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Homilia por ocasião da ordenação do Rev. Pe. Paul Renoult em Morannes-sur-Sarthe - França

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PAX


Mais uma ordenação, e cada vez...


Cada vez que falamos de uma ordenação, é impossível não pensar em Monsenhor Lefebvre. Que maravilha eram aquelas cerimônias, nas quais ele não apenas nos transmitia o sacerdócio – portanto, a Missa – mas também toda a doutrina que acompanha a Missa, e o combate que acompanha essa doutrina. Estas três coisas estavam sempre presentes.


Todos os que conheceram Monsenhor Lefebvre sabiam que ele estava permanentemente em estado de cruzado. Sua vida inteira foi uma cruzada, especialmente no final, após o Concílio Vaticano II, quando precisou, de maneira admirável, conduzir este combate, fundando a Fraternidade São Pio X. Ele permaneceu fiel à graça de Deus em cada etapa desse combate e nos transmitiu essa mesma chama, essa mesma ardorosa disposição para proteger e garantir a continuidade da Igreja.


Não era a sua fraternidade que ele buscava proteger a todo custo. Era mais do que isso. Certa vez, ele me disse: “Se Roma fosse capaz de formar sacerdotes católicos, eu não teria nenhuma razão para sagrar bispos. Mas Roma não é mais capaz.”


Monsenhor foi, portanto, um homem providencial, assim como Santo Atanásio foi no tempo do arianismo. Lefebvre foi o homem providencial do nosso tempo. Sua obra, com Dom de Castro Mayer, foi imensa. E, na verdade, a obra de Lefebvre foi ainda maior, pois abordou mais aspectos, mais frentes de combate.


Hoje, o que resta é uma pequena resistência, muito pequena, frágil, marcada por fraquezas e defeitos. Mas essa resistência tem uma força: a força de estar com a verdade. E ela tem razão porque busca seguir Monsenhor Lefebvre. Mesmo que, às vezes, possa falhar, seu objetivo é claro: continuar esse combate, o combate de Monsenhor Lefebvre, que alguns levaram até certo ponto — até 2012 — mas acabaram por abandonar. Outros perceberam que não podiam caminhar junto com aqueles que, de uma forma ou de outra, adotaram uma atitude imprudente em relação a Roma.


Monsenhor Lefebvre nos instruiu muito bem. Ele nos advertiu claramente: “Se nos aproximarmos de Roma agora, seremos contaminados.” E isso é verdade. É melhor ser pequeno, mas fiel ao legado de Monsenhor Lefebvre, do que ser maior e fazer certos compromissos. Alguns foram longe demais, como sabemos.


Lembro que, certa vez, os fiéis das paróquias rurais de Campos — simples camponeses — vieram até o nosso mosteiro para pedir que fizéssemos a ponte entre eles e a Fraternidade. Eles estavam bem organizados. Então, um padre da Fraternidade veio para conversar. Ele começou explicando que havia certas dificuldades, certos aspectos a serem ajustados no trabalho pastoral que eles solicitavam. Afinal, eles queriam que a Fraternidade fosse até suas paróquias, e o nosso mosteiro já os havia visitado algumas vezes nesse início da resistência.


Depois que o padre terminou de falar, um velho camponês se levantou e disse com muita clareza: “Monsieur l’abbé, o que nós queremos é doutrina.” Eles já tinham a Missa, porque Dom Rifan e seus padres celebravam a Missa. Mas... não tinham a doutrina.


Aquele homem simples continuou: “Monsieur l’abbé, o que queremos é a doutrina.” A maneira de trabalhar da Fraternidade não era exatamente a mesma dos padres de Campos, e o padre pensou que isso poderia ser uma dificuldade — afinal, as modalidades pastorais eram diferentes. Mas aquele camponês respondeu com uma sabedoria admirável. Depois, o padre me confidenciou: “Eu não esperava isso. Fiquei edificado.” Com razão! Porque não basta a Missa; é preciso também a doutrina. E não basta apenas a doutrina: é preciso defendê-la. É preciso o combate.


É isso que tanto admirávamos em Monsenhor Lefebvre: essa harmonia perfeita. Tudo no catolicismo é um bloco, uma unidade coerente. Assim como a revolução também é um bloco, o catolicismo é um bloco infinitamente mais harmônico, mais coerente, onde todas as partes se unem.


Foi isso que Monsenhor Lefebvre nos ensinou: defender, conhecer e amar essa integridade da fé. A resistência, mesmo fraca, e nós sempre seremos fracos — tudo o que é humano é fraco —, pelo menos deseja seguir Monsenhor Lefebvre.


Quando olhamos para aqueles que conhecemos nessa escola da tradição, como Dom Malaret, que escreveu excelentes artigos sobre o que é a Igreja conciliar — artigos admiráveis —, pensamos: infelizmente... Mas rezamos por ele. E nós, por nossa vez, queremos continuar o combate, tomando como modelo Monsenhor Lefebvre. É ele o modelo. Outros ajudaram, sim, mas, infelizmente, a Fraternidade tomou outro caminho. Ela começou a trilhar um outro caminho, começou a crer em outras coisas. Monsenhor Lefebvre quis adverti-los. E se ele estivesse vivo, quanta tristeza ele sentiria ao ver essas iniciativas, esses desvios!


Ele mesmo disse: “Eu fui longe demais.” E, no entanto, hoje os outros vão ainda mais longe. Que tristeza teria ele! Disso não há dúvida.


Portanto, nós, pequeninos, com todas as nossas limitações, devemos seguir Monsenhor Lefebvre. A tradição é como uma corrente, e cada elo é uma geração, é uma pessoa. Lefebvre é um elo de ouro nessa corrente. Precisamos nos prender a ele, se quisermos garantir a continuidade da tradição.


Aquele que vai ser ordenado poderá, então, celebrar a Missa — a Missa, que está acima de tudo. Ela é mais sublime que o sangue dos mártires, mais elevada que todos os louvores dos anjos. Porque tudo isso são coisas finitas. Mas a Missa... a Missa é Nosso Senhor Jesus Cristo Ele mesmo! É Ele que se oferece, que se entrega, que derrama Seu sangue e renova, sacramentalmente, o sacrifício do Calvário.


É pela fé que Nosso Senhor reina e continuará reinando. Portanto, não basta ao sacerdote apenas celebrar a Missa. Ele deve também pregar. Pregar o Cristo Rei, que reina pela cruz, que reina porque é Deus e porque é Redentor. Como Redentor, derramou Seu sangue. E é isso que faz toda a nossa força: a Missa, com a doutrina da Missa, e a doutrina dos papas que condenaram os erros modernos. Eles protegeram toda a integridade dos sacramentos, da Missa, de todo o depósito da fé.


Mas há um perigo: mesmo tendo a Missa, podemos fraquejar. Se não tivermos a doutrina, a Missa conserva seu valor infinito — isso nunca se perde —, mas sua eficácia para as almas pode não frutificar como deveria. Para bem comungar, para bem assistir à Missa, é necessária uma fé íntegra, uma fé que não seja diminuída pelas concepções modernas e pelos erros atuais.


Mesmo temas que parecem, à primeira vista, distantes — como a doutrina de Cristo Rei — estão intimamente ligados à Missa. Porque todas as doutrinas estão unidas à Missa. O catolicismo é um todo, um bloco.


Por isso, desejo aos que hoje recebem o diaconato e o sacerdócio que sejam verdadeiros filhos de Nosso Senhor. E hoje, que é a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, lembramos que ela lançou suas raízes no povo fiel — não no sentido modernista de “povo de Deus”, mas no sentido católico: nas almas que têm a fé. É nelas que ela lança suas raízes.


Peçamos que ela lance também suas raízes sobre nós, essa pequena resistência, e sobre todos aqueles que querem ser bons sacerdotes, bons diáconos. Que eles peçam, acima de tudo, que Nossa Senhora esteja junto deles, para protegê-los, para guardá-los neste mundo, para que celebrem a Missa com fé, com união a Nosso Senhor. Que não sejam apenas aqueles que oferecem, mas aqueles que também se oferecem.


Nossa Senhora nos ensinará isso, se nos colocarmos em suas mãos. Ela, que ao pé da cruz ofereceu seu Filho, saberá oferecer o sacerdote no altar, dando-lhe esse espírito de união com Nosso Senhor. Não apenas no momento da consagração, mas oferecendo-se também como vítima, junto com a Vítima.


Não é normal que nós, sacerdotes, ofereçamos a Vítima Santa — Nosso Senhor — e fiquemos de fora desse sacrifício. O verdadeiro sacerdote é aquele que oferece... e que se oferece.


Nossa Senhora também nos ajudará em tudo. Ela, que é como um exército em ordem de batalha, nos ajudará a sermos sacerdotes e diáconos combativos, que tenham espírito de cruzada, que compreendam que a Igreja — como dizia Santo Hilário — é uma Igreja santa, apostólica... e perseguida. Sempre foi perseguida, e hoje mais do que nunca: perseguida de todos os lados, inclusive por aqueles que deveriam protegê-la.


A Igreja é perseguida por Roma, porque Roma está ocupada por uma seita. Uma seita conciliar, que destruiu o que podia. Esse foi o grande erro daqueles que acreditaram ser possível negociar com esses homens. Eles não são amigos. Que Deus, na Sua misericórdia, os julgue no fundo de suas consciências, mas eles não são amigos de Nosso Senhor.


Monsenhor Lefebvre, em uma carta quando nos separamos, nos sustentou, nos encorajou. Ele disse: “Guardem a vossa justa liberdade, mas saibam que há progressistas que são inimigos do Reino universal de Nosso Senhor. Inimigos!” A seita modernista é inimiga da Igreja Católica.


Peçamos, portanto, à nossa Mãe Santíssima que nos preserve das ilusões. A ilusão é algo terrível, porque aquele que vive na ilusão faz o mal pensando estar fazendo o bem. Nossa Senhora nunca teve ilusões. Ela via as coisas com clareza. Sabia, pela Sagrada Escritura, que seu Filho seria imolado na cruz. E nunca se iludiu.


Que nós, como filhos da Santíssima Virgem, sejamos também preservados das ilusões. Que ela nos conduza no combate... e, do combate, à vida eterna.


U.I.O.G.D.

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