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  • Comentários Eleison nº 873

    Por Dom Williamson Número DCCCLXXIII (873) – 6 de abril de 2024 ALEMANHA ASSOLADA Poderia o ímpio homem moderno retornar para Deus? Se não, restará somente a vara. Estamos a ler atualmente nos (nada fiáveis) veículos de comunicação várias notícias sobre a grave situação na Alemanha, suficientes para fazer-nos pensar que algo vai muito mal por lá. E assim o é. Citamos abaixo a maior parte de uma carta privada recebida recentemente de um católico “resistente” que trabalha como engenheiro na Inglaterra e na Alemanha há cerca de vinte anos. Ele vê problemas pela frente na Alemanha, e isso é especialmente preocupante, porque desde o “Wirtschaftswunder”, o milagre econômico da década de 1950, através do qual o trabalho árduo e o talento alemães tiraram seu país das ruínas do pós-guerra, a Alemanha tem sido a potência econômica de toda a Europa; e se a economia alemã estiver passando por dificuldades, então a europeia também estará. Segue a leitura, em itálico: Por tudo o que observo acontecendo aqui na Alemanha, seja na FSSPX ou em geral, acho que eu deveria mudar-me para a Inglaterra. A Alemanha está afundando em todos os sentidos. A Inglaterra e todos os outros países da Europa provavelmente não estão muito melhores, mas o que poderíamos chamar modelo econômico anglo-americano ainda existe ali, e isso é algo que pelo menos ajuda a manter os pés das pessoas no chão, fazendo todo o possível para criar e manter empregos. Estes, porém, na Alemanha, faltarão cada vez mais com o passar do tempo, pois muitas empresas estão a abandoná-la devido aos elevados custos de energia desde que o gasoduto Nord Stream explodiu e todas as usinas nucleares foram fechadas. A Alemanha não é capaz de fornecer energia de substituição suficiente a partir de fontes solares e eólicas para compensar a perda de gás russo, pelo que os preços da energia continuarão a subir. Além disso, a Alemanha depende da gentileza de outros países europeus para importar energia, o que não pode ser um acordo de longo prazo. Em suma, a Alemanha está a caminho do desastre. Centenas de milhares de alemães já deixaram seu país e continuam a fazê-lo tão logo conseguem identificar uma oportunidade. A indústria automobilística está afundando lentamente, mas mais rápido à medida que o tempo passa. Parece que a Alemanha evaporará dentro de alguns anos, a menos que as pessoas voltem a viver em cavernas com o mínimo de sustento. Tudo isso pode parecer demasiado pessimista, mas tenho olhos para ver e ler o que está a acontecer aqui. Por exemplo, uma vez que certas indústrias são fechadas, elas desaparecem definitivamente, não voltam nunca mais, tanto quanto se pode prever, devido à falta de mão-de-obra experiente e ao esforço excessivo necessário para reconstrui-las, e assim por diante. Tenho a impressão de que o que está acontecendo em nível espiritual é semelhante ou paralelo a essas coisas que acontecem no plano material, inclusive no caso da FSSPX: a fé está desaparecendo, e uma vez que desapareça não voltará mais. Em geral, menos da metade da população alemã professa atualmente alguma fé cristã. A observação de “Arsênio” nos “Comentários de Eleison” de 2 de março (868) foi muito esclarecedora ao expor que, humanamente falando, não vê mais a FSSPX como a ponta de lança da Fé da Igreja, como o foi de 1970 a 2012. Essa queda eu chamaria curso da natureza. Devo admitir que eu mesmo cheguei a segui-lo, pois não havia percebido quão graves são as suas consequências... Essas interessantes observações mostram Deus agindo. De alguma forma, Ele deve impedir que uma multidão de europeus se lance no Inferno, já que graças à prosperidade materialista deles, é para lá que se dirigem neste momento (Ver todo o Capítulo VIII de Deuteronômio). O próspero homem moderno está convencido de que não precisa de Deus. Mas as consequências disto inevitavelmente cairão sobre ele. E uma coisa é certa: somente a perda de um gasoduto duplo não será suficiente para fazer com que uma multidão de homens recupere seu bom senso. Kyrie eleison.

  • XXX – O Respeito Humano - Uma solene insensatez

    O Respeito Humano É uma solene insensatez O retórico Mário Vitorino – No século IV ensinava eloquência em Roma o célebre retórico e gramático africano Mário Vitorino. Era pagão, mas o entusiasmo pelos estudos o levou a leitura do Evangelho, cuja doutrina, em que ele via certa harmonia com a filosofia platônica, lhe tocou o coração de sorte tal que ele se fez cristão. Habituado, porém, em aplausos do patriciado, envergonhava-se de confundir-se com o povo, e abstinha-se das igrejas e das práticas religiosas; e a um companheiro, que lho censurava, respondia, quase caçoando: “São, porventura, as paredes que fazem os cristãos?”. Mas veio o momento em que ele se envergonhou de sua covardia: quando leu no Evangelho a sentença de Jesus Cristo: “Se alguém se envergonhar de mim diante dos homens, eu me envergonharei dele” (Mt 10,33), fez este raciocínio lógico: “Se o tornar-me cristão é infâmia, por que me torno? E se não é infâmia, por que me envergonho?”. E diante de uma multidão de gente comovida, fez sua profissão de fé, lendo em voz alta do Credo dos Apóstolos. Essa coragem manteve-a ele afinal enquanto viveu, praticando abertamente a sua religião; e na perseguição de Juliano, o Apóstata, renunciou à cátedra, mas não à sua fé. *** O respeito humano ou o medo de mostrar-se cristão, do qual a principio deu prova Vitorino, é ainda a chaga que em nossos dias arruína tantas almas, mormente jovens. Para que esse mal não pegue em nenhum de vós, demonstrar-vos-ei que é: 1 - Uma solene insensatez 2 - Uma negra traição I – O respeito humano é uma solene insensatez 1 – O mundo fala Eis o grande espantalho que impede a muitas pessoas mostrarem-se cristãs. O mundo fala? Deixá-lo falar. Pode-se pretender-lhe tapar a boca? Façais o que quiserdes, o mundo falará sempre. Se fordes à Missa, a prédica, aos Sacramentos, dirá o mundo que sois carolas; se frequentais os espetáculos, os divertimentos, os bailes, dirá que sois levianos. Se uma jovem é retraída, é uma selvagem; se anda pelas ruas, é uma namoradeira. Se alguém poupa o que é seu, é um avarento; se tem mãos abertas é um irrefletido. Não é assim? O mundo quer sempre dizer alguma coisa. Quem lhe pode tapar a boca? Pretendê-lo seria uma insensatez. 2 – Em que se temem os mexericos Nos interesses temporais? Não. Por certo não se deixa de fazer um bom contrato, nem se deixa escapar um bom lance da sorte por causa dos mexericos da sociedade. Nesses casos faz-se o que convém, sem ligar nem a quem fala e nem a quem ri. Aliás, muitos não se preocupam com as críticas do mundo nem quando tem motivo de envergonhar-se... E se alguém lhes previne que o povo fala de sua conduta incorreta, respondem: “Que me importa o que diz o povo?”. Em que, afinal, se temem os mexericos? Nas coisas da alma. Se se trata de fazer a Páscoa, de ir à Missa, de observar a lei de Deus... aí, sim, tem-se medo: no resto se é franco e cioso da própria liberdade. 3 – E quem é esse mundo, cujas críticas se temem? São, por ventura, os bons? Não. Estes até vos louvam e vos admiram se vos mostrais francos na prática da religião. São os mais ajuizados dentre os mundanos? Também não: estes, afinal, sabem apreciar as virtudes embora não as pratiquem. Quem são então os que fazem críticas e zombam? Às vezes são ignorantes; mas em geral são homens sem honra e sem estima, os quais não querem ver na boa conduta alheia a sua própria condenação, e dos quais teríeis vergonha de serdes amigos. E destes, procurar-se-á a estima? Temer-se-á o desprezo? Não vedes que isso é insensatez? 4 – O próprio mundo condena a covardia Os mundanos são cegos consigo próprios, mas tem os olhos abertos sobre os demais. Acreditais que não vejam a covardia de quem quer agradar a Deus e ao mundo, e que como uma ventoinha se dobra a todos os ventos? Sim, veem-no: porque gostam de tê-lo como objeto de seu escárnio. Se às vezes fingem aplaudi-lo, depois pelas costas, zombam dele, chamando-o homem sem caráter e sem convicções. Não: os próprios mundanos não estimam os semi-cristãos que pretendem servir a dois senhores. 5 – O mundo respeita e admira a virtude Mostrai-vos francos e leais, e o próprio mundo respeitar-vos-á; professai publicamente vossa fé, sem desmenti-la com a conduta, e o mundo será coagido a admirar a vossa virtude. Fará suas tentativas para esmorecer-vos; mas, quando vos vê intrépidos aos seus assaltos, entrega as armas, reconhece a vossa superioridade, transforma em admiração as suas zombarias. O Rosário de um estudante - Num colégio militar de Paris havia um bom rapaz cuja mãe, viúva de um general, lhe havia dado como preciosa lembrança de um Rosário. O rapaz frequentemente o recitava, embora no meio de uma turba de colegas descrentes. Certa noite não encontra ele mais o rosário, mas recita igualmente a sua oração. Na manhã seguinte, levanta-se um barulho dos diabos entre os colegas que haviam achado o rosário. E um deles, mais desabusado, assim desafia o colega que o tinha perdido, a que o vá buscar: “Quem o capuchinho que anda com rosário? Que dê um passo avante o imbecil!”. E entrementes pendura o rosário nos ramos de uma árvore. Aí dá um passo avante o rapaz e exclama francamente: “Esse rosário é meu, e vós, mais ímpios do que o incréu Volney, que numa tempestade do mar sacou do Rosário para rezar, zombais de mim afinal; mas ficai sabendo que me glorio de rezar o rosário. Glorio-me com os maiores personagens e guerreiros: Luís XIV, Carlos V, Henrique IV, Afonso de Portugal, Carlos de Borgonha, Daniel O’Connell, em valorosos soldados da Vendéia, que Napoleão chamou de gigantes, os quais no campo de batalha marchavam com o rosário na mão. Sabeis que este rosário pertence ao general meu pai, cujo valor jamais alcançareis!”. E um oficial, espectador da cena, batendo às costas do rapaz lhe disse alto: “Bravo! Vós que tão corajosamente sabeis defender vossa religião, também habilmente sabereis um dia defender a pátria”. Vedes como trata o mundo? Estima os que o desprezam, e desprezam os que o temem. E eis a grande insensatez do respeito humano: por querer fugir às críticas do mundo, vai-se ao encontro do seu desprezo! (Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino, no original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

  • Ressurreição

    Por Gustavo Corção, publicado n’O Globo em 01 de abril de 1972 PONDERA bem, ó alma de minha alma o incerto traçado de nossa vida, linha torta, irregular, e sobretudo quebrada. Pondera e considera bem, ó alma de minha alma, a miséria extrema de nossa condição: com os olhos do espírito abertos para a visão do infinito, com a boca da alma aberta para o bem supremo, que fazemos nós de tão preciosos dons? Vivemos apenas o minuto que passa, o presente que nos estraçalha, nos pulveriza e nos permite que um ou dois grãos desse pó tenha frêmitos de amor e deslumbramentos de inteligência. Logo passa o fugaz relâmpago, e o átomo de vida dá lugar a outro átomo que já o empurrava com impaciência. E TODO esse aparatoso caminhar só nos leva à mesma terra de onde viemos; ao mesmo pó, e ainda querem alguns que nos consolemos com a ideia da grama que verdejará e da rosa que se ruborizará com a decomposição do corpo que vida afora nos carregou. Não sei se alguém haverá que se conforte com tal espécie de ressurreição. Eu não. DIZ o poeta máximo: Destarte a vida em outra fui trocando: Eu não, mas o destino fero e irado, Que eu, inda assim, por outra a não trocara. TAMBÉM eu por outra não trocara a minha pobre vida. E tu também. E todos. Nossa vida é o que somos; nossa pessoa é nossa vida passada no crivo das horas e dos dias. Queremos ser o que somos ainda quando vorazmente corremos atrás do que não somos. Triste sorte, mísera condição: queremos uma integridade, e vivemos instantes, instantâneos fotografados nas pupilas que nos espionam com uma fatigada curiosidade. Mísera sorte, estranha condição. Experimente, leitor, folhear um álbum de retratos: ali estão instantâneos, pontos de vida. Observa este sorriso e aquele gesto de mão ou de corpo inteiro. Tudo isto, no cinema seria um quadro. E o cinema é mais compassivo do que a vida porque repete o quadro com as pequenas variações estáticas que, na hora da projeção, nos devolvem a continuidade móvel que devorou o gesto. Ephemères, dizia Mauriac de todos os personagens que não tivessem a eternidade de sua infância em Malagar; ephemère, terá pensado Toulouse Lautrec quando pintou a figura de um noceur que se despregava de outros ephernères, e ficou com a mais fugaz atitude eternizada na tela. VAN GOGH, escrevendo a seu irmão, queixava-se de tudo, e blasfemava liricamente, inocentemente, dizendo, com sua autoridade de genial artista, que este nosso mundo "est un monde mal venu". Mal acabado, mal feito. E o pobre pintor da pura luz emancipada das substâncias da terra não sabia que nessa carta desesperada escrevia a seu modo um ato de esperança. "Et pourtant, M. Vollard, la nature est si belle!". dizia Cezanne. E são justamente esses que acham tão bela a natureza. São justamente os capazes de ficar uma hora a admirar a imobilidade de uma pétala de rosa, ou a mobilidade de um inseto cravejado de pedras preciosas. São precisamente as almas mais abertas para o conhecimento e para o amor, são justamente os mais apurados que sentem o que lhes parece ser a má feitura de mundo, e que acham intolerável a simples ideia da vida ser esse disparate, ou essa longa frase sem sentido, que a morte interrompe sem por isso lhe trazer maior nexo. Ao contrário, descontadas as enfáticas e grandiosas exceções, a morte vem sempre ou quase sempre acompanhada de um cortejo de mau gosto e de macabro ridículo. *** “O MEU Reino não é deste mundo", disse Nosso Senhor categoricamente, e disse-o justamente a um personagem que representava o Reino deste mundo, e preveniu-nos, no último dia em que esteve conosco em sua primeira vinda, de que por isso seríamos odiados pelo "mundo". Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos que por derrisão entrou no Credo, foi crucificado, morto e sepultado. E ressuscitou no terceiro dia como anunciara, aleluia! aleluia! E SE tudo isto foi um sonho que tantos e tantos sonharam, e pelo qual deram a vida, e se agora acordados num planeta estéril e hediondamente povoado de máquinas ridículas vemos que foi apenas um sonho dentro de um sonho, então... então, se o Cristo não ressuscitou, nós somos as mais desgraçadas criaturas, não apenas pela morte que nos espreita e espera, mas pela morte que passa a ser a própria linha com que se cose a vida. "Madame, vous sentez la mort", disse Henrique II, de França, a Catarina de Médicis nas vésperas do massacre de São Bartolomeu. SE O Cristo não ressuscitou para abrir o caminho de nossa ressurreição, nós somos todos "mal venus", e todos nós temos cheiro de morte. AO CONTRÁRIO, ressuscitando Cristo, como nos dizem a Fé e a Esperança, então não é somente o morto do último lance de vida que se erguerá, é toda a vida, são todos os malogros, todos os sofrimentos desta longa vida que ganharão sentido e forma harmoniosa, porque foi principalmente por esse crivo que imitamos o Cristóvão que se carrega a si mesmo e nos carrega todos para a terra dos ressuscitados, aleluia. E QUANDO galgarmos à margem oposta, antes de vermos descortinada toda a paisagem do Novo Mundo, podemos lançar um último olhar para trás: e então será a tênue luz de um Círio Pascal que nos desvendará os desconcertos do mundo, e que nos dirá o sentido que teve, e que ainda tem na eternidade, cada áspero momento que agora nos parece absurdo e incompreensível. Veremos a dor de nossa vida como um rastro de luz. E À MEDIDA que clarear a primeira aurora do mundo novo entenderemos melhor a esperança dos santos: onde abundou o pecado superabunda a graça; e onde bruxuleou a Fé resplandece agora a luz da Glória.

  • Comentários Eleison nº 872

    Por Dom Williamson Número DCCCLXXII (872) – 30 de março de 2024 A RESSURREIÇÃO DA RÚSSIA Os sinais de esperança ao nosso redor estão todos extintos? Não! Os sinais de Deus na Rússia são bastante distintos! Segue o conteúdo resumido e adaptado de uma página de um artigo publicado recentemente por Alexander Dugin, um dos principais pensadores da Rússia de Putin, que mostra como a luta da Rússia deverá passar agora para o campo de batalha dos corações e das mentes, para afastá-los do vale da morte comunista e liberal. E assim o será. Nossa Senhora está agindo no povo russo. Quando o comunismo entrou em colapso na Rússia, no final da década de 1980, foi o liberalismo que assumiu como ideologia dominante. Desde 1991, praticamente todos os princípios fundamentais estabelecidos na educação, nas humanidades e na cultura tiveram uma base estritamente liberal. O liberalismo chegou à Rússia como o domínio das minorias liberais pró-Ocidente, os “reformistas”. Essa elite liberal, composta por oligarcas, uma rede de agentes de influência americanos, e altos funcionários corruptos do final da era soviética, governa através de métodos totalitários. Ela age em nome do progresso e da globalização, e acredita que o capitalismo é o auge do desenvolvimento humano. Hoje, isto inclui a ideologia de gênero e a ecologia. Crê que apenas a minoria liberal “iluminada e desperta” (woke) sabe o que é “certo”. Assim, as minorias progressistas devem governar, e o resto da população deve ser mantido estritamente sob controle. A ascensão de Putin ao poder no início dos anos 2000 mudou a situação ao introduzir o princípio da soberania com uma diversidade de nações soberanamente independentes, o que é totalmente negado pelo dogma liberal. O liberalismo exige que os estados nacionais soberanos sejam abolidos e integrados numa estrutura supranacional de governo mundial. Portanto, com a chegada de Putin, o embate era inevitável, e as minorias liberais mais radicais opuseram-se a ele. No entanto, muitos liberais decidiram adaptar-se a Putin, conformando-se exteriormente, enquanto interiormente continuavam a seguir um rumo liberal como se nada tivesse mudado. Assim, Putin conseguiu assinar o Decreto 809 sobre valores tradicionais (diretamente oposto à ideologia liberal), acrescentar disposições sobre a família normal à Constituição, mencionar Deus como o fundamento imutável da história russa e proibir os movimentos LGBT como sendo extremistas. Não obstante, o domínio liberal na Rússia permanece. Penetrou tão profundamente na nossa sociedade que continua a reproduzir-se nas novas gerações de gestores, funcionários, cientistas e educadores, apesar do curso soberano de Putin. Portanto, embora Putin seja a nossa principal esperança de libertação da dominação liberal, o garante da vitória na Operação Militar Especial na Ucrânia e o salvador da verdadeira Rússia, no entanto, a maioria daqueles que atualmente parecem amigos de Putin não está realmente do seu lado. A seita liberal totalitária não pensa em renunciar às suas posições. Está disposta a lutar por elas até o fim. Não teme nem as forças patrióticas na política, nem o povo, nem Deus (ou não creem n’Ele ou acreditam no próprio deus dela, decaído). Só Putin lhe põe freio, e ela não ousa enfrentá-lo. Assim, a Rússia precisa de concentrar-se na vitória na Ucrânia. Putin vê isto com sobriedade e clareza: sem a vitória na Ucrânia, não há Rússia. Mas derrotar o Ocidente fora da Rússia e ao mesmo tempo preservar a onipotência totalitária dos liberais dentro da Rússia é simplesmente impossível. Enquanto o liberalismo prevalecer nos corações e nas mentes, até a vitória na Ucrânia será mais aparente do que real. A Rússia não pode estabelecer-se como uma civilização enquanto estiver impregnada de liberalismo em suas formas mais tóxicas. É por isso que é hora de abrir outra frente: no campo da ideologia, da visão de mundo e da consciência pública. A dominação totalitária dos liberais na Rússia – principalmente nos domínios do conhecimento, da ciência, da educação e da cultura – tem de acabar. Kyrie eleison.

  • Comentários Eleison nº 871

    Por Dom Williamson Número DCCCLXXI (871) – 23 de março de 2024 LATIM e GREGO A boa educação não é algo difícil de encontrar. O que já foi testado e comprovado? Latim e Grego. O valor dos clássicos pré-cristãos na educação católica é um assunto que gera alguma controvérsia. Por exemplo, um famoso católico antiliberal do século XIX, Monsenhor Gaume, argumentou que os autores clássicos em latim e grego seriam demasiado impuros para serem utilizados nas escolas católicas. Mas isso nos parece um exagero. Para fins de educação no nível natural, há demasiado valor real nos clássicos latinos e gregos para que sejam absolutamente rejeitados. Os clássicos gregos e latinos são produtos de homens inteligentes e sérios que pensaram muito sobre a vida, e que apresentam, pelo dom de Deus, muitas verdades sobre a vida e a natureza humana. É verdade que as impurezas estão espalhadas por toda parte, mas não são a peça central, e sim um elemento secundário. Um exemplo notável seria a Eneida de Virgílio, que mantém um nível moral tão elevado, que foi amplamente consultada no auge da Idade Média por sua visão elevada da vida. Em suma, a sociedade cristã é sobrenaturalmente superior à sociedade dos antigos clássicos, mas essa antiga sociedade clássica é muito superior, naturalmente, à degenerada sociedade moderna. Sob a perspectiva da educação, é especialmente fácil defender a superioridade integral do latim e do grego, em oposição a uma educação nas línguas modernas ou nas ciências modernas. Uma boa educação proporcionará disciplina para os corações e as mentes dos jovens, cultura para as suas almas, e história para as suas vidas. Somente o latim e o grego fornecem as três coisas; o latim fornece a prática dos fundamentos, e o grego fornece a teoria. DISCIPLINA: O latim é uma língua extremamente lógica, que exige muita reflexão para desemaranhar: sujeito, verbo, objeto e assim por diante. Também há disciplina na aprendizagem da Matemática, Física, Química, Informática e Tecnologia, etc., mas tudo o que há ali é material, determinado, não humano, precisamente e orgulhosamente abstraído de tudo o que é espiritual, livre ou humano. E o que os jovens já não aprendem na escola, nem com os avós, nem mesmo com os pais, têm de encontrar na sarjeta, fornecido por Hollywood, pela Internet, em seu smartphone, etc. É sorte se eles tiverem ao menos um treinador esportivo que seja humano! No deserto espiritual de uma educação “científica”, quanta influência benéfica um simples treinador pode ter... CULTURA: Quando se trata de educar e formar os corações e as almas dos jovens (corações e almas que eles têm, com necessidades imperiosas), então as “ciências” mencionadas acima são simplesmente inúteis, enquanto as línguas modernas são uma segunda opção, porque toda a modernidade desde a “Reforma” e a sua cultura estão mais ou menos manchadas pela apostasia, pela guerra contra Deus. É claro que as culturas latina e grega não estão livres do pecado original, mas estão singularmente livres da Reforma e de todas as suas consequências, apresentando uma visão mais simples e pura dos fundamentos da natureza e da vida humana. São, assim, uma grande ajuda na formação dos jovens. HISTÓRIA: As culturas latina e grega estão inscritas na história de toda a civilização ocidental, e já é bastante tarde para que a cultura de qualquer outra língua alcance o mesmo. O latim e o grego foram duas das três línguas pregadas na Cruz de Nosso Senhor. O grego foi a língua do Novo Testamento. Roma rapidamente se tornou o centro da Igreja. “A história é a mestra da vida”, diz um velho e sábio provérbio, e aprender latim e grego é necessariamente aprender um pouco da história grega e romana. Em 1984, George Orwell escreveu: “Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. Portanto, quem controla as nossas escolas hoje, controla o nosso futuro. E essas pessoas estão atualmente trabalhando arduamente, desconsiderando o latim e o grego, fazendo com que a história comece com a Segunda Guerra Mundial, o que é muito mais facilmente manipulável do que lidar com a história antiga. O que isso nos diz sobre a educação moderna? Algo que não é nada bom: ela está formando ovelhas para o Anticristo. Kyrie eleison.

  • XXIX – As Más Leituras - As Desculpas

    III – As Desculpas 1 – Não me prejudico com isso R. “Leio e depois esqueço” Numa conversação se discorria sobre o dano que acarretam os livros e jornais maus. Uma senhora exclamou: “Mas não sinto nem entusiasmo nem frieza; leio afinal por curiosidade: depois esqueço logo o que li”. Uma jovem de espírito, que estava presente: “Minha senhora, observou modestamente, saberá dizer-me o que foi que jantou uns 15 dias atrás?”. “Oh! Não!”. “Não obstante isso, tal comida a nutriu, não é verdade?”. Todos admiraram a sábia observação; e a senhora, confusa, não soube o que lhe replicar. As leituras são o alimento do espírito, e quando são más alguma infecção na alma deixam-na sempre: será infecção oculta e lenta, mas capaz de produzir estragos e ruínas. 2 – Leio certos romances... mas que mal há nisso? R. A oferta da leitura ao Crucifixo Um dia se apresentou a um velho missionário uma jovem. Pela atitude e pelas expressões dela, o Padre conheceu que lidava com uma leitora de romances. “Vós ledes romances?”, disse-lhe. “Sim, mas que mal há nisso?”. “Pois bem, sabeis que devemos prestar contas a Deus de todos os nossos atos?”. “Eu o sei”. “E sabeis ainda que os atos indiferentes (o trabalho, o sono, o passeio, o comer...) se tornam agradáveis a Deus quando a Ele são oferecidos?”. “Sei também isso”. “Ora, pois, oferecei a Deus também as leituras de romances. E fareis vossa oferta assim: ajoelhada aos pés do Crucifixo direis: Meu Senhor Jesus, quero agora ler um romance, isto é, quero encher meu espírito de fatos fantásticos, de imagens sedutoras, de sentimentos de amor sensual; e tudo isso à vossa glória, e para merecer o Paraíso”. “Mas Padre... pode-se fazer essa oração? Não é uma ironia...?”. “Ah! Logo a consciências vos diz que vossa leitura não é inocente. Mas dizei a verdade: foste outrora mais devota do que recentemente?”. “Sim, Padre!”. “Éreis outrora mais séria, menos apegada à moda e ao mundo, mais retraída, mais frequente aos Sacramentos, não é verdade?”. “Sim, Padre!” “E não líeis romances naquela época?”. “Não, Padre!”. “Basta isso!”, concluiu o homem de Deus. A leitora de romance estava convicta, e ao piedoso missionário não se tornou difícil realizar a conversão daquela alma. 3 – A Igreja é rígida demais: Ela quer manter ignorante os povos R. É falsa essa acusação A Igreja deseja também o progresso: deseja-o e promove-o, bem feliz ao ver sábios e ilustrados os seus filhos. O que a Igreja não quer é a falsa ciência, entremeada de erros, de mentiras e de corrupção. Aliás, vinte séculos de história não se cancelam com uma simples acusação. 4 – Queremos aprender R. Muito bem. Mas para aprender, por ventura, faltam livros bons? Não há Tratados, Histórias, Contos, Aventuras, Revistas, Jornais de boa índole e incensuráveis, dos quais se pode tirar assim o útil como o agradável? Quase sempre não é o amor da ciência que induz a remexer a lama. Não são as inclinações da águia que bate as asas no alto, no ar puro, mas sim do abutre que na sombra desce à carniça, atraído pelo faro... Aprender! O quê? Nos livros e jornais maus aprendereis a duvidar das verdades da fé, a seguir caprichos e paixões inomináveis, a estragar a inteligência e o coração, a perder a alma por toda a eternidade. 5 – Nós lemos o mau, mas também o bom. R. Muitos livros bons quase sempre não reparam o estrago de um só livro mau. O doutíssimo cardeal S. Roberto Belarmino († 1621) disse ao poeta dramático G. B. Guarini, a propósito de sua comédia “O Pastor Fiel”: “Senhor Cavaleiro, creio que fizeste mais mal com o vosso livrinho, do que o bem que eu tenho feito com todos os meus volumes in-fólio”. 6 – Não temos má intenção Deseja-se, então, imitar a loucura de Nero que, para pescar o peixinho, usava um anzol de ouro, com o risco de perdê-lo. Que importa excluir a intenção má, se é certo o perigo da ruína? 7 – Nós temos juízo: vamos adiante se se encontra o mau R. Isso é falso e temerário. Falso porque quase sempre o erro está escondido; temerário, porque a ocasião faz ler até aquilo que se deveria pular. Que diríeis de um homem que pusesse no colo uma víbora, embora com precauções para que o não mordesse? “Quem ama o perigo, nele perecerá: Qui amat periculum, in illo peribit” (Eclo 3,27). Conclusão Precauções nunca são demais. A salvação de nossa alma já se acha em contínuo perigo por muitas razões. Não se exponha ao perigo gravíssimo das más leituras! Nas Índias há uma planta de bela folhagem, de perfume suavíssimo, mas ai do viajante que repousa sob a sombra desta árvore! Não despertará nunca mais! O perfume é um envenenamento mortal! Semelhante a essa planta são as leituras más! Ficai longe desse fatal perigo! São Luis Gonzaga, ao topar um dia um desses livros detestáveis que corrompem a inteligência e o coração, imediatamente o jogou ao fogo; depois correu para lavar as mãos, encarando-as como contaminadas, só por terem tocado aquela imundície. Eis o exemplo a imitar. Ao fogo os livros, as revistas, os jornais maus! Mesmo que tenham valor, belas vestes, forma elegante! Quando Deus proibia aos israelitas que adorassem os ídolos, não lhes permitia nem que os mantivessem em casa. Jamais se coopere de modo algum com a má estampa, pois seria fazer-se cúmplice do assassínio de irmãos. E cada qual deve ir logo aos fatos, se quer prover à salvação de sua alma. (Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino, riginal La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

  • Comentários Eleison nº 870

    Por Dom Williamson Número DCCCLXX (870) – 16 de março de 2024 PUTIN e FÁTIMA “Ei, a Rússia está longe de ser perfeita!” Sim, de fato. Mas pouco a pouco ela está a libertar-se. Desde o dia 06 de fevereiro, comentaristas de todo o mundo têm comentado a entrevista histórica de duas horas que o Presidente Vladimir da Rússia concedeu ao conhecido jornalista americano Tucker Carlson. O conteúdo dela apareceu bastante resumido nestes “Comentários” da semana passada (n. 869, 9 de março), onde apresentava principalmente a visão russa da escalada desde 2014 até o início das hostilidades entre a Ucrânia e a Rússia em fevereiro de 2022. Desde então, ouvimos falar frequentemente da cifra de mais de meio milhão de soldados ucranianos mortos pelas armas de alta precisão e pelas habilidades de combate dos russos. É toda uma geração de viúvas e órfãos. O que todos esses pais e maridos estavam fazendo quando entregaram suas vidas? Homens sãos normalmente não sacrificam suas vidas por uma ninharia. É por isso que tantas guerras são guerras religiosas, embora nos tempos modernos não pareçam que o sejam. Assim, as duas Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945) representaram os restos da Cristandade tentando resistir ao triunfo do substituto ímpio da Cristandade, que é o comunismo. Logo após o triunfo da Revolução Comunista de Lenin em São Petersburgo e Moscou na Rússia em 1917, Lenin fundou o Komintern na Rússia para servir como a agência central quase missionária do comunismo, que trabalhava em conjunto com vários dos principais bancos do mundo para espalhar o comunismo por todo o mundo. Na verdade, estamos na presença de quatro messianismos. O primeiro é o da raça eleita, os judeus que foram especialmente escolhidos e dotados para preparar a humanidade e proporcionar o berço humano dentro da humanidade para permitir que o único e verdadeiro Messias realizasse a Redenção através da Sua Cruz e da Sua Igreja até o fim do mundo. O segundo messianismo é o único messianismo verdadeiro, o da Igreja Católica, que é o cumprimento integral do Antigo Testamento pelo envio de almas humanas ao Céu que já vem ocorrendo ao longo de pouco mais de 2.000 anos. O terceiro messianismo é o dos judeus talmudistas, seguidores de sua escritura pós-bíblica – e não mais do Antigo Testamento que conhecemos, que tem o próprio Deus como autor –, o “Talmud”, produzido pelo homem para substituir o Antigo Testamento mesmo, já que em cada página deste se menciona de várias maneiras Nosso Senhor Jesus Cristo que virá, e, para a raça que O crucificou, Ele não deve ser mencionado, e muito menos adorado como Deus. E, por último, o quarto messianismo é o comunismo, que é um poderoso desdobramento do talmudismo, um movimento poderoso e ativo destinado a ajudar a destruir os últimos restos da decadente Cristandade, o principal messianismo concorrente que deve ser retirado do caminho do talmudismo. Assim, podem-se ver os messianismos como as molas mestras da história humana, por assim dizer: um povo messiânico; o verdadeiro Messias; o povo outrora messiânico que voltou todos os seus dons por orgulho ferido contra o verdadeiro Messias; e consequentemente todos os tipos de movimentos pseudomessiânicos ao longo de vinte séculos, todos eles lutando para impedir a salvação das almas, como bem compreendeu São Paulo, mesmo logo após a crucificação e ressurreição de Nosso Senhor mesmo (I Tes. II, 16). Quanto aos russos, são certamente um povo religioso, como demonstrou a sua atitude em relação à pseudorreligião anticristã do comunismo. Mas, em Fátima, Nossa Senhora predisse que a Rússia desempenharia um papel essencial na cura da impiedade das nações de hoje, e, com certeza, Roma pode não ser construída em um dia, como diz o provérbio, mas depois de 72 anos de sofrimentos terríveis sob o comunismo (1917–1989), a Rússia aprendeu a lição e está voltando para Cristo. Leiam Solzhenitsyn. Deus não perdeu o controle. Ele fez com que os ucranianos pagassem um preço muito alto por terem escolhido confiar nos talmudistas, que controlam totalmente os americanos, mas foi a escolha deles mesmos. Se alguém precisa da ajuda de Deus, que prefira a vontade d’Ele. Kyrie eleison.

  • Combatamos o bom combate

    Por Gustavo Corção, n’O Globo em 06–01–1973 NA ALOCUÇÃO GERAL de 04 de novembro p.p. o Papa voltou a falar "na influência que o demônio pode exercer sobre os indivíduos, sobre as comunidades, sobre toda a sociedade e todos os acontecimentos", e acrescentou que essa influência "deveria constituir um importante capítulo da doutrina católica, capítulo que mereceria ser novamente retomado, mas (infelizmente) hoje nada se faz nesse domínio". Na continuação o Papa lembra "que o cristão deve ser militante, deve estar alerta, ser forte e recorrer aos exercícios ascéticos para afastar certas incursões diabólicas". OBEDECENDO a essa mobilização, que o Papa deseja ver mais ativada, trago aqui uma pequena contribuição, e começo por lembrar que o termo "militante", detestado por todos os secularizantes ou "progressistas", mereceu especial ênfase no Concílio de Trento, que assim se expressou: "Na Igreja há duas partes, uma que se chama triunfante, e outra que se chama militante". A primeira é a Igreja do céu, chamada triunfante porque constituída por todos os lutadores que triunfaram do mundo, das malícias da carne e do demônio. "Militante é a Igreja da Terra, que move uma guerra sem tréguas aos mais cruéis e diligentes inimigos, o mundo, o demônio e a carne." Até aqui o Papa e o Concílio de Trento reafirmam os ensinamentos de Jesus e de toda a Tradição católica. Antes de qualquer consideração tecida em torno dessa lição, convém lembrar o sentido que aí têm os termos "carne" e "mundo". O PRIMEIRO não quer designar simplesmente a parte corpórea do composto humano, não pretende a Igreja apontar o corpo ou a sensibilidade como inimigos do homem. O termo "carne", tirado da dialética paulina, que opõe "viver segundo o espírito", a "viver segundo a carne", como também ensinam Santo Agostinho (Cidade de Deus, XIV, II e III) e Santo Tomás (IP IIae. qu. 72, a.2, ad primum), não significa a parte corpórea do homem; significa o homem todo quando pretende viver segundo si mesmo (vivere secundum seipsum), isto é, quando pretende ser ele mesmo o supremo e até único juiz de seus atos. Digamos que o termo "carne" nesse contexto significa a malícia do amor-próprio, que em todos nós é o ponto nevrálgico exposto a todas as tentações. E o mundo? Também não deve ser tomado o termo como designando o ser do mundo, que é belo e bom; nem mesmo depois do pecado o mundo é visto como "inimigo", já que está escrito: "Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho único" (Jó, III, 6), e também: "Eu não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo" (.16, XII, 47). Não é, pois, inimigo o mundo que nos cerca, nem aprova a Igreja as filosofias de inimizade, que vêm de uma essencial inimizade entre os homens (hobbes) ou uma essencial inimizade entre as classes (Marx). Mas o mesmo evangelista duas vezes citado diz: "O mundo me odeia, diz Jesus, porque eu testemunho contra ele que suas obras são más". (Jó, VII, 7). QUAL é então o "mundo" que é nosso inimigo? É aquele, ou aquela parte do mundo que rejeita Jesus de um modo ativo e militante, é aquele mundo, ou corrente histórica, que se arma como Igreja, isto é, como anti-Igreja. Nos tempos modernos os principais componentes desse "mundo" inimigo são: o liberalismo, o marxismo, a maçonaria, e agora especialmente o chamado "progressismo". DEPOIS de bem estabelecidos os conceitos representados pelos três termos, dos quais os mais ambíguos são os que tentamos atrás definir, convém agora dizer duas palavras sobre a dinâmica da tríade maligna. DE INICIO observemos que qualquer ato humano de aversão a Deus, qualquer pecado, é sempre induzido e provocado pelos três inimigos, sem que isto anule ou atenue a terrível responsabilidade do culpado. O que sem dúvida atenua e de certo modo distribui a responsabilidade é o fato de vivermos imersos numa sociedade riquíssima de interações, mas não é a essa sociedade que daríamos o nome de "mundo-inimigo", porque nela mesma muitas influências e interações são benéficas e protetoras. SERIA então simplificada demais a explicação da atual desordem do mundo católico pela atuação de um Demônio ex-máquina que estaria desfazendo a obra maravilhosamente bem feita pelos bispos do Concílio e depois do Concílio. E ainda será simples demais a explicação que mostra nos evidentíssimos desvarios dos senhores bispos, sobretudo quando se reúnem, numa direta e predominante influência de Satanás. SEM dúvida oportuníssimo lembrar aos homens as potestades do mal que querem a ruína de nossa Igreja; mas é indispensável mostrar que essas forças malignas se valem, para nos perder, dos aliados que têm em nós: a nossa vontade orgulhosa e o "mundo" ou anti-Igreja que os homens formam para contestar o senhorio de Deus. E parece-me até que nos tempos presentes não é Satã o mais esquecido inimigo. Na verdade o que é mais esquecido nestes tempos de todas as concessões, de todos os pacifismos, é a ideia de haver um mundo nosso inimigo, ou até a ideia ainda mais simples de haver inimigos. A maior vergonha e tristeza de nossos dias, para a consciência católica, não é apenas a "genuflexão diante do mundo" assinalada por Maritain, mas as especialíssimas genuflexões diante de "mundo-inimigo", do "mundo que nos odeia por ódio a Cristo." O MAIOR triunfo do Demônio, na batalha a que assistimos, é o do processo de secularização, de horizontalização ou de dessacralização e sobretudo o processo de marxização, com o qual se tenta encobrir um enorme movimento de apostasia sob a denominação de progressismo ou de aggiornamento. Creio poder afirmar, sem receio de exagero, que o maior descaso cometido hoje no mundo católico não é o que minimiza a ação do Demônio; é antes o que corteja o mundo em todas as acepções, e prosterna-se com especial fervor diante daquele mundo inimigo. O maior escândalo do século, e talvez de toda a história da Igreja, é o açodamento com que os bispos e padres se metem a tratar da agropecuária, do desenvolvimento econômico, de Política com minúscula e maiúscula. E nesse açodamento — para máxima vergonha nossa! — tomam o vocabulário, os trejeitos, os tiques e os critérios das teorias e ideologias inventadas e praticadas com o objetivo principal de apagar na Terra os últimos vestígios dos pés e das palavras de Jesus. UM DOS primeiros corolários do mandamento de amor é o de combater o bom combate. Esse combate começa no nível de nosso amor próprio. A Igreja e os autores espirituais nos dão todas as armas para combater os levantes do eu e para combater as tentações do demônio, mas a verdade é que no momento atormentado que, vivemos hoje, muitos, muitíssimos católicos se sentem completamente desamparado diante do inimigo "mundo' porque veem diariamente seus próprios pastores a incensar o "mundo" e a inventar novas modalidades de flagelar Nosso Senhor no seu Corpo Místico que é a Igreja.

  • Comentários Eleison nº 869

    Por Dom Williamson Número DCCCLXIX (869) – 09 de março de 2024 PUTIN FALA Um homem honesto tem pouco ou nada que esconder. Mas quem pode falar assim no lado ocidental? No último dia 6 de Fevereiro, um jornalista americano famoso e decente entrevistou o Presidente Putin da Rússia, que é fortemente e constantemente denegrido pela grande mídia vil ocidental. Assim, ofereceu corajosamente a Putin a oportunidade de apresentar o seu lado da história a uma audiência ocidental. O trecho selecionado que se segue representa menos de 5% da duração original da entrevista. Após o colapso da União Soviética em 1991, foi prometido a nós que a OTAN não se expandiria para o leste. Mas de lá para cá já houve cinco ondas de expansão. Em 2014 ocorreu um golpe de Estado na Ucrânia apoiado pelos EUA. A Ucrânia iniciou uma guerra em Donbass com o uso de aviões e artilharia contra civis. Eles criaram uma ameaça para a Crimeia, a qual tivemos de tomar sob a nossa proteção. Depois, os atuais líderes da Ucrânia declararam que não aplicariam os Acordos de Minsk, assinados em 2014, nos quais se estabelecia um plano para a solução pacífica na questão de Donbass. Mais recentemente, os antigos líderes da Alemanha e da França afirmaram abertamente que, de fato, coassinaram os Acordos de Minsk, mas nunca os levaram a sério. Se não tivéssemos reagido, teria sido uma negligência culposa. Foram os ucranianos que iniciaram a guerra em 2014. O nosso objetivo agora é pôr fim a ela. Não nos recusamos a conversar. Negociamos com a Ucrânia em Istambul em 2022, e Davyd Arakhamia, que liderou a delegação ucraniana, chegou até mesmo a assinar preliminarmente um tratado de paz. A guerra terminaria se a Ucrânia abandonasse qualquer aspiração de aderir à OTAN. Mas Arakhamia declarou publicamente que Boris Johnson, então primeiro-ministro da Grã-Bretanha, veio a Kiev e dissuadiu a Ucrânia de fazê-lo. Johnson disse que era melhor lutar contra a Rússia e não assinar acordo nenhum. Quanto à OTAN, está a tentar intimidar as suas próprias populações com uma ameaça russa imaginária. As pessoas que raciocinam melhor percebem perfeitamente que se trata de uma farsa. Não temos interesse na Polônia, na Letônia ou em qualquer outro lugar. Essas são histórias de terror criadas para extorquir dinheiro adicional dos contribuintes dos EUA e da Europa. É contra o bom senso envolver-se em algum tipo de guerra global que levará toda a humanidade à beira da destruição. A OTAN/CIA explodiu o gasoduto Nord Stream em 2022? Sim. Quem quer que tenha feito isso deve ter não apenas um motivo suficiente para destruir o oleoduto, mas também as capacidades necessárias. Deve haver muitas pessoas interessadas em acabar com o Nord Stream, mas nem todas podem ir ao fundo do Mar Báltico para realizar tal explosão. Então, porque não fazer propaganda deste crime do Ocidente? Na guerra de propaganda é muito difícil derrotar os EUA, porque eles controlam os meios de comunicação mundiais. O dólar é a pedra angular do poder dos EUA. Contudo, mesmo os aliados dos Estados Unidos estão agora a reduzir as suas reservas de dólares. Até 2022, os dólares americanos representavam aproximadamente 50% das transações russas com países terceiros, e isso atualmente caiu para 13%. Isto porque os EUA decidiram restringir as nossas transações. Penso que foi uma completa tolice do ponto de vista dos interesses dos EUA, que prejudicou a economia deles mesmos. Por que os Estados Unidos fizeram isso? Presunção. Pensaram que levaria ao colapso total da Rússia... mas nada colapsou. Uma data muito significativa na história da Rússia foi 988. Foi o Batismo da Rússia pelo Príncipe Vladimir e a adoção da ortodoxia, ou cristianismo oriental. O estado russo incorporou Novgorod (norte da Rússia) e Kiev (sul da Rússia). Havia um único território, uma mesma língua e uma mesma fé. O que está a acontecer agora é, até certo ponto, uma espécie de guerra civil. Então o Ocidente pensa que o povo russo está dividido para sempre pelas hostilidades. Mas não. Os russos voltarão a unir-se. As relações se reconstruirão. Levará tempo, mas se restabelecerão. Será que Tucker Carlson poderia agora dirigir-se aos verdadeiros responsáveis políticos do Ocidente e obter um relato igualmente aberto do seu esforço para subjugar o mundo inteiro? É pouquíssimo provável. Para começar, quem são os verdadeiros responsáveis pela política ocidental, para além dos seus fantoches públicos? Kyrie eleison.

  • XXIX – As Más Leituras - Os danos das más leituras

    II – Os danos das más leituras 1 – Filipe da Macedônia Conta-se que Filipe da Macedônia (+336 a.C.) teria um dia exclamado: “Se eu conseguir introduzir um burro carregado de ouro em qualquer cidadela aguerrida, abalo-a em seus alicerces!”. Isso afinal se podia dar, pelo grande poder do ouro. É no entanto certo que se numa casa se fizesse entrar um livro mau, bastaria isso para a abalar em seus alicerces morais, mesmo que fosse ela fortificada com todas as baterias. Quem pode calcular as ruínas que traz a má imprensa? 2 – Uma visão do Profeta Zacarias O Profeta Zacarias assim descreve uma visão sua: “Quando eu contemplava pensativo e triste as profanações do lugar sagrado, ouvi uma voz que me dizia: ‘Levanta-te’. Eu levantei a cabeça e vi um livro que esvoaçava. E a voz a mim: ‘Que vês tu?’. E eu disse: ‘Vejo um grande livro pelo ar, de vinte côvados de comprimento e dez de largura’. E aí a voz misteriosa: ‘É essa a maldição que se espalha sobre toda a terra: Haec est maledictio quae egreditur super faciem omnis terrae’” (Zac 5,1-3). *** Eis apontada a principal causa dos males que contristam a nossa época. São os abomináveis livros de escrevinhadores e romancistas; são os ímpios jornalecos e periódicos impudicos que arrastam à corrupção e ao embrutecimento as almas, mormente dos jovens, e empestam a sociedade hodierna. Os jovens, mais do que todo mundo, se ressentem do seu dano. Nessa idade em que é mais férvida a fantasia, mais forte a curiosidade, mais fácil a inflamação dos espíritos, e mais do que nunca falta a reflexão, facilmente se recorre a essas fontes túrbidas e envenenadas; e se crê em tudo, e avidamente se bebe! Quantos jovens ingênuos e inclinados ao bem que eram a esperança da Igreja e da pátria, e que deixariam gloriosos exemplos de virtude, se têm transformado no tormento da família e no escândalo dos concidadãos! Quantas donzelas educadas na modéstia e no pudor, que prometiam ser esposas fieis e mães cristãs, trouxeram a desonra à casa, se tornaram o desespero do marido e a ruína moral e religiosa dos seus filhos. Quem tem operado mudança tão funesta? As páginas ímpias e celeradas que caem em suas mãos. Um grande escritor disse: “Um livro bom faz e fará santo a qualquer um; um livro mau multiplicará aos milhares os ímpios e os devassos”. 3 – Exemplos de pervertidos Eutíquio (da Grécia) a princípio foi um defensor da religião; depois, por ter lido livros heréticos, tornou-se um dos heresiarcas mais encarniçados. Bellinger era um jovem de grande piedade e estudioso, bastou a leitura de um livro protestante para o fazer ficar mestre de corrupção e de impiedade. E. Rénan fizera seus estudos no Seminário e era ótimo rapaz. A leitura de livros incrédulos foi para ele o primeiro passo para a apostasia, na qual chegou a duvidar da divindade de Jesus Cristo. Dois rapazes em Florença, em 1886, assaltaram um cidadão, repetindo uma cena lida em romances de Ponson du Terrail. Em Decazeville os operários de uma fábrica jogaram pela janela o seu chefe para reproduzirem uma cena lida em Zola. No Tribunal de Pas de Calais foram condenados dois jovens primos, um de 18 anos e outro de 17, por terem matado com 17 facadas uma mocinha de 15 anos. Esses moços, com repugnantes cinismo, disseram perante o tribunal que a causa do assassínio tenha sido péssimas leituras. E poder-se-ia continuar com esses fatos que enchem todo dia de delinquentes os cárceres, e não pouco dão o que pensar aos jovens. Que vão ao sepulcro de tantos infelizes os escritores de livros perversos, e digam: Eis as novas vítimas! 4 – Sentenças de homens ilustres Ante os danos funestos das más leituras foram ditas palavras de ouro por homens ilustres antigos e modernos. Catão, pagão, em pleno Senado exclamava: “Livros que destroem a religião e combatem a honestidade dos costumes, não podem ser senão a ruína da sociedade e a subversão da República”. Cícero: “Romanos, deixai circular sem proibição livros dessa espécie, e vereis breve sem autoridade os Cônsules, sem poderes o Senado, rompido todo liame social, destruído o vosso império, derrubado de seus alicerces a vossa cidade”. Luís XVI, o infeliz monarca vítima da Revolução, apontando para duas publicações pestíferas, exclamava consternado: “Esses dois livros arruinaram-me a França”. Napoleão I, falando do estrago que produzem os livros perversos, chegou a dizer: “Não temerei enfrentar com as minhas falanges o inimigo que me espera; mas temo aqueles que com os livros corrompem o coração de meus soldados, os diminuem e os desencorajam”. Santo Agostinho assim sentenciava: “Com a leitura de maus livros se aprende a conhecer o mal sem horror, falar nele sem pudor, cometê-lo sem reserva”. (Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino, riginal La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

  • A invisível e silenciosa perseguição

    Por S. Exa. Revma. Dom Tomás de Aquino, O.S.B. 9 de março de 2024 + PAX A invisível e silenciosa perseguição Corção, em seu livro O Século do Nada (página 295), no capítulo III, subintitulado "A queda da França", fala de uma invisível e silenciosa perseguição religiosa naquele país, a qual, segundo ele, foi a principal causa do que Paulo VI depois chamou "autodestruição da Igreja". Isso mostra a importância que Corção dava ao que estava acontecendo na França, país onde se encontra o que há de melhor e de pior no mundo, dizia ele. Antes mesmo do Concílio, artesões de erro já direcionavam seu arsenal contra a civilização cristã e preparavam os espíritos para uma apostasia geral. Nem todos sabiam necessariamente o que estavam fazendo, mas esses desorientados estavam realizando o trabalho de destruição cujos frutos estão diante de nós. A própria guerra, a Segunda Guerra Mundial, serviu aos propósitos dos inimigos da Igreja. A França foi devastada física e espiritualmente. Uma sucessão de casos tenebrosos - Dreyfus, Revolução Francesa, Resistance, Épuration, Argélia - foi explorada pelos inimigos da Igreja, que consolidaram seu próprio reinado. Paralelamente, houve a perseguição invisível e silenciosa nos seminários, entre os padres, religiosos, etc. Essa perseguição se manifestou claramente no caso Lefebvre, o mais tenebroso de todos. Antes do Concílio, Dom Lefebvre já havia experimentado os efeitos dessa invisível e silenciosa perseguição. Os bispos franceses não lhe perdoaram o apoio público que ele havia dado à Cité Catholique e esperaram a hora da revanche. Após a morte de Pio XII, a estrela de Dom Lefebvre parecia declinar lentamente. João XXIII o destituiu de seu cargo de Delegado Apostólico e Arcebispo de Dakar. Essa perseguição à fé católica mostrou sua face no Concílio, o maior de todos os desastres desde a fundação da Igreja, como dizia Dom Lefebvre. Essa perseguição administrativa não é menos devastadora que as perseguições sangrentas. A lista dos perseguidos é longa. Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer experimentaram a fúria daqueles que os excomungaram (uma excomunhão inválida em todos os sentidos). É a Anti-Igreja que tenta matar a verdadeira, como Caim procurou e matou Abel. Mas a Igreja tem as promessas de vida eterna e de vida neste mundo, porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela. + Tomás de Aquino, O.S.B. U.O.G.D.

  • Seria de admirar

    Por Gustavo Corção n’O Globo em 11 – 01 – 1973 SIM, seria de admirar se a data da comemoração do centenário de Santa Teresinha não tivesse alvoroçado e assanhado os inimigos da Igreja. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, admirada por São Pio X, beatificada por Benedito XV, canonizada por Pio XI, é considerada a maior santa de nosso tempo. Santa Teresinha incomoda, Santa Teresinha fere, dói. Porque "a única tristeza é a de não sermos santos". E às almas humildes e pequeninas assustam um pouco os títulos que os Papas lhe dão. E até imaginamos que no céu ela mesma, por amor às almas pequeninas, peça a Deus o favor de sofrer esses títulos como coroas de espinhos. SANTA Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face foi efetivamente um exemplo vivo da mais alta experiência mística vivida e ensinada por São João da Cruz, "o doutor máximo do saber noturno e incomunicável" como admiravelmente diz Maritain. Também admiravelmente nos deixou dito o Pe. Penido que muitos se enganaram (e até difundiram uma imagem açucarada da companheira de Joana d'Arc), porque Teresinha, "por um ardil gracioso e bem feminino", soube dissimular os mais duros sacrifícios sob pétalas de rosa". ALÉM da alta estima dos Papas, e de grandes teólogos que deixaram na vida um rastro de santidade, Teresinha foi uma contemplativa abrasada de sede pela salvação, das almas. Prometeu "passar seu céu a fazer o bem na terra" e tornou-se efetivamente a doce pequenina intercessora mais solicitada no mundo inteiro. Continua a trabalhar por nós: foi Maria na terra para ser Marta no céu. ERA ENTÃO impossível que seu centenário não mobilizasse todos os inimigos da Igreja. Aqui no Brasil o porta-voz desse movimento de contestação da santidade coube à revista Manchete, que aproveitou a data para dar destaque ao Pe. Jean-François Six, que publicou recentemente um livro escandaloso, contestatório, A Verdadeira infância de Teresinha de Lisieux, com o evidente objetivo de aproveitar, a seu modo, o interesse reavivado no mundo inteiro. O REDATOR de Manchete, com uma tocante ingenuidade, diz que "o livro não surpreenderia se o autor fosse um notório herege, um inimigo declarado da Igreja Católica, mas, ao contrário, o Pe. Jean-François Six é um sacerdote da Missão de França, responsável pelo secretariado para os não-crentes; detém, pois, um posto de grande importância na hierarquia eclesiástica francesa". ESTE tópico, por sua inacreditável desinformação, basta para desqualificar toda a reportagem. Então, ainda há na revista Manchete quem não saiba que os piores inimigos da Igreja são encontrados precisamente entre os que ocupam cargos de importância? O LIVRO do Pe. Jean-François Six se propõe como uma renovação de estudos teresianos "submetidos ao crivo de métodos modernos", diz-nos E. Renault e D. Du-liscquet na revista Le Suppiement de setembro de 1972. Esses autores, com a prévia benevolência que se tornou norma preceptiva justamente numa época em que pululam grandes imposturas, começam por abrir largo crédito às "partes positivas" do esforço de pesquisa, histórica e psicológica do Pe. Jean-François Six, mas logo adiante nos advertem que não podem acompanhar todas as ideias do autor, e dizem: "O leitor atento (grifo nosso) ficará surpreso desde a Introdução, por certas afirmações categóricas, e até grosseiras, tais como qualificativo de "fazedora de anjos" aplicado à Madame Martin (mãe de Teresinha)". E acrescenta: "Esperam-se, na continuação, as provas escrupulosamente apresentadas através dos textos e dos fatos por uma análise serena e objetiva. Em lugar disto, o leitor percebe que o Pe. Six procura inculcar sua tese, custe o que custar." EM SUMA, o que se depreende da grosseira falta de objetividade do Pe. J.F.S. é o propósito de caricaturar o ambiente em que viveu Teresinha para assim, indiretamente e perfidamente, atingir a própria Santa. Para carregar as cores sinistras do ambiente da família e do próprio convento o Pe. J.F. Six faz esta revelação terrível que Manchete não poderia omitir: "A Madre Agnes (irmã mais velha de Teresinha) se correspondia com Charles Maurras, o escritor fascista, (grifo nosso) o panfletário monarquista francês que, após a Segunda Guerra, seria chamado aos tribunais pelo crime de colaboração com o nazismo." O PE. J.F.S. (e Manchete) pensam que ainda estamos em 1944, na época derrisoriamente chamada Épuration, em que bastava dizer que alguém se correspondia com Charles Maurras para ser entregue à Gestapo da Resistence que condenou e executou 120 000 franceses pelo simples fato de não quererem se submeter aos comunistas que manobraram a Épuration. Hoje já se evaporou também a tolice que apontava Maurras como um traidor da França e inimigo da Igreja. Hoje tornaram-se públicas as cartas de Maurras a Pio XI e a afetuosa carta de Pio XI a Maurras, bem como as bênçãos que lhe enviava anos antes de ser levantado o interdito que pesava sobre L'Action Française. HOJE, nós sabemos que , traiu a França, quem pregou o desarmamento total e a diminuição de horas de trabalho nas fábricas de munições, foram as esquerdas, que cerravam fileiras no governo de León Blum para destruir a França. Os discípulos de Marc Sagnier, e principalmente Emmanuel Mounier, na revista Esprit, janeiro de 1935, gritavam pelo desarmamento da França "sans arriere penseé', enquanto a Alemanha se armava febrilmente e L'Action Française gritava: Armons! Armons! ARMONS! MAURRAS foi um devoto de Santa Teresinha e foi Santa Teresinha certamente quem abriu os olhos de Pio XI sobre a ténébreuse affaire de L'Action Française. Três vezes Maurras foi a Lisieux se ajoelhar junto à urna de Santa Teresinha e três vezes recebeu bênçãos de Roma. Agora aparece-nos um Pe. Six que pelo nome deve ser parente próximo ou afastado da Besta do Apocalipse para tirar desse episódio que engrandece Maurras uma conclusão que macula e amesquinha a maior santa dos tempos modernos. *** É COM pesar que volto a falar de Santa Teresinha em termos de polêmica e de indignação contra seus detratores e seus analistas quando meu gosto, ou melhor, meu desejo, talvez irrealizável, seria o de passar meu resto de vida a falar de Teresinha, Terezona, de São João da Cruz, e a ruminar docemente as palavras do céu que esses heróis do Carmelo deixaram plantadas na Terra, para florir, e frutificar: para alegrar e nutrir as pobres almas que nesse mundo choram a tristeza de não serem santas.

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