, que recebeu de São Pedro, que recebeu de Nosso Senhor, que recebeu do Pai.

“Eu não falo por mim mesmo, mas falo o que ouvi do Meu Pai”, diz Nosso Senhor. Nosso Senhor fala o que ouviu do Pai, como nós devemos falar o que ouvimos da Igreja e é por isso que nós não queremos mudar, e ao ouvirmos e vermos o que está fazendo Dom Fellay, nos trememos de espanto. E por isso chamamos Dom Williamson, para que ele nos confirme na Fé.

Creio que ficou claro. Nós chamamos Dom Williamson porque queremos permanecer católicos, tal como aprendemos da boca de Dom Lefebvre, da boca de Dom Antônio de Castro Mayer, da boca de Gustavo Corção, da boca de minha mãe e de meu pai, que me levara à pia batismal e de meus padrinhos, Ariosto e Ada Brito de Melo, que responderam por mim às perguntas do padre:

– Que pedes à Igreja de Deus? – A Fé.

– Que te alcanças a Fé? – A vida eterna.

Foi por isso que chamamos Dom Williamson. Para guardar a Fé e obter a vida eterna.

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, diz o Evangelho.

Que a Virgem Maria, que chora sobre o estado da Igreja em nossos dias, venha em nosso socorro nesta hora de aflição. Assim seja.

Dom Tomás de Aquino O.S.B.

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