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Sermões: 11º Domingo depois de Pentecostes (2014)

Sermão proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.

PAX XI Domingo depois de Pentecostes 2014

Hoje Nosso Senhor toca os ouvidos e a língua de um surdo-mudo e o surdo-mudo começa a ouvir e a falar.

“Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”, havia dito Nosso Senhor àquela mulher que havia exclamado no meio da multidão: “Bem-aventurado o seio que te trouxe e os peitos que te amamentaram”. E Nosso Senhor responde: “Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

Eis ai, resumida, toda a vida católica: ouvir e agir. Ouvir, diz São Bento no início da Regra: “Ausculta, o fili, praecepta magistri… – Escuta, ó filho, os preceitos do Mestre.

Ora, é isto que nós fizemos desde nosso batismo. Deus abriu os ouvidos de nossa alma à sua voz pela infusão da virtude da Fé. Esta virtude ficou à espera do ensinamento da doutrina até à chegada à idade do uso da razão.

Ao chegar ao uso da razão, a alma começa a ouvir o conteúdo da Revelação, ou seja, tudo o que Nosso Senhor nos ensinou e ordenou aos apóstolos nos ensinarem e que chega até nós pelo Magistério Infalível da Santa Igreja.

Assim fizemos nós quando escutamos Dom Lefebvre repetir o que São Pio X havia dito a respeito do modernismo, o que Pio XI havia dito sobre o Cristo Rei, o que haviam dito os papas Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII sobre o liberalismo e o que disse Pio XII sobre a Nova Teologia.

Eis ai o escutar. É o primeiro passo. Escutar, receber, receber ouvindo, pois a Fé vem pelo ouvido, nos diz São Paulo. Ouvindo e lendo, pois nos dois casos a alma recebe e receber é o primeiro passo. Mas depois de ouvir é necessário falar.

O coração crê para a justiça, diz São Paulo, mas a boca fala para a salvação. O surdo-mudo agora ouve e fala. Ele não ouve somente. Ele fala e o Santo Evangelho diz que falava retamente, corretamente, “recte” em latim. Podemos concluir que ele não só articulava corretamente as palavras, mas que ele falava coisas sensatas. Mais do que isso, podemos concluir que ele proclamava os benefícios recebidos da mão de seu Salvador. Não só ele, mas todos os que estavam com ele, pois o Evangelho diz: “Ordenou-lhes Jesus que o não dissessem a ninguém; porém, quanto mais Ele o recomendava, mais eles o publicavam!”.

Faziam mal em publicá-lo? Não. Nosso Senhor lhes proíbe para nos deixar um exemplo, para que nós saibamos não divulgar nem pedir aos outros que divulguem o bem que fazemos.

Mas Nosso Senhor, apesar da proibição, não era contra esta divulgação. Muito pelo contrário, nós devemos divulgar o que Nosso Senhor fez de bem e também o que o nosso próximo faz de bem. Façamos uma aplicação ao momento presente.

Nós escutamos Dom Lefebvre dizer que “o Concílio Vaticano II foi o maior desastre da história da Igreja desde sua fundação”. Nós o escutamos, nós o compreendemos e compreendemos as razões, que são as doutrinas contrárias à Fé católica, doutrinas que podem ser chamadas de heresias, já que é doutrina contrária a de Fé de que o Cristo deve reinar sobre as nações.

Dizer que o Estado deve ser neutro em relação a Nosso Senhor é dizer que Ele é inferior à ONU, é dizer que Nosso Senhor é um partido, é uma proposta, é um programa de um partido, como os outros partidos têm outros programas. Nosso Senhor, então, é opcional e descartável.

Então, nós que ouvimos Dom Lefebvre, agora repetimos o que ouvimos da boca de Dom Lefebvre. “Eu transmiti o que recebi”, disse São Paulo, e Dom Lefebvre disse o mesmo, e nós queremos fazer o mesmo. “Nós transmitimos o que recebemos”. E recebemos de quem? De Dom Lefebvre. E Dom Lefebvre recebeu de quem? De todos os papas anteriores ao Vaticano II. Então, nós transmitimos a mesma doutrina, certos de que a palavra de São Paulo, a palavra que diz “o coração crê para a justiça e a boca fala para a salvação” se aplica a cada um de nós.

Confessar a Fé significa dar testemunho, falar o que ouvimos da parte do Magistério da Igreja. Do verbo confessar, no sentido de proclamar é que se originou o termo confessar usado na liturgia. Os santos são catalogados como mártires ou confessores.

Os mártires deram a vida pela Fé, os confessores não morreram de morte violenta, mas, em geral, sofreram porque pregaram.

Hoje na Resistência muitos padres e fiéis sofrem porque falam, falam com a boca e com os atos. Dom Lefebvre foi um confessor da Fé, os padres da Resistência o são também quando dizem não a afirmações como “aceitamos a promulgação legítima da Nova Missa”, “aceitamos o Novo Código de Direito Canônico”, “o Concílio encerra muitos erros, mas estes erros não vêm do Concílio, e sim da maneira de compreendê-lo”.

Os padres da Resistência tiveram a coragem de dizer não ao acordo, não a essas ambiguidades. Eles foram punidos, afastados e se encontram numa situação humanamente bem difícil. Estes padres não estão apoiados em nenhum apoio humano, ou quase nenhum. Estão apoiados em Dom Lefebvre e Dom Lefebvre estava apoiado em todos os papas anteriores ao Vaticano II e todos os papas estavam apoiados em Pedro e Pedro em Cristo e Cristo em Deus. Assim, Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, é nosso apoio e nossa esperança.

Que a Virgem Maria nos conceda ouvir sempre a palavra de Deus e a pô-la em prática para sermos para sempre bem-aventurados. Assim seja.

Dom Tomás de Aquino O.S.B.

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