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  • Profissão de fé

    PÚBLICA PROFISSÃO DE FÉ E RESISTÊNCIA CATÓLICA DA FAMILIA BEATAE MARIAE VIRGINIS Aos que guardam  e, mercê de Deus, querem continuar guardando a integridade do Sagrado Depósito da Fé Católica Apostólica e Romana, Pax Christi in Regno Christi: Eis que Sua Excelência Reverendíssima o senhor Monsenhor Richard Williamson, o impávido e sereno guerreiro da Fé, um dos Bispos deixados pelo heróico sangue de Mons. Marcel Lefebvre para continuar seu profícuo trabalho em defesa da vitalidade da Fé e da Santidade na Igreja, digo, este admirável Mons. Richard Williamson, foi expulso da Fraternidade São Pio X pela ainda acatada Direção Suprema da entidade, isto é, por Mons. Bernard Fellay e seu Conselho. Logo após a citada punição, chegamos ao conhecimento da serena, firme, justa e caridosa resposta que a isso deu o admirável Prelado injustiçado. O acontecimento faz recordar outro semelhante. Conta-se que, ao tomar conhecimento do ato declaratório de sua excomunhão, levado a efeito pelas Autoridades Romanas  do tempo do infeliz reinado de João Paulo II, Sua Excia  Revma. o Senhor Mons. Marcel Lefebvre teria, com justeza, declarado que o ato nada significava, já que ele nunca pertencera à Igreja Modernista, nascida do Vaticano II. Era ser expulso de uma entidade da qual nunca fizera parte. A mesma coisa, com toda propriedade, declarou o nosso injustiçado e ilustre Prelado, na carta aberta que publicou em reposta ao infeliz decreto de expulsão que recebeu de Mons. Fellay: …”esta expulsão será mais aparente que real.  Eu sou membro da Fraternidade de Mons. Lefebvre desde o meu compromisso de incorporação a ela até a perpetuidade. Eu sou um de seus sacerdotes há 36 anos. Como vós, eu sou um de seus Bispos, já há quase um quarto de século. Isso não se risca com uma canetada e, portanto, eu continuo sendo membro da Fraternidade.” “Se vós tivésseis permanecido fiel à herança dele e tivesse eu sido comprovadamente infiel, eu reconheceria perfeitamente vosso direito de me expulsar. Mas como as coisas estão ocorrendo diversamente, espero não faltar ao respeito para com vossa função, se sugiro, para a glória de Deus, para a salvação das almas, para a paz interna da Fraternidade e para vossa própria salvação eterna, que faríeis melhor em demitir-vos a vós mesmo da dignidade de Superior Geral do que me expulsar. Que o Bom Deus vos conceda a Graça, a Luz e as forças necessárias para executar um ato deste de insigne humildade e devotamento ao bem comum de todos, E agora, como muitas vezes terminei as cartas que vos tenho enviado, desde anos, Dominus tecum.“ Assim, de modo comovente, repleto de fé e caridade o admirável Mons. Williamson, o denegrido, o “marcado”, como outros têm a coragem de dizer, termina o católico monumento de sua admirável carta aberta em resposta ao infeliz Mons. Fellay. É assim que misteriosamente mas evidentemente o Bom Deus transfere o cetro da Verdade das mãos de Mons. Lefebvre para as de Mons. Richard Williamson, Eis que a Inglaterra, que no século XVI, com Henrique VIII, traiu sua Mãe, a Santa Igreja, por outro inglês, desagrava a mesma Mãe, Deus seja bendito. Diante do universal estrago com que o Catolicismo Liberal vem devastando a Igreja a começar de sua Hierarquia central, Mons. Williamson continua firmemente fiel ao sagrado legado de seu Fundador Mons. Lefebvre. O senhor Bispo continua seguindo a última determinação de Mons. Lefebvre de não aceitar qualquer tipo de acordo prático com as autoridades romanas, enquanto elas não repudiarem os erros que vêm professando e se declararem em perfeita comunhão com as condenações e advertências doutrinárias pronunciadas pelos últimos Papas anteriores a João XXIII, isto é, de Gregório XVI a Pio XII. A constante traição, levada a efeito pela Direção Suprema da Fraternidade São Pio X, nos últimos 12 anos e agora posta plenamente a descoberto em nível mundial para amigos e inimigos, e que tem, na publicação da carta de resposta de Mons. Fellay aos três outros Bispos que Mons. Lefebvre consagrou, datada de abril deste catastrófico ano de 2012, em seu texto, de importância máxima, revela o ânimo revolucionário da atual chefia da antiga Fraternidade São Pio X. O mais trágico de tudo isso é o modo com que as coisas estão sendo conduzidas, escapulindo da iminência da assinatura de um acordo prático em junho último “porque Roma não tolera mais” (D. Fellay), acordo esse à revelia das recomendações do Capítulo de 2006, celebrado pela Fraternidade, e indo em direção a uma nova tática bem mais eficiente de envenenamento ou entorpecimento geral. Assim, em vez de um acordo apressado, que acabaria dividindo a Fraternidade em duas porções distintas e opostas uma à outra, passaram através de uma mudança de aparência na cara da Direção, para um esforço que infelizmente está sendo muito bem sucedido, a conseguir acalmar os descontentes, conduzindo-os mais suavemente para rotas liberais ou semi-liberais. Contra o que seria de esperar (mistério!), os outros principais e conspícuos líderes da Resistência Católica dentro da Fraternidade, ela que era o Carro-Chefe da vitalidade católica, num todo, contra o Maligno, esses grandes líderes mostram-se tranquilos, aceitando uma convivência com os novos inimigos, já insofismavelmente desmascarados. Também aqui e ali grupos amigos, que já têm uma gloriosa folha de serviços em favor da Verdade, talvez por causa de interesses menores ainda que não destituídos de valor, vão deixando as armas, o que provoca incontestável risco de envenenamento, ao menos muito lento, além da gravidade da omissão. Proh dolor! É quase desesperador ver Bispos admiráveis calados, ou inoperantes ante o crescente sucesso da invasão interna do inimigo, pregando obediência a um chefe traiçoeiro, refinadamente  astuto, que deveria ter sido alijado do poder com seus auxiliares, por um Capítulo sadio. E isso quando todos nós já aprendemos suficientemente que a obediência tem como fundamento a Santa Vontade de Deus e isso é tão duramente real,  que já há muitos anos estamos, por causa dos direitos supremos de Deus, manifestados na Sagrada Tradição, desobedecendo até a ordens do Papa, detentor na Terra do supremo Poder,  e não percebemos que, se podemos ser forçados a desobedecer ao Papa, por nós inamovível, como não se pode desobedecer ao superior de uma congregação perfeitamente removível, em caso de verdadeira necessidade? O Capítulo de julho de 2012 teve a covardia de aprovar a ausência de Mons. Williamson e trocar a orientação do Santo Fundador, ao admitir a possibilidade de novas condições para um acordo com a Roma Modernista em vez de permanecer fiel à única condição aceitável e por Mons. Lefebvre determinada, que é a conversão da Roma Modernista à integridade bimilenar da profissão de fé na plenitude da ortodoxia católica, isto é, a Sagrada Tradição. A desmoralização em que caiu a Fraternidade, sobretudo depois do vergonhoso pacifismo com que têm se comportado grandes figuras da até então mundialmente respeitada entidade, ante as manobras, muitas delas nada veladas, do chefe e de seus mais íntimos apoiadores, levou a situação a tal estado, que mesmo que substituam D. Fellay por qualquer outro, a confiança, esse belo vaso de cristal sem fissuras, não se recuperará. Somente o surgimento de uma Reforma como no passado uma Santa Teresa fez no Carmelo, poderá começar lentamente a levantar a desmoronada obra-prima de Mons. Lefebvre. Não posso terminar sem cumprir a grave obrigação de fazer um apelo aos padres fiéis porém medrosos  que falaram e ainda estão falando anonimamente, muitas vezes com admirável acerto, contra a realização desta tragédia que caiu sobre os tradicionalistas católicos, particularmente sobre a Fraternidade São Pio X. Perdão, Revmos Senhores Sacerdotes, mas os senhores darão severas contas a Deus de vossa covardia e omissão. Esperar os chefes retardatários? Mas como não tomar a inciativa se o incêndio se alastra, sobretudo com o atual processo de erosão que só tem conseguido destruir ou imobilizar as resistências e energias? Medo de castigo? Os senhores são filhos dos mártires! Acordem! Levantem-se, nem que seja para morrerem pela Fé. De qualquer forma quero também cumprir aqui o grave dever da gratidão. Em nome da nossa pequena comunidade; das almas fiéis à Sagrada Tradição Católica; em nome da Igreja e do mundo, eu quero proclamar, o mais alto que posso a profunda gratidão a Mons. Marcel Lefebvre, a seus sábios, castos, virtuosos e zelosos sacerdotes, por sua preciosa contribuição em favor do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, e em favor da verdade. Como esquecer as visitas episcopais, as ordenações, as confirmações, o bem que fazia,  ver ainda existindo, figuras admiráveis de verdadeiros Bispos católicos, os Seminários, os preciosos e sólidos livros e revistas e particularmente para nós, os menores, a obtenção fácil de intenções de missas que os generosos fiéis encomendavam, enfim, todo o imenso bem que a obra do grande Arcebispo espalhava, impossível de ser exaustivamente aqui catalogada nem esquecida. Mons. Williamson, que evidentemente quer se salvar, não vai poder ficar omisso  perante o sinal que lhe deu o Senhor da Fé com sua expulsão. E eu espero ardentemente que todos aqueles que não dobraram os joelhos diante de Baal, adiram firmemente a ele, pois é um BISPO. Pode haver Igreja sem BISPO? Tempos duros estes nossos, mas em que o Bom Deus suscita um Bispo para conservar a Igreja. E quando, algumas dezenas de anos depois, sua obra de desmorona, o Bom Deus tem por bem, em sua admirável Providência, suscitar outro para o incansável trabalho de recomeçar, do mesmo modo como faz o indivíduo lutando contra suas próprias misérias. Nunca desanimar. Recomeçar, recomeçar, recomeçar. Que o Imaculado Coração receba de nós, cada vez mais vezes os 15 mistérios do Santo Rosário, para nos conduzir com segurança ao Coração de Seu Filho. Declaro diante de Deus, que há de me julgar, que esta pública profissão de fé, de resistência católica e repúdio à Revolução é aqui feita em meu nome  e de cada um dos membros da Familia Beatae Mariae Virginis, nossa pequena comunidade. Do mosteiro de Nossa Senhora da Fé e Rosário, Candeias, Brasil, aos 14 de novembro de 2012, memória do Martírio de São Serapião, religioso mercedário, glorioso mártir inglês da Fé Católica. Padre Jahir Britto de Souza e Irmãos. #Atualidades

  • Nosso Colégio São Bento e Santa Escolástica

    Nosso Colégio São Bento e Santa Escolástica Nosso Colégio São Bento e Santa Escolástica é dirigido pelas irmãs Rosarianas, cujo trabalho tem dado frutos de qualidade, embora o número de alunos seja ainda bastante pequeno. Tres professoras, uma das quais é uma irmá, asseguram as aulas. Duas irmãs se ocupam, uma da direção e outra do secretariado. A Escola Católica é uma das instituições mais importantes na restauração da sociedade católica. Ajude-nos a ajudar a formar verdadeiros membros da Santa Igreja e futuros companheiros dos anjos na vida eterna. Com grande generosidade as Irmãs do Instituto Nossa Senhora do Rosário fundado pelo Rev. Pe. Fernando Conceição Lopes, vieram se ocupar de nosso Colégio São Bento e Santa Escolástica. A Kombi da escola já foi comprada e abençoada. As crianças, as professoras, as irmãs e os monges agradecem a todos os que nos ajudaram a comprá-la e lhe asseguram de suas orações. Ajuda para a escola Banco: Itaú Conta: 47957-8 Agência: 0222 CNPJ 30.171.417/000188 #Irmãsrosarianas

  • Boletín No. 47

    BOLETÍN DE LA SANTA CRUZ Nº 47 JUNIO 2012 Queridos amigos y benefactores, Gracias a las hermanas del Instituto de Nuestra Señora del Rosario, nuestra escuela fue reabierta con los cinco primeros grados de la educación primaria. Ellas vienen de una comunidad de Anápolis en pleno crecimiento. Llegaron a Friburgo el 21 de diciembre. Sin perder un minuto, comenzaron los preparativos para la reapertura de la escuela. Fueron necesarias unas reparaciones, tanto de la parte administrativa como de las instalaciones, que sólo podrían concluirse con un esfuerzo continuo e intenso, ya que queríamos comenzar las clases a principios de febrero. Gracias a Dios, no hay falta de ayuda, ni por parte del Ministerio de Educación, ni por parte de los padres de los alumnos, de los amigos y de los profesionales contratados. Agradecemos especialmente la generosa ayuda de nuestros benefactores, sin la cual nada podríamos haber hecho. Nuestra escuela, por el momento, no puede cobrar las mensualidades debido a sus estatutos. Además, tenemos algunos niños, cuyos padres no pueden pagar una mensualidad igual al costo de nuestra escuela. Nuestra planilla de pago, aunque no muy alta, es mayor que nuestro ingreso actual. Agradecemos a todos los que nos puedan ayudar en este trabajo con una contribución mensual, por pequeña que sea. Una de las Hermanas desempeña el cargo de directora, otra de secretaria y una última de maestra de quinto grado, lo que facilita enormemente el funcionamiento de la escuela. Que los santos patronos del Instituto de Nuestra Señora del Rosario, Santo Domingo y Santa Catalina de Siena, obtengan de Dios, junto con San Benito y Santa Escolástica, todas las gracias necesarias para que este proyecto dé sus frutos, treinta, sesenta o cien por un, como dice el Evangelio. Dom Prior DOCTRINA El conocimiento de Dios, el sol del alma El conocimiento de Dios, cuando crece en nuestra alma, hace crecer la propia alma; este conocimiento la ilumina y la hace fecunda de buenas obras. Toda la vida racional procede, como el árbol que sale de la semilla, de dos nociones fundamentales: la noción de causa y la noción de fin. Subir de los efectos a las causas es propio de la vida intelectual, actuar para un fin, es propio de la vida moral. Ahora bien, Dios es al mismo tiempo, la causa suprema de la cual todo procede y el último fin hacia el cual todo converge. De esta doble calidad de causa y de fin, Dios preside, de lo alto de su majestad infinita, todos los actos de nuestra vida intelectual y moral. Su conocimiento es imprescindible para el desarrollo de nuestra alma. 1 – Este conocimiento de la causa suprema de todas las cosas que es Dios, es el sol de nuestra vida intelectual. Cuando hablamos de la vida intelectual, nos referimos a la vida de todos los hombres sin distinción. Jacinta de Fátima, siendo niña, tenía bien viva esta vida de la inteligencia, como se puede ver por las respuestas y consideraciones que ella hacía. Con frecuencia son las personas más simples que demuestran más sabiduría cuando consideran todo desde la luz de la fe, la cual ilumina nuestras almas. Estas almas tienen una vida intelectual llamada sabiduría. A medida que nuestra razón se profundiza en la causa universal de todo ser, se da cuenta de la armonía del mundo, de las leyes que rigen el universo, de las relaciones entre los diversos seres que lo componen, de la cadena de causas secundarias (es decir, de la acción de las criaturas) que contribuyen a la actividad infinitamente fecunda de Dios. 2 – El conocimiento de Dios en cuanto fin de nuestras acciones es la brújula de la vida moral. Dios como bondad suprema, es el fin (objetivo último) de toda criatura. Es para Dios que deben tender todos los actos de nuestra vida. Es por comparación con Dios, que juzgamos el grado de bondad de todas las cosas y por tanto, la bondad de cada una de nuestras acciones. Por eso, no debemos sorprendernos si Santo Tomás nos dice: “Lo primero que se presenta al niño cuando llega a la edad de la razón, es pensar en Dios como el fin supremo a quien todo debe ser ordenado” (Iª IIae, q. LXXXIX a. 6, ad 3um). ¿Qué pasaría entonces si el hombre estuviese en una ignorancia absoluta acerca de Dios? Sucedería que, a semejanza de los animales, no gozaría de una vida verdadera y propiamente racional. Porque, ¿qué es el hombre que actúa como ser racional, sino el hombre que es señor de su vida y la ordena a un fin? Ahora bien, ¿como podría el hombre ser capaz de determinar un objetivo a su existencia, si ignorase a Dios, que es el fin[1] de todos los seres? En este estado, su conciencia perdería la brújula y, a pesar de tener una noción confusa del bien y del mal, no podría distinguir el verdadero bien ni el verdadero mal. Nos es difícil sondear las profundidades de las tinieblas donde permanecería un alma que no conociese a Dios, precisamente por haber nacido en una sociedad cristiana, no podemos imaginar lo que sería una sociedad absolutamente sin Dios. Pero consideremos a los pueblos salvajes, cuyo grado extremo de degradación nos llena de asombro y horror. Podemos constatar ahí el obscurecimiento de la noción de Dios. Y entre estas personas la idea de Dios no despareció, sino que sólo fue alterada, materializada. Estos salvajes tienen una vaga idea de un Ordenador, de un Organizador supremo de que habla Santo Tomás.[2] Para concebir lo que sería el hombre absolutamente aislado de toda noción de Dios es necesario descender más y descender al nivel de los animales. Es por la facultad de conocer y amar a su Creador que se establece la más esencial delimitación entre el hombre y los animales. El animal instintivamente imita las obras de la razón, como construir un nido o como juntar las provisiones y dividir los trabajos, como se ve entre las hormigas. Sin embargo, el animal es radicalmente incapaz de rezar y adorar. La distinción entre el hombre y el animal está en la razón, pero es sobre todo, por el hecho de que puede elevarse a Dios mediante la oración y la adoración, que se ve toda la diferencia entre los hombres y los animales. Al contrario, cuanto más crece el conocimiento de Dios y se separa de los toscos errores, más espiritual se torna el alma y el hombre se eleva y se acerca más a los ángeles, y también la sociedad humana entra en la posesión de la verdadera civilización y la verdadera libertad. Porque no hay nada más que la verdad que nos hace libres, como lo dice Nuestro Señor. Con la predicación del Evangelio, con la difusión de la verdadera fe, se llevó a cabo, principalmente en Europa en los siglos pasados, lo que había sido anunciado por los profetas: “Las fieras, dice Isaías, ya no tienen el poder de hacer daño o matar sobre el santo monte, porque la tierra se llenará del conocimiento de Dios, como las olas de un mar desbordante. “(Isaías XI, 91). “El hombre, dice Jeremías, ya no tendrá más necesidad de enseñar a su prójimo ni a su hermano, diciéndole: “Conoce al Señor.” Pues todos lo conocerán, dice el Señor, del menor al mayor” (Jer. XXXI, 34). Ya hubo tiempos en que estas profecías fueron una realidad, o mejor dicho, cuando los hombres vivían de una manera que este conocimiento de Dios estaba presente en la vida de las naciones, como, por ejemplo, en el tiempo de San Luis, rey de Francia. Hoy en día, por desgracia, se busca establecer una educación en la que el conocimiento de Dios está ausente, o profundamente deformado. Sólo la fe nos permite conocer realmente a Dios, la verdadera fe, la virtud infundida por Dios en nuestras almas. Las religiones falsas no nos permiten conocer verdaderamente a Dios ni nos conducen a Él. Conclusión práctica: Debemos reflexionar sobre el momento solemne en que el alma del niño cuando llega a la edad de la razón, debe escoger a Dios como a su fin último. En este momento el niño toma, por así decirlo, posesión de sí mismo, y debe entregarse a Dios. Los sacerdotes, maestros, catequistas, los padres de familia, deben por medio de las clases, consejos, exhortaciones y el ejemplo, preparar este momento en que el alma del niño va a encontrarse con Dios. Con razón se da una importancia muy especial a la primera venida de Jesús en el Santísimo Sacramento en el corazón del niño. Pero también debemos dar gran importancia a este momento en que el alma del niño se tornará para Dios como a su último fin o lo rechazará, prefiriendo a la criatura en lugar del Creador. Debemos orar y ayudar a los niños para que ellos entren en la edad de la razón por medio de un acto de amor a Dios. (Texto del Rev. P. Emmanuel André, con pequeños retoques) CRÓNICA 8 de diciembre – Inmaculada Concepción Hermosa ceremonia en el Instituto de Nuestra Señora del Rosario en que cinco hermanas hacen su profesión temporal, tres postulantes reciben el velo de novicias y una hermana renueva sus votos. Dos monjes de Santa Cruz asisten a la ceremonia. 19 de diciembre Misa de séptimo día en Sao José dos Campos, por el eterno descanso del alma de María Esperanza Silva, hermana de Fray Pacífico Capuchino de Morgon (Francia). 21 de diciembre Llegada de las Hermanas del Instituto de Nuestra Señora del Rosario: Hermana María Francisca, Hermana María Teresa, Hermana María Cecilia, Hermana María de Lourdes, y las novicias: Hermana Camila, Hermana Isabel y Hermana Cristina. 24 de diciembre Llegada de los amigos de Abagé, Bahía. Grupo de jóvenes interesados en la tradición. 27 de diciembre Inscripciones para la escuela de San Benito y Santa Escolástica. Inauguran las inscripciones María Helena y Paulinho. 28 de diciembre Visita de la Sra. Meire y Suzana de Maringá, Paraná. 31 de diciembre Los monjes renuevan sus votos al final de su retiro anual. 1º. de enero Misa cantada en presencia del Prof. Juan Carlos Rosolini que se ocupa de un coro de niños en Santa Luzia, Minas Gerais. El profesor Juan Carlos está unos días con nosotros y nos da excelentes clases de canto, así como a las hermanas del Instituto de Nuestra Señora del Rosario. 4 de enero Distribución de encargos para el año de gracia 2012. Tomando como resolución de comunidad para este año el buen celo. 8 de enero Llegada de hospedes de Recife, el coronel Jessé y su hijo, Paulo. 12 de enero Llegada de Raúl de Maringá que se prepara para ir a Avrillé con otros dos amigos: Luiz Carlos y Renan, para ingresar juntos en la Orden de Santo Domingo. 23 de enero Llegada del Rev. Ernesto Cardozo que viene para las confesiones extraordinarias. 24 de enero Partida del Padre Cardozo que por la tarde nos dio una conferencia sobre los cuerpos incorruptos. Llegada del Padre Fernando Conceição así como de Luiz y Renan del grupo de Maringá. 26 de enero Partida del Padre Fernando después de ver a las hermanas y darles los consejos necesarios para que continúen con su hermosa vocación de formar las inteligencias y los corazones de los niños en el conocimiento y el amor de Dios. 14 de febrero Llegada de la Superiora de las Hermanas Rosarianas, Hermana Verónica, acompañada de la Hermana María del Perpetuo Socorro. 15 de febrero Partida de nuestros amigos de Maringá para Francia, rumbo a Avrillé. NOTA DEL MAYORDOMO Las reformas en la escuela San Benito-Santa Escolástica alegran el corazón de los niños de nuestra escuela, pero no dejan de ser un dolor de cabeza para el Mayordomo que debe garantizar los nuevos gastos. El corte de unos árboles de eucalipto nos da un poco de alivio. San José se encargará del resto, si, con su ayuda, sumamos nuestros esfuerzos constantes. A todos los que nos puedan ayudar, nuestro agradecimiento y la promesa de nuestras oraciones. Una misa se rezará mensualmente por los benefactores de nuestra escuela. Que Nuestro Señor sea la recompensa de todos nuestros amigos y bienhechores. Hno. Mayordomo. [1] Fin aquí significa objetivo, bien, pues el bien es aquello que todo ser procura y Dios es la fuente de todo bien y por tanto el fin de todos los seres. [2] El autor, que escribió este texto en el siglo XIX, diría ciertamente que nuestra sociedad actual se aproxima cada vez más de este estado de los salvajes en los cuales la noción de Dios está alterada, materializada y, lo que es peor, anulada en muchos casos. Esto explica ciertamente el porqué del grande número de adolescentes de hoy que se entregan al uso de drogas, no conociendo el fin para el cual ellos fueron criados. #Boletines

  • Como chegar ao Mosteiro

    COMO CHEGAR AO MOSTEIRO Clique aqui para visualizar o caminho VINDO DE AVIÃO I – Ao chegar no Galeão, tome o ônibus especial que sai da calçada do aeroporto e faz a ligação com a Rodoviária Novo-Rio 2 (R$2,60). II – Se o avião chegar no aeroporto Santos Dumont, procurar igualmente condução (ônibus ou táxi) para a Rodoviária Novo-Rio. 2 VINDO DE ÔNIBUS I – RIO – NOVA FRIBURGO Compre a passagem do ônibus para FRIBURGO em qualquer guichê de empresa 1001 (R$40,00) variando do horário e modo condicional, na RODOVIÁRIA NOVO-RIO.2 II – NOVA FRIBURGO O ônibus deixa os passageiros no “TERMINAL SUL” 3 , a 6 Km do centro de Friburgo 4 . III – CAMINHO PARA O MOSTEIRO ATENÇÃO! Primeira providência: compre um cartão de telefone e avise o mosteiro de sua chegada. a) TÁXI (40 min.; R$60,00) Tome um táxi defronte do “Terminal Sul” 3. Peça para levá-lo para o Mosteiro da Santa Cruz, na Janela das Andorinhas, depois de Riograndina 5. A corrida deve durar 40 min. e custa R$60,00/80,00. ATENÇÃO! Antes de entrar no carro pergunte quanto vai custar e, se achar caro, não entre. Procure outro. b) ÔNIBUS (1:20 min.; R$2,60) Tome um ônibus defronte do “Terminal Sul” 3 chamado “INTEGRAÇÃO” e salte na “RODOVIÁRIA URBANA” 4, no centro de Friburgo. Esta RODOVIÁRIA URBANA 4 é uma estação de baldeação, onde se troca de ônibus sem pagar uma nova passagem, igual a uma estação de metrô. HORÁRIO DOS ÔNIBUS: “Alto dos Michéis /Janela das Andorinhas” – 5:20h (só nos dias de semana); 7:30h (8:15h aos domingos); 11:50h; 15:50; 17:50h e 19:50h. O ônibus deixa perto da entrada do Mosteiro, para melhor detalhar o ponto de descida, poderá solicitar mais auxílio se informando ao motorista do veículo e, precisando ainda mais, aos passageiros que estiverem dentro da condução já estando na área rural. #Semcategoria

  • O Padre Vayssière O.P.: Eremita e Provincial

    Foi um puro foco de vida espiritual que se extinguiu entre nós com o Padre Vayssière, “o santo Provincial de Toulouse”, como era muitas vezes chamado na Ordem de São domingos, onde o caráter exclusivamente sobrenatural de sua personalidade era bem conhecido. As recordações aqui narradas desejariam contribuir a prolongar o efeito dessa chama que o habitava e cujo vivo calor será insubstituível. Durante os seus últimos dias, ele não via mais, em sua longa vida, senão uma seqüência de tudo o que a Virgem Santa havia feito por ele: “Tudo tem sido misericórdia na minha vida, dizia, e misericórdia de Maria”. Ele resumia esta misericórdia em três raças essenciais das quais todas as outras tinham decorrido: graça do sofrimento, graça da solidão, graça da revelação da Virgem à sua alma. Que seja permitido aos seus filhos acrescentar a esta enumeração a graça que lhe foi dada para eles, a qual chamarei a sua graça de paternidade. Sigamos esta seqüência que nos oferece a interpretação sobrenatural de sua alma e de sua vida. GRAÇA DO SOFRIMENTO Para bem apreciá-la, é preciso compreender qual foi o arrebatamento dessa alma diante da bela e rica vida dominicana. Seminarista, era vivaz, ardente e impetuoso de caráter. Compreende-se facilmente, pois sempre permaneceu assim. Havia nele uma chama. Essa chama notava-se já no Grande Seminário; o assunto habitual de sua conversação com o seu melhor amigo era a vida sacerdotal e os meios de torná-la mais perfeita. Leu um dia a vida de Lacordaire e, chegando a uma página qualquer, ouviu dentro de si um brusco apelo: “Serás dominicano”, que o determinou para sempre. Quis, portanto, tornar-se dominicano “para pregar”; nada era mais nítido no seu espírito, e foi Lacordaire que o levou após si. Entrou com esse ardor no Noviciado de Toulouse, onde foi muito aplicado no trabalho de sua perfeição e plenamente feliz: “Estou contente demais’, dizia ele com receio ao seu Padre-Mestre, e contou muitas vezes quanta consolação encontrava ao repetir sem cessar as palavras do salmo, que aplicava ao seu estado de órfão: “Meu pai e minha mãe abandonaram-me, mas o Senhor levou-me para perto de si”. Começou brilhantemente os seus estudos. Porém esse belo início de um sujeito de elite havia de tomar outro rumo. Um profundo esgotamento cerebral tornou-o de repente incapaz de qualquer trabalho intelectual. Nunca sarou completamente, e foi a cruz íntima de sua vida. “Ainda sofro disso”, confidenciava-me algum tempo antes da sua morte. Teve de fechar os seus livros e foi enviado a Saint-Maximin, onde terminou a sua preparação ao sacerdócio. O seu Padre-Mestre ali foi o Padre Colchen, religioso de grande raça, extremamente bom, mas apaixonadamente austero e pouco comunicativo. Ele que enfrentava todas as suas enfermidades para ir a matinas de noite, qualquer que fosse o seu esgotamento, julgava impossível que um tão bom religioso pudesse permanecer privado da graça de praticar as santas observâncias monásticas por falta de saúde. Ele o fez empreender um dia uma novena preparatória à festa de S”ao José, que devia consistir em levantar-se cada noite, custe o que custar. Pensava que um tal ato de fé faria um milagre. No oitavo dia da novena o pobre noviço não tinha nem a força para confessar-se. Diante desta resposta de São José, o Padre Colchen não insistiu. Seriam fechados para sempre ao Padre Vayssière tanto as observâncias como o estudo e a predicação. Assim mesmo, e embora os amasse com fidelidade, sempre insistiu dizendo que o essencial da via religiosa e dominicana não estava ali. Mas, acrescentava, o que é de fato a sua condição essencial é a abnegação, e nisto concordava profundamente com o Padre Colchen, pelo qual sempre conservou imensa afeição. Foi nesse estado de dolorosa deficiência que foi ordenado padre. Começou então em sua vida o reino cotidiano da Missa. Guarda-se gravado em si mesmo, como um belo retrato, o rosto que tinha ao oferecer o cálice no Ofertório, esse rosto erguido com a hóstia, onde se lia uma tal expressão de oblação e de fé. Era o momento onde havia nele a maior suavidade, pureza e serenidade. No momento da comunhão esse rosto parecia verdadeiramente inflamar-se. Ele dizia: “O sacerdote deve permanecer durante todo o dia o que era no altar, deve viver a sua missa, ser imolado e dado, e dando-se doar Jesus.” Mas estou aqui falando já dos seus últimos anos. Uma vez sacerdote, após colaborar algum tempo como Sub-Mestre com o Padre Colchen, foi enviado ao convento de Biarritz, onde não pôde fazer nada. “Certo dia, contava ele, eu estava na sala comum ocupado a ler jornais e também conversando com este ou aquele Padre. O Padre Provincial veio a passar e repreendeu-me vivamente… Porém que queriam que eu fizesse? Não podia nem ler, nem confessar, nem nada: eu me aborrecia.” Esse estado de deficiência física, o Padre Vayssière chegava às vezes a considerá-lo como a maior graça de sua vida. Por que? – Porque aprendeu assim experimentalmente a necessidade de aniquilar-se para que Deus reine. Foi o fato de não poder por si mesmo fazer nada do que teria desejado que o reduziu a somente apoiar-se sobre a ação de Deus. Foi sem dúvida pouco a pouco que apareceu essa luz desprendendo-se da sua provação. Mas no fim da sua vida a virtude de abandono amadurecera nele. Ou melho9r: o estado de abandono. Ele não vivia mais senão entre as mãos de Deus e da Santíssima virgem. Todos sabemos como ele se aplicava a nunca empregar nenhuma palavra que pudesse parecer colocar em nós o princípio do nosso esforço. Não dizia: amem Deus, mas: deixem-se ser amados. “O deixar fazer, é voar como pássaro rumo à santidade”. O que, mais do que tudo talvez, fez do seu estado de deficiência uma graça foi a humildade que dele hauriu. Não é fácil falar da humildade dos santos. “Na história da minha alma, diz Santa Tereza de Lisieux, há páginas que somente no Céu serão lidas”. Efetivamente, para falar bem a respeito, precisaria mostrar as misérias que Deus deixa neles, essas faltas “que não magoam o Bom Deus”, mas que os humanos estranham. Ora, os homens não conhecem o lado interior e escondido dessas diformidades, não enxergam a humildade decorrente dessa humilhação. Na alma do Padre Vayssière esta humildade era maravilhosa. Ele mesmo considerava-se apenas para admirar a graça de Deus nas mínimas coisas de sua vida. Creio que a experiência, e sobretudo a aceitação cotidiana das suas deficiências foi a grande mestra de sua humildade. Sendo Provincial, dizia: “Colocaram-me aqui, aceito-o. É para mim humilhação contínua… Porém estou feliz de fazer a vontade do Bom Deus, que abençôo por manter-me na minha pequenez”. A GRAÇA DA SOLIDÃO Ele também a chamava a graça de sua vocação madalenense. Por si mesmo certamente não teria escolhido esse destino. Quando em 1901 os seus superiores, pensando provavelmente que ele era bom apenas para rezar, e que por outro lado podiam pedir-lhe tudo, o nomearam capelão da gruta de Santa-Maria-Madalena, na Sainte-Baume, esse jovem religioso e trinta e sete anos estremeceu. Muito mais teria estremecido se soubesse que iria permanecer ali trinta e um anos. Deus tirara-lhe o estudo, as observâncias, o apostolado da palavra. Completava agora o despojamento tirando-lhe a vida em comum e a sociedade normal dos homens. A Sainte-Baume é um lugar magnífico, um verdadeiro sítio de contemplação. Não há um dominicano da Província de Toulouse que ali não tenha vivido momentos inesquecíveis e serenidade e de plenitude, no sentimento tão benfazejo do acordo entre a voz das coisas e a oração da alma. Não se poderia descrever essa vasta e pura solidão cuja alma é ainda mais impressionante do que as formas depuradas. Porém retirar-se para viver ali vem a ser uma temível provação. Os dias de inverno podem ser sinistros, a floresta nas chuvas de outono é triste e fria de fazer chorar. O planalto do “Plan d’Aups”, quando sopra o mistral, é um verdadeiro deserto áspero e desnudado. E que isolamento em cima da alta e longa crista varrida por um vento furioso! O silêncio das coisas acaba parecendo com a morte. O problema par quem por obediência tornava-se eremita era aceitar essa solidão, desposá-la, esgotar sua graça. Foi o que ele fez e eis porque tornou-se um contemplativo. Ele contou a muitos de nós como se decidiu a sua vocação. Ia se acostumando a descer todo dia até a hospedaria dos peregrinos, onde podia achar um ouço de companhia, de conversação e de jornais. Certa vez, encontrando-se numa bifurcação, teve a intuição de que não devia continuar a descer. Uma luz súbita mostrou-lhe a nulidade daquilo que ia procurar: “Que vais fazer? Distrair-te… Pois bem, não irás!” – Foi nítido como o “Serás dominicano” da sua juventude. Desta vez queria dizer: “Viverás do espírito da gruta, será um contemplativo”. Tomou o outro caminho, o da sua nova vocação. Desde aquele dia, acrescentava, nunca me aborreci”. Teve até, durante cerca de um mês, consolações abundantes: a solidão o festejava. Depois recaiu no seu estado habitual, “seca entrecortada de raios”, segundo a sua expressão. Mas permaneceu fiel. Durante muito tempo nenhum jornal penetrou na casinha junto à gruta, onde morava com o seu fiel companheiro, o Irmão Henri, que redisse o charme de sua vida em comum. Não teve outras relações exteriores que aquelas impostas pelo seu ministério, em particular com as Irmãs de Béthanie, para as quais foi um verdadeiro pai e um apoio constante, e até durante algum tempo o capelão titular. Mais tarde os peregrinos tornando-se mais numerosos, ele não deu conta de acolher todos durante a bela estação. A casa de retiros de Nazareth, por ele fundada em 1932. Mas toda a sua ação irradiava da sua solidão. A solidão tinha penetrado tão fundo na sua alma que o formou para sempre. Mesmo diminuindo pouco a pouco em volta dele, a graça dessa solidão não pôde deixá-lo. Lá tornou-se esse homem de oração e de contemplação contínua que temos conhecido. Também aqui, estou contando a história de uma árvore que somente se deu a conhecer na plena maturação de seus frutos, mas foi na gruta de Santa Maria Madalena que criou raízes. Todo o mundo se recorda da atitude que ele tinha conservado, após tornar-se Provincial, nos conventos onde voltara a habitar. Reto, grave e pacificado, sempre parecia consciente de levar Deus. Ao envelhecer tornara-se como que diáfano. Ele tão risonho, de fisionomia tão expressiva, tão móbil, não entrava no coro ou mesmo nos lugares regulares, sem o mesmo rosto que tinha no altar. Permanecia ajoelhado durante toda a sua oração que fazia imóvel e de olhos fechados. Confidenciou certo dia a um dos seus filhos o seu método de oração: “Começo renunciando a tudo o que poderia sair de mim. A seguir coloco-me inteiramente nas mãos da Virgem Santa e fico lá”. Parece que recebeu nos seus últimos dias a de vida uma luz muito nova sobre a oração de silêncio e de passividade. Tinha-se a impressão de que esta luz o libertava, mostrava-lhe a verdadeira maneira de orar pela qual toda a sua alma ansiava havia muito tempo. A quantas almas tentou comunicar essa luz! Eis o que disse um dia a uma delas: “é preciso serem contemplativos… É preciso silêncio… mas o silêncio interior, o silêncio das potências.. É preciso ir a Deus na fé pura. Antes de tudo é preciso retirar-se de si mesmo para ser atraído por Deus… Deus não é nada daquilo que é, nem está em parte alguma… É preciso ir a ele… “Sto ad ostium et pulso”… Às vezes é duro… É preciso abrir uma passagem através de si mesmo e através das criaturas. Mas notei isto: quanto mais seca a oração, tanto mais luz há durante o dia. Quanto mais há aniquilação, tanto mais atividade divina durante o dia… Quando não percebem nada dentro de si, creiam nesta palavra de Nosso Senhor: “Meu Pai e eu agimos sem cessar”… e então, nesse vazio, em frente de Deus, que faz Deus? “Deus amou tanto o mundo que lhe dá o seu Filho único”. “É o dom supremo, o dom de Deus ao homem… Há uma objeção: e a humanidade do Cristo? Mas ela não é esquecida:: passa-se por ela. Somos tomados, somos possuídos pelo Cristo. Esta união com o Pai é o cume da alma do Cristo. Somos possuídos, somos envolvidos pelo Cristo… Isto supõe um despojamento… Porém uma tal oração não é apenas um termo. É um crisol. Ela mesma despoja a alma. “Sto ad ostium et pulso’. É preciso ir a essa porta, e bater… E nós dominicanos, devemos ser contemplativos por estado, para conhecer Deus, para conhecer as almas, a nulidade de tudo e o tudo de Deus… Essas coisas não são conhecidas, não são ditas. E agora que começo a saber… vou morrer”. Ele dizia essas coisas com um rosto iluminado, um rosto de testemunha. E que energia! Esta oração de fé não era senão a concentração forçosamente momentânea de todo o seu ser, no que fazia os sentimentos habituais de seus dias. “O meu justo vive da fé”, repetia sem cessar, “vive do espírito de fé, não de modo esporádico, em certos momentos, mas em permanência… A pessoa tem fé, mas não se serve dela, julga com o seu juízo humano, e quer com uma vontade natural. “Mas crer em que? – Crer em Deus, em Deus que é amor. “O fundo do Ser de Deus é o amor. Sois amados por Deus. O seu amor é um Oceano sem orlas… é um amor eterno! O seu amor submerge-nos, abraça-nos Eis a verdade na qual devemos crer… Crer no amor de Deus em todas as coisas, como engrandece tudo!… Somos continuamente na pulsação perpétua do seu coração… Entreguem-se ao amor, eis o seu abrigo. Lá permaneçam em cada vontade que passa… Lá não há nada a temer e tudo a esperar! Não é sempre fácil… Pois Deus é um fogo devorante que consome em nós tudo o que não é de Deus. Entreguem-se ao Amor puro por puro amor, e santificar-se-ão.” Ele não queria que a pessoa se contentasse de crer pelo espírito, queri a sua adesão pelo coração, a sua comunhão com essa Vontade de Deus, com esse “amor que nos sitia portoda a parte” e que é a última palavra de tudo o que faz gozar ou sofrer. Queria que se fizesse apenas isto: o retraimento de todo si mesmo diante do ser e da ação de Deus, abandonar-se, sabendo que isto quer dizer: deixar-se ser amado; – mas também “abraçar Deus a todo instante fazendo a sua vontade, já que a vontade de Deus é Deus”. Certa noite na Sainte-Baume estávamos fora de casa. “A vontade de Deus, meu filho, não procure outra coisa… É como para a minha reeleição. Tudo parecia humanamente contrário. Assim estou bem tranqüilo… “Adjutoriumnostrum in nomine Domini”… e depois, com um gesto largo e de grande força, que me mostrava todo o céu e todos os horizontes da Saint-Baume: “qui fecit coelum et terram”. Apoiamo-nos sobre o Todo-Poderoso que fez o céu e a terra”. Mas por que insistir, era a sua predicação constante, o espírito mesmo da sua vida que nos transmitia dizendo isso: “Digo a mesma coisa a todo o mundo, concluía ele com a sua simplicidade inimitável, não sei mais nada do que isso. E agrada a todos. Todo o mundo fica contente”. Sobretudo ele mesmo vivia isto, que tinha aprendido no livro do seu coração. Essa comunhão com o amor de Deus através de tudo o que fazia ou sofria, era a sua contemplação perpétua, “unida à ação, dizia ele, como a alma ao corpo”. Tinha chegado ao estado que assim definia: “Na alma religiosa, o passado e o porvir não contam. Somente conta o momento presente, onde ela está em comunhão com o infinito de Deus.” A GRAÇA DA INTIMIDADE MARIAL Mas tenho pressa de mostrar o espaço reservado à Virgem Santa em tudo o que acaba de ser dito. Ela era o instrumento universal, a própria atmosfera de sua vida espiritual. Era ela que o estabelecia e mantinha nesse estado de despojamento e de pura união apenas com Deus, e que assim quisera. “É a Santíssima virgem que fez tudo. Devo-lhe tudo, tudo”, dizia ele freqüentemente. Ela tinha sido a mãe exigida pelo sentimento de sua pequenez, a doçura suprema na sua mais profunda renúncia, a fecundidade de sua solidão e inspiradora de sua oração. Ele não tomava consciência de nenhuma graça de Deus sem ao mesmo tempo ser consciente da via pela qual lhe chegava. “Tudo é graça”; portanto, pensava ele, a Virgem Santa é intimamente presente em tudo. Nem todos os santos se colocam assim no Coração da Virgem Santa como no centro de sua vida espiritual. Para consegui-lo é preciso uma luz, uma revelação da Virgem Santa, que supõe da sua parte uma escolha. O Padre Vayssière a teve em grau excepcional. É próprio da alma marial, esse instinto de encontrar Deus em Maria, de até alegrar-se particularmente nesse conhecimento, de assim render-lhe glória, oferecendo-se não somente pelas suas mãos, mas antes de tudo a ela, certo de que tudo o que é dela é de Deus, que há uma total e perfeita renúncia a si mesma da mãe diante do Filho. Esse sentido da transparência de Maria explica a maneira do Padre Vayssière de falar a respeito. Tudo o que dissemos sobre a sua oração e sobre a sua vida de fé mostra suficientemente qual era o fruto de uma tal doação. Achei até muito profundo este seu pensamento…: “A Santíssima Virgem não tem mais a fé, porém ela a guarda para nós. Deve-se buscar a fé na sua fonte. Jesus Cristo não teve a fé. A fonte da fé é Maria”. – “Toda a vida espiritual está nisso, nessa doação ao amor Infinito. Mas não esqueçamos que ela se faz nos braços de Maria, na graça de seu ofício materno”… “Maria é como um grande rio que nos leva ao Cristo… Mas não se deve crer que Maria, Nosso Senhor, sejam apenas etapas para chegar ao Pai. Não é isso: Maria , o cristo, Deus, são um todo, inseparável!” Ele sentia isto instintivamente, mas o justificava também por uma doutrina marial, que bastaria desenvolver para fazer uma bela obra. “A Virgem Santa não é senão mãe… e mãe somente de Jesus, é Ele que ela gera na alma… Toda a ação de Maria leva a Jesus… Não se poderia conceber nela uma parcela sequer da sua atividade que não tivesse Jesus como objeto e como fim. É a sua missão. Ela é mãe. O seu papel de mãe é de nos dar a vida divina em troca de tudo o que ela nos ajuda a sacrificar… O próprio Espírito Santo criou e preparou o Coração de Maria, no qual cavou profundidades inefáveis. Fez dele um coração de mãe, e não de qualquer mãe, mas da mãe de Deus… É com esse coração feito para um Deus, com essas ternuras reservadas a Deus, que Maria ama a humanidade, que Maria ama cada uma das nossas almas.” Para ele o mistério de Maria era o da perpetuidade do mistério da encarnação redentora, com o qual cada alma humana pode verdadeiramente comungar. Assim como Jesus veio no mundo, assim vem viver em nós. “é a lei de Deus que desde a Encarnação renova-se através dos tempos e em todas as almas que querem ser fiéis e realizar o mesmo mistério de amor: Jesus.” É na meditação desse papel vivificador de Maria que ele tirava a sua doutrina do contato a manter sempre, da dependência a tornar todos os dias mais estreita e mais total. “Quanto mais pertencemos a Maria e à sua ação, tanto mais estamos em vias de união com Deus, de reviver Jesus… Precisamos estabelecer-nos espiritualmente em Maria como uma criança no seio de sua mãe. Quanto mais somos unidos a ela, tanto mais ela nos vitaliza. É ela, é Maria que nos forma… O caminho de fidelidade filial a Maria é o verdadeiro caminho, podem crer, é reviver a própria vida de Jesus em Nazareth.” E se alguém tivesse achado nessas considerações algo metafísico demais, ele concluía com toda simplicidade, com extraordinária e límpida ternura: “A Virgem Santa é uma (ma)mãe. Ela nos ama como um (ma)mãe. Devemos amá-la como uma (ma)mãe.” Porém o Padre Vayssière não tivera a felicidade do convívio com a sua mãe, falecida jovem. Não tinha aprendido da natureza esses sentimentos que depois é tão bom e tão belo transpor na ordem da graça e das coisas espirituais. Não tivera outra mãe a não ser a própria Virgem santa, e dela tinha aprendido tudo, até mesmas delicadezas mais humanas do seu coração. Certo dia estávamos juntos num bonde. Perto de nós estava sentada uma jovem mãe com uma criança nos braços. Após ter observado um momento, o Padre tocou-me o braço, dizendo: “Veja… Isso faz pensar no Bom Deus… Eis o que somos entre os seus braços. É curioso, quando jovem não prestava nenhuma atenção às crianças… Porém agora, isto enternece-me.” Compreende-se como a humildade do Padre tornava fácil uma tal dependência: “é preciso tornar-se criança, tornar-se pequenino.” Compreendi perto dele que a verdadeira devoção à Santíssima Virgem era inacessível aos orgulhosos. Todas as suas palavras a respeito da Virgem Santa saíam de um coração simples e despojado. Ele era consciente disto. Quanto mais tornamo-nos pequenos, dizia, tanto mais lhe permitimos ser mãe. A criança pertence mais à sua mãe na medida em que é mais fraca e pequenina… a perfeição da via de infância no plano divino, é a vida em Maria. Esta graça da intimidade marial, ele a devia primeiramente ao estado de pequenez ao qual havia sido reduzido e tinha consentido. Ma a devia também ao seu Rosário. Durante os longos dias de solidão da Saite-Baume acostumara-se a rezar diariamente vários rosários, às vezes até seis. Muitas vezes os dizia inteiramente ajoelhado. Não era uma recitação maquinal e superficial: toda a sua alma nele passava, ele o saboreava, o devorava, era convencido que encontrava lá tudo o que se pode procurar na oração. “Recitem cada dezena, dizia, menos refletindo do que comungando pelo coração com a graça do mistério, com o espírito de Jesus e de Maria tal como esse mistério o apresenta… O Rosário é a comunhão da noite (outras vezes: é a comunhão ao longo de todo o dia) e que traduz em luz e em fecunda resolução a comunhão da manhã. Não é apenas uma série de Ave Maria”. Assim vivia ele, nesse ciclo incessavelmente em ação do seu Rosário, como que “envolto” pelo Cristo, por Maria, segundo a sua expressão, em comunhão com cada um dos seus estados, com cada aspecto de sua graça, assim penetrando e permanecendo nos abismos do Coração de Deus: “O Rosário é uma corrente de amor de Maria à Trindade”. Compreende-se qual contemplação (esta oração) tornara-se para ele, que caminho para a união pura a Deus, que necessidade, semelhante à da comunhão. E quem o via constantemente manusear as contas do seu rosário podia pensar que cada uma delas tornara-se para ele como que um sinal sensível e quase falado, um memorial de todos os seus pensamentos, de toda a contemplação acumulada ao longo de tantos anos. A GRAÇA DA PATERNIDADE Afastado durante muito tempo da vida dominical normal, condenado mesmo, durante as expulsões, a vestir a batina (porém à noite somente se deitava no seu hábito branco), privado da difusão irradiante e longínqua própria ao apostolado dominicano, sempre ouvia no seu coração a voz da sua juventude: “Serás dominicano”. Eis como entendeu então o sentido de sua missão: representar a Ordem de São Domingos na gruta da penitência e da contemplação. Elevado acima de todas as realizações exteriores do seu ideal, carregou silenciosamente no seu coração a sua Ordem inteira; compreendeu a essência da vocação, compreendeu sobretudo que era uma vocação, no sentido forte da palavra, isto é, um chamado de Deus, a Vontade essencial de Deus sobre certas almas, sobre a sua. Compreendeu que essa Vontade de Deus traduzia-se numa Regra cujos mínimos detalhes tornavam-se por isso sagrados, mas que ela visava antes de tudo a realizar uma certa forma de santidade, uma certa maneira de imitar Nosso Senhor, um qualquer coisa de mais alto do que toda teoria, que havia sido realizado uma primeira vez em S”ao Domingos, e que era preciso tornar a viver em união com ele. Seria longo demais narrar e descrever o que foi nele essa graça de união filial com S”ao Domingos. Magnífico amadurecimento da graça de fidelidade à vocação. Ela tinha um sentido bastante profundo par indicar a todo religioso de que espécie deve ser a sua devoção para com o Pai da sua ordem. Ela o preparava, sem que disso pudesse ser consciente, a ser o representante de S”ao domingos entre nós. Sem dúvida somente o compreendeu, com a plenitude que nele temos conhecido, depois de nomeado Provincial. Ele mesmo contou que celebrando a missa de 4 de agosto, pouco tempo depois de sua eleição, sentira-se interiormente impelido com força “par se dar a S”ao Domingos”. Esta graça dominou todo o seu Provincialato. Não contarei aqui tudo o que ocupou esses oito anos tão plenos e tão pesados. O nosso Reverendíssimo Padre Geral escreveu-nos que não tinha visto provincialato mais fecundo em realizações. O próprio Padre Vayssière constatava com reconforto que “apesar de tudo a Virgem Santa tinha feito muito quando ele estava lá”. Todo o mundo admirava os desígnios da Providência que o tirava da sua vida tranqüila de eremita, na idade em que outros se aposentam, para mergulhá-lo nas preocupações, nas viagens, nos embaraços de toda espécie. Mas ele aceitava tudo com simplicidade. Encontrara na sua solidão o segredo de abraçar Deus em todas as coisas ao fazer em tudo a sua vontade. Podia deixar a sua Gruta. Pelo contrário, a sua graça não podia senão expandir-se, e precisava dessa missão para atingir sua forma plenária, tornando-se uma graça de paternidade. Mais do que nunca, as suas deficiências ser-lhe-iam um motivo de despojamento e de humildade; mais do que nunca iria a sua oração fazer-se pura e elevada, sua fé fortalecida no contato com as contingências que sempre vencia. Mais do que nunca sobretudo, tendo tanto a fazer e a pensar, iria refugiar-se entre as mãos da virgem santa. A sua graça marial cresceu e aprofundou-se até o fim: “A Virgem Santa é um agente essencial da vida espiritual, sobre tudo nos estados mais elevados”. Poucos dias apenas após sua primeira eleição, disse-me com expressão surpreendentemente decidida: “Já que sou Provincial, vou aproveitar para aperfeiçoar-me”. Aqui aparece bem a sua resposta imediata à própria intenção da Vontade Divina, o seu dom de enxergar o essencial de uma situação e de exprimi-lo numa só palavra. Foi fiel ao seu propósito. O seu papel foi antes de tudo de ser uma fonte, um foco espiritual na Província, um pai. Graça de paternidade, comunicação ao seu coração do dom que teve o de Maria, de dar Deus dando-se. Ele nos amava todos “com um coração de pai e de mãe”. É verdade que às vezes era retraído, “selvagem”, como dizia, com aqueles que somente viam nele o superior. “Muitas vezes, dizia, quando um Padre vem conversar comigo, estou crucificado pela minha inabilidade, minha falta de meios. Não sei o que dizer-lhe. Sofro, ofereço o meu sofrimento ao Bom Deus por aquele que ai está”. Somente estava completamente à vontade quando podia livremente falar de Deus, quando podia movimentar-se no terreno puramente sobrenatural que nunca conseguiu deixar, mesmo ao deixar a Sainte-Baume. Alguém dizia-me: “Esse homem é o coração da sua Província. Toda a Província vivia nele”. Nada mais justo: ele se apaixonara por ela. A GRAÇA DA MORTE A saúde do Padre Vayssière havia sido fortemente abalada durante a guerra. Porém como estava sempre mais ou menos doente, surpreendeu-se inicialmente ao aprender que era grave e que devia submeter-se a uma operação cirúrgica perigosa. Aceitou imediatamente a situação e decidiu ir até o fim. “É o meu cargo e a minha vida, disse, que terminam na cruz. Houve tantas deficiências no exercício do meu cargo que era necessário sofrer um pouco pela Província para reparar. E agora, minha vida, meus sofrimentos, minhas preces, tudo é pela Província para reparar. E agora, minha vida, meus sofrimentos, minhas preces, tudo é pela Província.” O Rosário no pescoço, não cessava de manuseá-lo Havia na frente dele um armário com espelho que refletia a pequena estátua da Santíssima Virgem colocada na parede: “Assim, tenho-a sempre à minha frente”, gostava de confidenciar aos seus visitantes. Deixava-se tratar como uma criança. A sua alma vivia num sentimento muitas vezes transbordante de ação de graças. Aos 15 de agosto pediu a um Padre, como ele originário de Rocamadour, que celebrasse a missa numa intenção de ação de graças por todas as graças que tinha recebido de Maria na sua vida terrestre. Tendo sido presenteado com um terço de ouro, remeteu-o ao amado santuário de sua terra natal em testemunho de gratidão. Foi depois desta festa da Assunção que o vi pela última vez. Ele me disse: “Tive grandes graças nesta festa de 15 de agosto. Compreendi claramente que devia oferecer minha vida pela Província. Não sei se vou morrer, será como o bom Deus quiser. Mas a sua vontade é que ofereça a minha vida pela Província. E agora… estou esperando… estou tranqüilo… estou contente.” A uma outra pessoa, dizia: “E como agora que vou morrer, não posso pensar na morte. Penso que vou fazer a vontade de Deus ao morrer, como quando tomava o trem para Toulouse ou que partia da Gruta para ir à hospedaria. “ – “Meu filho, dizia ele ainda, como suprema confidência de sua experiência e de sua sabedoria, o que falta ao religioso é a abnegação. Rebusca-se a si próprio nisto ou naquilo, eis porque não se une a Deus.” E continuava: “Sim, mesmo aqueles que têm virtude e mérito não renunciam a si mesmo. Assim a sua vida espiritual arrasta-se”. Ele previu o dia da sua morte: “Perdi o dia 8 de setembro e o 15 de agosto; não perderei o 15 de setembro.” De fato, não o perdeu. No dia 14 de setembro, por volta das quinze horas, teve uma crise súbita que o levou em poucos instantes. Era a hora das primeiras Vésperas de Nossa Senhora das Dores. Oito anos antes, no mesmo dia e quase na mesma hora, assinava a sua aceitação do cargo de Provincial. Ele chegava exatamente ao seu termo, bebera a última gota do cálice, tudo era consumado. Na mesma manhã escrevera em sua agenda esta frase de Santa Teresa do menino Jesus: “Minha glória será um reflexo na minha fronte da glória de minha mãe.” Foi transportado para o pequeno cemitério da Sainte Baume, ao pé da Gruta. Tivera, quem acreditaria, a tentação de pedir outro lugar de retiro e de sepultura. Porém pouco tempo antes de sua doença, andando na grande floresta que fora a confidente do seu isolamento, de seus despojamentos e de suas graças, ouviu em si mesmo uma voz o repreendendo: És um ingrato.” Que o seu humilde túmulo permaneça nesse lugar santo como testemunho de sua gratidão por tudo o que a sua alma ali recebeu com simplicidade e fidelidade. Ir. Marie Joseph Nicolas, O.P. #Espiritualidade

  • A Vida Religiosa II

    Gustavo Corção “O Globo” – 03/08/1974 No artigo de quinta-feira lembrei o que nos ensinaram vinte séculos de cristianismo, e que até anteontem era trivial conhecimento no mundo católico. Refiro-me à importância que sempre teve o monaquismo, como quilate do valor propriamente cristão de uma sociedade e como esplendor da Igreja. Sempre que a Igreja esteve em perigo ou em crise, foram religiosos que a vieram escorar, como no tempo de São Francisco e de São Domingos, que o Papa Inocêncio III viu em sonho acorrerem para o arrimo do cristianismo. Foi a crise da vida religiosa que formou caldo de cultura de onde saiu o desastre do protestantismo. Lutero era um religioso, um homem de votos e clausura, tornado traidor e trânsfuga. Não admira, pois, que na crise medonha que hoje assola a civilização e desmantela a Igreja, os frades e as freiras ponham tamanho empenho em tomar a dianteira da degradação. Nesta matéria tivemos no Brasil um triste destaque: as mais gloriosas ordens religiosas produziram e continuam a produzir os mais abomináveis frutos: jesuítas, beneditinos, dominicanos e franciscanos parecem empenhados na disputa de uma espécie de prêmio Nobel de rebaixamento e de perversidades. Os moços foram especialmente perseguidos com uma gula indecente, e é rara a família brasileira que não tenha uma filha pervertida ou um filho assassinado na fé por um daqueles religiosos. Para completar a vergonha e culminar a tristeza, todas as apostasias tomaram a direção dos mais odiosos inimigos da Igreja. Sim, a sedução máxima exercida pelo século sobre os religiosos se fez com a n…. feia, burra e triste que é o comunismo. Foi nesse excremento de uma diarréia histórica que se atolaram os religiosos enjoados de ave-marias e padres-nossos, enjoados do Corpo e do Sangue do Salvador. Não será de admirar, portanto, que a reunião dos religiosos efetuada no Colégio S. Bento conserve a mesma força dissolvente e degradante, como se vê facilmente nos opúsculos distribuídos, e nos pronunciamentos publicados nos jornais. Abrindo ao acaso um deles, de autoria de um jesuíta, lemos: “A visão anterior ao Concílio pode ser caracterizada como estática, onde os valores se consideravam estabelecidos definitivamente e válidos para sempre.” Neste tópico o autor explora a vulgaríssima idéia de que tudo é estático e defeituoso – idéia evidentemente cômica e imbecil, mas muito atraente para os espíritos fracos. Atribui a asneira ao Concílio e desenvolve seu pensamento, se pensamento há, nestes termos: “O Concílio reconheceu a revelação cristã como sendo essencialmente histórica, portanto inserida na evolução incessante e crescente da Humanidade.” E daí conclui que a Igreja deve correr atrás do Século. Esse religioso não percebe talvez que já se afastou da fé cristã quando diz que a Revelação é “essencialmente histórica”, esquecido de que, tanto por seu objeto como por sua fonte, a Revelação transcende a história, e também esquecido de que, com a morte do último apóstolo, encerrou-se o desenvolvimento histórico da Revelação que galga a estabilidade, sim a superior condição estática das coisas supra-históricas. Há, porém, nesses opúsculos dos “religiosos” e “religiosas” uma coisa curiosa que me aflige mais do que a polimórfica perversidade da heterodoxia. É o estilo. Sim, leitor. Não se horrorize, nem julgue que eu pretenda aqui colocar categorias literárias acima das verdades de Deus. O estilo deles me aflige, pelo que revela; e o que revela de maneira inequívoca e cruel é o vazio de seus autores. Esses homens que deveríamos chamar homens de Deus, que prometeram seguir o Cristo e para isso prometeram se crucificar pelos votos nos conselhos evangélicos, esses homens oficialmente engajados na mais bela história do mundo, seguidores de uma tradição que produziu ao lado da piedade mais santa as mais belas obras da palavra humana, esses pobres decadentes da grande raça das Teresas, dos Francisco de Sales, dos João da Cruz, esses degenerados escrevem molhando a pena no Sangue de Cristo, se ainda é válida a Missa que celebram, e produzem um estilo mais inodoro, mais insípido, mais exangue do que se lê nas mais áridas páginas do Diário Oficial. E é nessa aridez exterior, nessa secura aflitiva, besuntada de um pedantismo que lhes dá às vezes um falso brilho, sem lhes trazer nenhum orvalho de umedecimento, é nesse estilo que eu sinto, com tristeza imensa, o nada desses peitos que parecem rejeitar o mal enxertado coração de Jesus. Não digo essas coisas para me divertir `a custa deles, e Deus sabe que não minto. O que esse estilo me diz é que eles perderam suas almas. Não! Não pretendo aqui antecipar o juízo de Deus. Digo que perderam a alma não por condenação eterna, mas por terem-na deixado perdida em algum banco de jardim. Pobres títeres, movidos pela máquina da atualidade, pobres tolos presididos pelos mais tolos. Deus sabe que não minto se torno a dizer que não há mais piedade do que escárnio em todas essas desoladas reflexões que tanto quisera não dever fazer. E quando digo “pobres” aqui mais me refiro à dor que me causa a soberba desses inventores de religiões novas, do que à simpatia pela pobreza religiosa, pobreza de voto, que é opulência no Céu. Nesse Saara espiritual encontro uma senhora abadessa montada também no camelo de sua presunção a caminhar de aridez em aridez à procura de coisa nenhuma. Deus Meu! ainda pelo estilo, relevem-me a insistência profissional, e o culto que tenho pela palavra exata, bem escolhida, ainda por esse mau gosto, ou por essa ausência total de qualquer gosto que sinto nessa raça de gente um assombroso vazio. Dir-se-ia que eles se esqueceram de como é que nós cá fora rimos e choramos. Escrevem no recto tono dos cartórios. E ousam falar como “libertadores” e como construtores de um mundo melhor. Leiam o cap. XX do Apocalipse. A senhora abadessa, no seu opúsculo, habla de comunidade, ousa hablabar de vida em comum e eu tremo só de imaginar, num requinte de fantasia, na remota possibilidade de um dia me ser imposta a sua companhia, em comunidade, neste vale de lágrimas. E corre-me a espinha um calafrio quando penso que existem freiras, monjas reais de carne e osso, e alma! que vivem dia e noite sob a presidência daquela senhora abadessa numa Comunidade blablablada naquele #GustavoCorção

  • Entregar-se

    “Várias vezes, Nosso Senhor já havia me dado conhecer o quanto era útil, para o progresso de uma alma desejosa de perfeição, ENTREGAR-SE sem reserva à ação do Espírito Santo. Mas, nesta manhã, a divina Bondade dignou-se me agraciar com uma visão toda particular. Estava me preparando para começar minha meditação, quando ouvi o ressoar de vários sinos chamando os fiéis para assistir aos divinos Mistérios. Neste momento, desejei unir-me a todas as missas que estavam sendo celebradas e com este intuito, dirigi a minha intenção para que participasse de todas elas. Tive então uma visão geral de todo o universo católico e de uma profusão de altares nos quais se imolava, ao mesmo tempo, a adorável Vítima. O Sangue do Cordeiro sem mancha corria abundante sobre cada um desses altares que me pareciam envoltos numa leve fumaça que subia para o céu. Minha alma era tomada e penetrada por um sentimento de amor e de gratidão à vista dessa tão abundante satisfação a nós oferecida por Nosso Senhor. Mas também surpreendia-me muito o fato de que o mundo inteiro não se achasse santificado em conseqüência. Perguntava-me como era possível que o Sacrifício da Cruz, oferecido uma só vez, tenha sido suficiente para salvar todas as almas e que, renovado tantas vezes, não bastasse para santificá-las todas. Eis a resposta que julgo ter ouvido: – O Sacrifício é sem dúvida suficiente por si mesmo e o Sangue de Jesus Cristo mais que suficiente para a santificação de um milhão de mundos, mas às almas falta corresponder generosamente. Pois o grande meio para entrar na via da perfeição e da Santidade – é o de ENTREGAR-SE ao nosso Bom Deus. Mas que significa ENTREGAR-SE? Percebo toda a extensão desta expressão “ENTREGAR-SE”, porém não posso explicitá-la. Sei apenas que é muito extensa e abrange o presente e o porvir. ENTREGAR-SE é mais que se dedicar; é mais que se doar; é até maior que se abandonar a Deus. ENTREGAR-SE, finalmente, significa morrer a tudo e a si mesmo, não se preocupar mais com o EU a não ser para mantê-lo sempre orientado para Deus. ENTREGAR-SE é ainda mais que não se procurar a si mesmo em nada, nem no espiritual, nem no corporal; quer dizer deixar de procurar a satisfação própria, mas unicamente o bel-prazer divino. É preciso acrescentar que “ENTREGAR-SE” significa, também, esse espírito de desapego que não se prende em nada, nem nas pessoas, nem nas coisas, nem no tempo, nem nos lugares. É aderir a tudo, submeter-se a tudo. Mas, talvez se acredita que isso seja muito difícil de se conseguir. Desenganem-se, não existe nada mais fácil de se fazer e nada tão suave de se praticar. Tudo consiste em fazer uma só vez um ato generoso, dizendo com toda a sinceridade de sua alma: “Meu Deus, quero ser inteiramente seu (sua), queira aceitar minha oferenda”. E tudo será dito. Permanecer de agora em diante nesta disposição de alma e não recuar diante de nenhum dos pequenos sacrifícios que possam servir ao nosso progresso em virtude. Lembrar-se que SE ENTREGOU. Rogo a Nosso Senhor que forneça o entendimento desta expressão a todas as almas desejosas de Lhe agradar, inspirando-lhes um meio de santificação tão fácil. Oxalá fosse possível compreender de antemão toda a suavidade e toda a paz que se desfruta quando não se guarda reserva com nosso Bom Deus! De que forma Ele se comunica com a alma que O procura com sinceridade e que soube ENTREGAR-SE. Experimentem e vereis que lá é que se acha a felicidade procurada em vão alhures. A alma entregue encontrou o Paraíso na Terra, pois ali goza esta paz suave que constitui em parte a felicidade dos eleitos”. Sta. Tereza Couderc #Espiritualidade

  • O que é um Mosteiro Beneditino?

    O QUE É UM MOSTEIRO BENEDITINO? Dom Emmanuel-Marie André ( † 1903) As poucas páginas que seguem foram publicadas pela primeira vez no Boletim da Obra de Nossa Senhora da Santa Esperança. Tínhamos anunciado a fundação dos Beneditinos e das Beneditinas de Nossa Senhora da Santa Esperança, e as Máximas de São Bento vinham, por assim dizer, responder à pergunta: O que é então um mosteiro beneditino? Desejamos que estas páginas levem a resposta a toda parte em que puder esclarecer um espírito, alegrar uma alma, ajudar talvez uma vocação. Quantas almas sofrem no mundo por não terem encontrado o seu caminho e que renderiam graças a Deus pela sua felicidade se uma mão caridosa lhes mostrasse a porta de um mosteiro beneditino! CAPÍTULO 1 – São Bento e sua obra na igreja CAPÍTULO 2 – O segredo do poder de São Bento CAPÍTULO 3 – A presença de Deus CAPÍTULO 4 – O amor de Nosso Senhor Jesus Cristo CAPÍTULO 5 – A graça de Deus CAPÍTULO 6 – O Mosteiro CAPÍTULO 7 – O Abade CAPÍTULO 8 – Os Irmãos CAPÍTULO 9 – As três colunas do edifício CAPÍTULO 10 – A Oração CAPÍTULO 11 – O Ofício Divino CAPÍTULO 12 – A liberdade de espírito CAPÍTULO 13 – Um testemunho CAPÍTULO 14 – A luz em todas as coisas CAPÍTULO 15 – A Glória de Deus em todas as coisas CAPÍTULO I AS  MÁXIMAS DE   SÃO   BENTO São Bento e a sua obra na Igreja Aprouve muitas vezes a Deus, que falou a Moisés no monte Sinai, falar a seus santos no cume das montanhas, longe do mundo, perto do céu. Monte Cassino é um desses lugares abençoados; lá se ergue, como sobre uma base de granito, a grande imagem de São Bento. A mão de Deus que o tinha arrebatado do mundo, conduziu-o à solidão, e o moldou para ser o pai da maior família monástica que já houve na Igreja. Ele começou, diz Bossuet, por onde os outros acabam, ou seja, pela perfeição. Sua primeira vitória sobre o mundo foi completa, decisiva: a vitória que ele alcançou pouco depois sobre si mesmo, triunfando sobre os atrativos da voluptuosidade, não foi menos completa nem menos decisiva. Em seguida correu com um passo livre e seguro no caminho de Deus, e, como nota o mais ilustre dos seus discípulos, São Gregório Magno, tendo-se tornado eleito de Deus, tornou-se doutor das almas. Electi, doctores animarum fiunt. Era admirável ver São Bento, tão jovem ainda, cercado de discípulos, ensinando-lhes o caminho da perfeição monástica. A humildade do pai foi a medida da multiplicação dos filhos: “De modo que para fazer o seu panegírico em poucas palavras e resumir seus louvores, seria preciso apenas destacar que Deus o julgou bastante digno de ser a cabeça desse grande corpo, dessa ordem tão célebre, tão santa, tão ilustre, tão útil e tão gloriosa para a Igreja; seria preciso apenas dizer que ele teve em grau eminente todas as virtudes, as perfeições, os méritos, as coroas, as auréolas dessa multidão inumerável de santos patriarcas, profetas, homens apostólicos, mártires, pontífices, confessores e virgens que pertenceram à sua ordem e nela permanecerão até a consumação dos séculos, aos quais ele comunicou e comunica continuamente tanto a santidade que eles tiveram na terra como a glória e felicidade que possuem no céu… Quanta glória deram a Deus, quantos sacrifícios Lhe ofereceram, quantas almas Lhe ganharam, quantos infiéis converteram, quantos fiéis santificaram, quantos povos instruíram, quantas paróquias governaram, quantos sacramentos administraram, quantos ofícios divinos cantaram, quantos serviços prestaram à Igreja, quantas orações vocais, quantas orações mentais, quantos jejuns, quantas vigílias, quantas esmolas, quantas penitências, quantas obras de caridade fizeram, quantos atos de virtude praticaram. Depois de Deus, é São Bento o autor de todas essas coisas, ele as desejou ardentemente, pediu-as nas suas orações, obteve-as pelas suas preces, mereceu-as pelas suas boas obras e previu-as por seu espírito profético: portanto tem delas a alegria, a recompensa e a glória acidental, como frutos de seus trabalhos, colheitas de suas sementes, efeitos de suas influências”. Mostrar São Bento em todas as suas grandezas seria uma tarefa muito além de nossas forças: entretanto, querendo prestar-lhe ao menos uma pequena homenagem, nós nos determinamos a publicar algumas de suas máximas. Os antigos concílios testemunham que São Bento foi assistido pelo mesmo espírito de Deus que ditou os cânones dos concílios. São Gregório Magno, esse experimentado apreciador do mérito, diz que ele foi repleto do espírito de todos os justos: que era uma lâmpada colocada sobre o candelabro para iluminar toda a casa de Deus. Será bom para nós desfrutar dessa luz e entrar assim no íntimo do pensamento dum santo que penetrou tanto mais profundamente no pensamento de Deus quanto mais humilde era diante de seu Criador. Pois, se é verdade, como ensina São Gregório, que o orgulho é sempre estranho à verdade, não seria menos verdade dizer que a humildade está sempre na posse e no gozo da verdade de Deus. Ora, São Bento foi humilde: ele o era para com Deus e para com todos. Seus próprios inimigos, os que tentaram envenená-lo, não puderam alterar a sua paz, a sua doçura, a sua invencível humildade. Sempre ele se via sob o olhar de Deus, segundo o testemunho de seu santo biógrafo e, por conseguinte, lia sem cessar no livro da verdade eterna, aprendendo desse modo a desprezar-se a si mesmo e a só fazer caso de Deus. Foi assim que São Bento atraiu para sua alma essas ondas maravilhosas de luz divina que lhe revelava o fundo dos corações, os pensamentos mais secretos, os acontecimentos que ocorriam longe dele, e mesmo aqueles que não deviam suceder senão após longos anos. Deus derramava em abundância a sua luz nessa alma vazia de si mesma e faminta só de Deus. Enriquecido com os tesouros da sabedoria do alto, São Bento escreveu a santa Regra. É o nome que ele mesmo lhe dá e que a tradição conservou e consagrou. É nela que São Bento descreveu a si mesmo, pois só ensinou o que fez. É nela também que estudaremos o seu espírito. Para abarcá-lo na sua plenitude, seria preciso contar, pesar, penetrar todas as palavras da santa Regra; não seríamos capazes de um trabalho tão amplo: vamos nos limitar a colher num campo tão vasto e variado algumas flores cuja cor, odor e perfume possam ser úteis a nossos leitores. Queira Deus que essas flores, ao passarem por nossas mãos, nada percam de sua frescura nativa, de sua graça original, de sua virtude sobrenatural. CAPÍTULO II O segredo do poder de São Bento O que nos surpreende, o que nos maravilha em São Bento, é o poder, a fecundidade, que catorze séculos absolutamente não esgotaram. Se, à vista desses dons tão espantosos, se pergunta qual foi o segredo dum semelhante poder, duma tal fecundidade, encontra-se uma resposta nestas três palavras: a castidade, a humildade, as lágrimas. São Gregório é admirável, quando, no segundo livro dos seus Diálogos, nos descobre o poder incomparável da castidade de São Bento. “Um dia, o santo teve uma tentação da carne tão violenta como nunca havia experimentado uma semelhante… Quase vencido, ele duvidava se não iria deixar o seu deserto, mas uma graça do alto fez subitamente que voltasse a si mesmo. Notando um lugar cheio de urtigas e de espinhos, despojou-se de suas vestes e lançou-se nu sobre as pontas dos espinhos, nesse braseiro de urtigas; aí se revolveu muito tempo e saiu com o corpo coberto de feridas. Estas tinham curado a chaga de sua alma; por seus esforços, a volúpia tinha-se mudado em dor. Por meio desse castigo do fogo, ele extinguiu o fogo impuro; tinha vencido o pecado. Desde esse momento, como ele próprio contava a seus discípulos, a tentação foi subjugada de tal maneira que nunca mais sentiu  o assalto da volúpia. Então começaram muitos a deixar o mundo e apressaram-se em colocar-se sob sua conduta. Isento da tentação, livre do pecado, ele se tornou mestre das virtudes: era justo”. Então, diz São Gregório, para fazer-nos compreender bem o segredo desse poder de atração que admiramos em São Bento: ele tinha vencido a carne, era poderoso no espírito. O Espírito Santo fez escrever estas divinas palavras: “Oh, como é bela a geração dos castos!”. Sim, como é bela a geração de homens castos que, tendo começado em São Bento, durou mais de catorze séculos e, segundo uma promessa divina, durará até o fim dos tempos! À castidade, São Bento acrescentou a humildade, sua companheira inseparável. Conforme o testemunho de seu santo biógrafo, ele preferia antes sofrer as injúrias do mundo do que receber seus louvores: Plus appetens mala mundi perpeti quam laudes. Nessa tão curta frase, São Gregório nos faz perceber, duma só vez, quão sublime era a humildade de São Bento. Sendo quem era, ele não podia deixar de sofrer da parte do mundo. Ora, não podia sofrer da parte do mundo senão duas coisas: ou males ou louvores; ele teve uns e outros. Para ele a coisa mais insuportável não era o que chamamos males, mas o que se lhe atribuía pelos louvores. Iluminado do alto, percebia o mal oculto debaixo desses louvores do mundo, fruto da vaidade naqueles que os dão e armadilha de vaidade para quem os recebe. O louvor enfraquece a alma, torna a oração difícil, a tentação inevitável. Já que se tem que sofrer alguma coisa da parte do mundo, São Bento preferia sofrer os males do que receber os louvores. Sofrer assim não envaidece absolutamente; sofrer assim nos impele para Deus, o soberano, o único bem. Nessa pura luz da humildade, que é a pura verdade, São Bento estava à vontade sob o olhar de Deus e dEle recebia inestimáveis favores, tanto para si mesmo, como para as almas que gravitavam em torno da sua. “O humilde é amado e consolado por Deus. Deus Se abaixa em direção a ele; dá-lhe a Sua graça e o faz em plenitude e grandeza. Revela-lhe os Seus segredos, convida-o e o atrai docemente a Si. O humilde permanece em Deus e não no mundo: Stat in Deo, non in mundo”. Elevado em Deus pelas duas asas da castidade e da humildade, São Bento se tornara um instrumento muito apropriado para as obras de Deus. Ele era, como diz São Paulo, um vaso de honra, um instrumento santificado e útil ao Senhor, disposto para toda a boa obra. Casto, ele podia dirigir as almas: humilde, penetrava os mistérios da vontade de Deus, e se prestava tanto melhor para o seu cumprimento, quanto era mais fiel em reservar somente a Deus a glória de todas as coisas. Non nobis, Domine, non nobis! Não seria de crer que, sendo amigo de Deus, São Bento visse o bem se realizar sob suas mãos, sem ter que beber o cálice do sofrimento. Antes pelo contrário, quanto mais crescia a obra de Deus, tanto mais o incomparável santo tinha lágrimas para derramar. É a lei da providência de Deus. Desde o pecado original, triste fruto do prazer de um instante, o bem não se faz mais neste mundo senão como fruto da dor. Esta verdade não brilha em nenhuma parte com um fulgor mais impressionante do que em Nosso Senhor Jesus Cristo. O grão de trigo, diz o Salvador, não dará fruto nenhum se não morrer, se não for colocado na terra e fecundado pelas chuvas. São Bento também semeou com lágrimas. O sangue de Nosso Senhor caiu sobre a terra, e ele só tem toda a sua fecundidade onde lágrimas que só Deus conhece são derramadas abundantemente. Ele quis, não obstante, que nós conhecêssemos, ao menos em parte, as de São Bento, que chorava freqüentemente. Um padre se havia feito inimigo do santo: Deus o esmagou debaixo das ruínas de sua casa. Anunciou-se o fato a São Bento, não sem certa satisfação. O santo deplorou essa satisfação com tantas lágrimas, quantas derramou pela morte desse desventurado. Um piedoso senhor, que São Bento honrava com sua amizade, entrou um dia na sua cela e o encontrou chorando com soluços. A vista dum tal amigo não estancou de modo nenhum as lágrimas do santo: Deus lhe havia revelado a futura destruição de seu mosteiro pelos lombardos; à força de lágrimas e de gemidos, obtivera de Deus a vida dos religiosos. Os lombardos, com efeito, saquearam tudo, mas não puderam atentar contra a vida deles. As orações ordinárias do santo eram acompanhadas de lágrimas; mas, doces como a graça que as fazia brotar, com o amor que as derramava, elas corriam sem barulho. Que espetáculo mais grandioso, mais comovente, mais encantador do que o incomparável santo, tão casto, tão humilde, chorando, sem fazer ruído, diante de Deus! CAPÍTULO III A Presença de Deus Está escrito no livro da Imitação de Cristo: “O humilde se mantém em Deus”, Stat in Deo… São Bento poderia dizer como os primeiros solitários do Carmelo: Viva o Senhor, em cuja presença me mantenho. Sendo a presença de Deus tão familiar e tão cara a este incomparável pai, ele a ensinava também a seus filhos e não cessava de inculcá-la. Reconhecendo-se, como São Paulo, devedor aos fortes e aos fracos, ele tinha meios proporcionados a cada um para levá-los todos a viver na presença de Deus. Aos mais fracos, São Bento dava este preceito: Saibam que em todo o lugar Deus os olha. E noutro lugar: Cada um considere que Deus o contempla do alto do céu, e que em todo lugar suas ações são vistas pelos olhos de Deus e a toda hora são referidas a Deus pelos anjos. Assim é útil representar-se Deus como nosso soberano senhor, como um grande rei, dominando nos céus, servido pelos anjos, e não se dedignando absolutamente abaixar os seus olhares sobre nós, pobres vermezinhos. Ele faz mais, pois se interessa por tudo o que se refere a nós, por tudo o que fazemos; ele envolve nisto os Seus anjos e os delega para junto de nós a fim de nos guardar e, se for preciso, nos denunciar a Ele. Este meio de praticar a presença de Deus funda-se, como se vê, na imaginação, dirigida entretanto pela fé. E quando a fé é assim a diretriz da imaginação, esta pode prestar-nos grandes serviços. Mas o discípulo de São Bento deve esforçar-se por se elevar acima das imagens e da imaginação, deve aspirar a viver da fé; pois, diz São Paulo, o justo vive da Fé: Justus meus ex fide vivit. Se, pois, o discípulo de São Bento começa por atos da imaginação ajudados pela fé, ele progredirá por meio dos atos de fé auxiliados um pouco pela imaginação, e será perfeito quando, elevado acima dos sentidos, viver puramente da fé, como o justo de São Paulo. Justus meus, o meu justo, diz o apóstolo. Então São Bento ensinar-lhe-á uma nova maneira de entender a presença de Deus. Escutemos este mestre pouco conhecido: Temendo a Deus, diz ele dos verdadeiros servidores de Deus, temendo a Deus, eles não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas reconhecendo que tudo o que tem de bom não procede absolutamente deles mesmos, mas vem de Deus, glorificam o Senhor que neles opera, dizendo com o profeta: Non nobis, domine, non nobis…. Estes felizes discípulos de São Bento não mais consideram Deus como acima deles no céu; nem como em torno deles, à maneira do ar que nos envolve; mas eles O vêem, pela fé, presente neles mesmos pela infinitude de Seu ser, dando-lhes o ser, a vida, o movimento e, por conseguinte, todo o bem que fazem. Reconhecem que Deus é o seu primeiro autor, o seu único inspirador; e então Lhe tributam glória por tudo, cantando com amor e humildade o versículo do salmo: Non nobis, Domine, non nobis! Este “non nobis” é a tradução dos sentimentos dos homens que renunciaram totalmente a si mesmos para seguir a Jesus Cristo. CAPÍTULO IV O Amor de Nosso Senhor Jesus Cristo Jesus Cristo! São Bento quer que Ele seja amado. Mas com que arte sabe ensinar o amor do divino Salvador! Desde as primeiras palavras da santa Regra, ele ensina a renunciar às suas próprias vontades; pois o homem se ama a si mesmo demasiado naturalmente, e este amor se revela pela afeição à vontade própria. Esta afeição deve diminuir para que o amor de Jesus Cristo tenha mais facilidade de entrar na alma: depois, por um esforço generoso, renuncie o discípulo às suas vontades para abraçar a vontade de Deus, ou melhor como diz São Bento, para lutar pelo verdadeiro Rei que é Nosso Senhor, então ele fará o ato de amor e o fará na verdade. Secundando o seu nobre ardor, São Bento lhe ensinará a preferir Jesus Cristo a tudo, a considerar Jesus Cristo como o seu mais caro tesouro. Nihil Christo carius. Sendo a caridade o fim, o coroamento de toda a virtude, São Bento, ao ensinar a humildade, dá-lhe igualmente por termo a caridade. Ele conduz o seu discípulo por doze diferentes graus de humildade e, depois, diz, “chega-se a este amor de Deus que é perfeito. Ele expulsa o temor e o que anteriormente não se observava sem custo, vem-se a observar com alegria por amor de Jesus Cristo, Amore Christi”. Assim, em duas palavrinhas muito curtas, se encontra resumida a doutrina de São Bento sobre o ponto capital da moral cristã. Nihil Christo carius: Nenhum outro tesouro senão Jesus Cristo; eis o que ilumina a inteligência, o que forma o espírito, o que prepara os caminhos da salvação. Depois Amore Christi, agir por amor e para o amor de Jesus Cristo; eis o que leva o coração a Deus e torna a vida presente merecedora da eterna. Vamos lá! CAPÍTULO V A Graça de Deus Do amor de Nosso Senhor à graça de Deus, não há mais que um passo e este não é grande. Em algumas palavras duma limpidez perfeita, São Bento nos entregou o seu pensamento sobre a graça de Deus. No prólogo da santa Regra, ele fala daqueles que, “temendo a Deus, não se exaltam absolutamente por causa de sua boa observância e, reconhecendo que o que eles têm de bom, não lhes é possível absolutamente por si mesmos, mas que é obra do Senhor, glorificam o Senhor que neles opera”. Mais adiante, o santo patriarca exprime a mesma idéia com um desenvolvimento importante; ele dá a seu discípulo este conselho: “Quando vir em si mesmo algum bem, que o atribua a Deus e não a si; saiba contudo que o mal é sempre obra sua e a si o impute”. Aí está perfeitamente a doutrina que São Cipriano exprimia outrora com estas palavras bem conhecidas: “Nós não nos podemos gloriar de nada, visto que nada é nosso: In nullo gloriandum, quando nostrum nihil est”. Mas onde o pensamento de São Bento se revela na sua totalidade, é quando trata do que deve fazer o abade após ter empregado todos os meios de correção para com um religioso que permanece incorrigível. “Se ele vê, diz, que com toda a sua diligência, nada obteve, que empregue no caso, o que é maior: a sua prece e a de todos os irmãos, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo”. Aqui São Bento tinha em vista esta graça que o coração mais duro não rejeita, uma vez que ela é dada para tirar a dureza do coração. São os mesmos termos de Santo Agostinho, e São Bento é da escola dele. Um monge beneditino, escrevendo um dia a Bossuet, lhe dizia: “Todos nós Beneditinos fomos sempre extremamente apegados aos sentimentos de Santo Agostinho”. Todos! Sempre! Extremamente! Este monge beneditino se chamava Dom Mabillon. CAPÍTULO VI O Mosteiro O mosteiro recebeu de São Bento um nome maravilhosamente belo: é a casa de Deus, Domus Dei; nossos pais amavam este nome e, de bom grado, diziam: a casa de Deus, como hoje ainda se diz Hôtel-Dieu. A casa de Deus está inteiramente submetida ao governo de Deus; Ele a rege pela Sua lei, pelos Seus mandamentos, por Seus conselhos, por Sua graça, por Seu amor. A casa de Deus combate pelo seu rei, e este é Nosso Senhor Jesus Cristo. A casa de Deus é a morada da paz; imagem do céu, o mosteiro tende a libertar-se cada vez mais de tudo o que é terrestre; seus habitantes, êmulos dos santos anjos, devem viver numa tranqüilidade tal que eles estejam ao abrigo de toda a perturbação e de toda a tristeza. Gosta-se de ouvir São Bento dizer estas encantadoras palavras: Que ninguém seja perturbado ou entristecido na casa de Deus. Nemo perturbetur neque contristetur in domo Dei. Não se diria que o santo revelou nesta breve máxima toda a doçura da sua alma, toda a ternura do seu coração paternal? A casa de Deus é também uma escola. Desde as primeiras páginas da Regra, São Bento chama o seu mosteiro de escola do serviço do Senhor. O monge está na escola e sempre deve aprender; a ciência por excelência à qual ele se deve aplicar é o serviço do Senhor. CAPÍTULO VII O Abade Sendo o mosteiro a casa de Deus, o abade deve ser considerado como lugar-tenente de Jesus Cristo. São Bento di-lo expressamente: Christi agere vices in monasterio creditur. Segue-se daí que seu governo deve ser uma imitação do governo de Deus. Escreveu-se outrora um livro sobre esta questão: Qual é o melhor governo, o rigoroso ou o brando? O melhor governo, segundo nós, é aquele que imita mais perfeitamente o de Deus, o qual governa com a autoridade que sabe empregar o melhor possível a doçura, quando esta se requer e o rigor, quando este é exigido. Tal é a autoridade de Deus, tal deve ser o chefe do mosteiro conforme São Bento. São Bento adverte ter o Abade um encargo difícil, o de governar almas e de adaptar-se aos caracteres de muitos. Difficilem et arduam rem regere animas et multorum servire moribus. Servire! Aí está um dos deveres do abade. Seu cargo lhe é dado a fim de ajudar os fracos, não para tiranizar os bons: Noverit se infirmarum curam suscepisse animarum, non super sanas tyrannidem. Deve aplicar-se a ser útil a seus irmãos e não a fazer-se prevalecer: Prodesse magis quam praeesse. Toda a antigüidade repetiu com tanta admiração como complacência esta bela máxima de São Bento. Como cada um encontra em si o poder de amar e o de odiar, o Abade deve saber regular em si mesmo estas afeições de sua alma. Deve odiar todos os vícios e amar todos os seus irmãos. Oderit vitia, diligat fratres. Deus quer ser temido, porém mais ainda quer ser amado: fiel imitador do governo de Deus, o Abade aplicar-se-á, também ele próprio, mais a ser amado do que temido. Studeat plus amari quam timeri. Depois, como o Abade não passa de um lugar-tenente de Nosso Senhor, ele deverá pensar nas contas muito exatas que Lhe dará de sua alma e de todas as que serão a si confiadas. São Bento não se cansa de repetir esta advertência ao Abade; e a propósito de todos os seus deveres, tanto no temporal como no espiritual, a propósito de todas as suas decisões, ele traz à memória do Abade o julgamento de Deus. Enfim, exige dele uma virtude indispensável: a discrição. O Abade deve temperar todas as coisas de tal maneira que os fortes desejem fazer mais e que os fracos não venham a desanimar: Sic omnia temperet, ut sit quod fortes cupiant et quod infirmi non refugiant. CAPÍTULO VIII Os Irmãos São Bento, para reconhecer a vocação de seus noviços, tinha quatro sinais que nos ensinou e que se podem dizer infalíveis. Examinava, portanto, se o noviço procurava a Deus com toda a pureza, o que já não é tão comum: em segundo lugar se ele tinha zelo pelo ofício divino; a seguir se era pronto na obediência; por fim se suportava bem uma reprimenda, um opróbrio. Si vere Deum quaerit, si sollicitus est ad opus Dei, ad obedientiam, ad opprobria. Estas curtas palavrinhas valem ao menos todo um livro que se intitularia: Do discernimento dos espíritos. Comprometido pela profissão religiosa, o discípulo de São Bento não pertence mais a si mesmo; cabe à obediência conduzi-lo em todas as coisas. Seu julgamento está submetido a um julgamento superior, sua vontade a uma vontade mais segura; e com isso um monge deve andar na alegria de ver acima de si o superior que Deus encarregou do cuidado de sua alma: Ambulantes alieno judicio et imperio, Abbatem sibi praeesse desiderant. Uma das coisas que São Bento proíbe com mais insistência é a murmuração. Em todas as ocasiões e por várias vezes, ele volta sobre isso e exclama para todos: Nada de murmurações! A casa de Deus tornar-se-ia a imagem do inferno, se a murmuração ali penetrasse. Há pelo menos sete passagens da Regra nas quais as murmurações são proibidas. Os irmãos devem amar-se uns aos outros até se obedecerem de boa vontade: o amor que devem a seu pai, a seu Abade, tem duas qualidades essenciais: deve ser ao mesmo tempo humilde e sincero: humilde , porque o Abade é a imagem viva de Nosso Senhor; sincero, porque o monge deve ser, em todas as coisas, o homem da verdade: Veritatem ex corde et ore proferre. É assim que, com algumas prescrições muito breves, mas muito substanciais, São Bento regula ao mesmo tempo o homem interior e todo o regime da casa de Deus. Beati qui habitant in domo tua, Domine! CAPÍTULO IX As três colunas do edifício Querendo edificar a casa de Deus, São Bento lhe dá por base três possantes colunas, as quais descreve desde os primeiros capítulos da santa Regra: a obediência, o silêncio e a humildade. “A obediência nos separa do mundo e de toda as suas maneiras de agir; ela nos separa ao mesmo tempo de nós mesmos, uma vez que nos subtrai os corpos e as vontades, a fim de submetê-los à sua lei. O silêncio nos retira as palavras, fecha-nos a boca e, aqui e ali, preserva-nos duma infinidade de males. Enfim, a humildade tira-nos a vaidade; purificando assim o coração e as intenções; ela acaba a obra de nossa conformidade com a vontade de Deus e nos fixa  no caminho de toda a perfeição. Às almas assim despojadas, só resta Deus”. A Primeira Coluna Desde as primeiras palavras da Regra, São Bento, considerando que a desobediência foi o começo da perda do gênero humano, quer que retornemos a Deus pelo trabalho da obediência. O soldado de Cristo, como ele chama ao seu discípulo, deve primeiramente despojar-se de suas próprias vontades depois revestir-se com as armas da obediência. Elas são poderosas, são belas. Obedientiae fortissima atque praeclara arma. “Os mundanos, dizia Bossuet, correm para a escravidão por meio da liberdade; vós, ao contrário, meus Padres, vós ides para a liberdade por meio da dependência. Que é a liberdade dos filhos de Deus, senão uma dilatação e uma distensão do coração que se desembaraça de todo o finito? Por conseguinte, cortai, suprimi. Nossa vontade é finita e, na medida em que se fecha em si mesma, ela se limita. Quereis ser livres, desembaraçai-vos; não tenhais mais vontade a não ser a de Deus; assim entrareis no poder do Senhor; e, esquecendo-vos da vossa vontade própria, não vos lembrareis senão da Sua justiça”. “A obediência, diz ainda Bossuet, é o guia dos costumes, a proteção da humildade, o apoio da perseverança, a vida do espírito e a morte garantida do amor próprio”. São Bento quer que o seu discípulo obedeça em todas as coisas. “Tudo o que se faz sem permissão do Padre espiritual será atribuído à presunção e à vanglória e não à recompensa. Quod sine permissione Patris spiritualis fit praesumptioni deputabitur et vanae gloriae, non mercedi”. A obediência deve ser tão preciosa e tão cara ao discípulo de São Bento que ele, desejoso de praticá-la sem cessar, obedece não apenas ao seu superior, mas a todos os seus irmãos. Obedientiae bonum non solum Abbati exhibendum est, sed etiam sibi invicem. Os irmãos devem obedecer-se assim à porfia. Obedientiam sibi certatim impendant. Todas estas recomendações ainda não bastam a São Bento. Ele quer que a obediência tenha qualidades tais que seja agradável a Deus e suave ao que obedece como ao que manda. Acceptabilis Deo et dulcis hominibus. Ela será tal se for praticada sem medo, sem demora, sem moleza, sem murmuração, sem réplica, mas de boa vontade. Non trepide, non tarde, non tepide, aut cum murmure, vel cum responso nolentis… et cum bono animo. Pois, acrescenta São Bento, segundo o Apóstolo: Quem dá com bom coração é amado por Deus. Após todas estas recomendações, estaria São Bento satisfeito? Não. Resta-lhe ainda dizer até onde se deve estender a obediência. Ora, conforme o santo, ela se estende até o impossível. Eis as próprias palavras de São Bento: “Se se mandam a um irmão coisas duras e impossíveis, que receba a ordem do superior com toda a doçura e obediência. Se ele vê que o fardo excede completamente as suas forças, exponha ao superior com paciência e no momento oportuno as razões de sua impossibilidade, mas isto sem mostras de soberba, resistência ou contradição. Se, depois de ter assim apresentado suas razões, o superior mantiver a ordem dada, saiba o súdito que é para seu bem, e, por amor, confiado na ajuda de Deus, obedeça. Ex charitate, confidens de adjutorio Dei, obediat”. A história monástica está repleta de exemplos desta obediência perfeita que, multiplicando as forças do monge, o faz operar realmente o impossível. Escutemos ainda uma vez a voz de Bossuet: “Vós tendes, meus Padres, um exemplo doméstico da virtude da obediência. Tendo o jovem Plácido caído num lago, quando daí tirava água, estava prestes a se afogar, quando São Bento ordenou a São Mauro, seu fiel discípulo, que corresse prontamente para retirá-lo. Fiado na palavra de seu superior, Mauro parte sem hesitar, sem se deter nas dificuldades da empresa; e cheio de confiança na ordem recebida, caminha sobre as águas com tanta firmeza como sobre a terra e retira Plácido do sorvedouro onde ele ia ser abismado. A quem atribuirei um tão grande milagre: à força da obediência ou à da ordem? Grande questão, diz São Gregório, entre São Bento e São Mauro. Digamos porém para decidir, que a obediência dá graça para cumprir o efeito da ordem; e que esta confere graça para dar eficácia à obediência”. São Bento, um dia, mandou o impossível a um corvo. A história é interessante. Ei-la: um inimigo do santo, querendo dar-lhe a morte, enviou-lhe, a modo de esmola, um pão envenenado. São Bento agradeceu pela esmola e logo percebeu o veneno. Na hora da refeição, estando à mesa, um corvo, que tinha o costume de vir dum bosque vizinho receber pão da mão do santo, aproximou-se como sempre. São Bento atirou-lhe o pão envenenado e lhe disse: Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, leva este pão e joga-o onde ninguém o possa encontrar. O corvo então abre o bico desdobra as asas e se põe a voltear em torno do pão, crocitando fortemente; tudo isto para dizer que ele, sem dúvida, queria obedecer mas não podia fazê-lo. O homem de Deus, insistindo em sua ordem, diz: Leva-o, leva-o sem medo e vai lançá-lo onde ninguém o possa achar. O corvo tomou enfim o pão e, levando-o, partiu. Três horas depois ele voltou sem o pão envenenado, que lançara fora, e recebeu da mão do homem de Deus o pedaço de pão habitual. A Segunda Coluna A segunda coluna do edifício é o silêncio. À primeira vista parece bastante estranho que surja uma instituição para disciplinar os homens ensinando-os a se calarem. Naturalmente não se saberia chegar a tanto e, todavia, a graça que criou as instituições monásticas produziu nas almas um tal recolhimento em Deus, que daí resultou sem custo o silêncio. O homem que fala a Deus, o homem que, interiormente, escuta Deus falar-lhe, não tem absolutamente dificuldade em guardar o silêncio. Se parece que ele perde alguma coisa não conversando de modo nenhum com os seus semelhantes, ganha infinitamente mais conversando com Deus. Se pela palavra entramos em comunicação com os homens, pela oração nós nos relacionamos com Deus; e o que se ganha na companhia de Deus é completamente superior ao que nos poderia dar a companhia dos homens. O silêncio se torna então um rico tesouro, e é o pensamento de São Bento quando escreve a expressão gravitas silentii. Se traduzirdes: gravidade, importância, riqueza do silêncio, tereis expresso o pensamento do santo legislador. Depois disto, não se terá dificuldade em compreender esta sentença da Regra: Os monges devem em todo o tempo aplicar-se a guardar o silêncio, mas sobretudo durante a noite: Omni tempore silentio debent studere monachi, maxime tamen nocturnis horis. Silentio studere, aplicar-se a nada dizer, eis aí um tipo de aplicação inteiramente novo. Os antigos monges haviam feito nisto tais progressos que tinham inventado sinais por cujo meio comunicavam os seus pensamentos quando era necessário, sabendo que ganhariam sempre e cada vez mais em não abrir absolutamente a boca. É a doutrina do Espírito Santo que, pela boca do apóstolo S. Tiago Menor, nos diz: “Cometemos todos muitas faltas, mas quem não as comete em palavras, é um homem perfeito”. A Terceira Coluna Humilitas entre os Romanos queria dizer baixeza; humilis domus para Horácio significava uma casa pobre. A Igreja, apoderando-se da língua latina enriqueceu-a singularmente com uma quantidade de expressões, e entre outras a palavra humilitas, com a qual ela designou esta grande e bela virtude que, despojando-nos do orgulho, nos torna tão caros a Deus: a humildade. É a terceira coluna do edifício beneditino. A quem perguntasse a São Bento qual das três colunas ele julgava a mais necessária, o incomparável patriarca teria respondido com Santo Agostinho: a humildade. E a quem perguntasse uma segunda e terceira vez qual a mais necessária, como Santo Agostinho, ele teria respondido sempre: a humildade. É manifesto que São Bento atribuía a esta virtude um valor inestimável. Ele a ensina com uma complacência bem acentuada; faz dela, por assim dizer, um tratado todo especial, o capítulo VII da Regra. A primeira das obras de São Bernardo é precisamente o comentário deste capítulo VII da Regra de São Bento. É neste tratado que o ilustre abade de Claraval deu, da humildade, a definição que todos os mestres adotaram por unanimidade: “A humildade é a virtude que nos faz desprezar-nos em conseqüência de um conhecimento sumamente verdadeiro de nós mesmos”. São Bento enumera doze graus de humildade. Eis aqui seu resumo: 1. Ter continuamente diante dos olhos o temor de Deus e, por conseguinte, manter-se prevenido contra todos os pecados e, notadamente, contra a vontade própria; 2. Renunciar a seus próprios desejos, em conseqüência da renúncia à própria vontade; 3. Submeter-se com toda a obediência a seu superior por amor de Deus; 4. Aceitar em paz as ordens difíceis, até os maus tratos e as injúrias; 5. Descobrir simplesmente ao superior os pensamentos mesmo maus que vêm à mente; 6. Contentar-se com o que há de mais vil e abjeto; 7. Considerar-se, no fundo do coração, como o último de todos; 8. Seguir simplesmente a regra comum e fugir de toda a singularidade; 9. Guardar o silêncio até que seja interrogado; 10. Não ser absolutamente pronto para rir; 11. Falar suavemente, gravemente, com poucas palavras bem razoáveis; 12. Trazer a humildade no coração e em todo o seu exterior, baixando os olhos, como um criminoso que se considera a ponto de ser chamado ao temível tribunal de Deus. Por aí se vê que São Bento, por assim dizer, faz decorrer da humildade toda a perfeição monástica. CAPÍTULO X A Oração O corpo se alimenta em parte pela respiração, e em parte pelo pão de cada dia. A alma tem também necessidade de alimento: o seu pão é a Eucaristia; sua respiração é a oração. Também Nosso Senhor diz: É preciso rezar sempre. E São Bento nada recomenda tanto a seu discípulo como a oração. A prece é o próprio âmago da vida monástica: o ofício divino é a sua expressão mais solene; mas a isto é mister acrescentar uma oração interior que deve, sem cessar, fazer subir para Deus todos os atos da vida religiosa. “Tudo o que empreenderes, diz São Bento, pede a Deus, por uma insistente oração, que Ele mesmo queira levá-lo a cabo. Quidquid agendum inchoas bonum, ab eo perfici instantissima oratione deposcas”. Há, contudo, certas circunstâncias em que São Bento recomenda mais particularmente a oração. Se um religioso se ausenta do mosteiro, ele deve pedir as orações de toda a comunidade; e as pede igualmente quando volta; se se apresentam hóspedes, é preciso rezar ao recebê-los antes mesmo de os cumprimentar. Durante a Quaresma, é preciso juntar as lágrimas à oração: Orationi cum lacrymis operam demus. Se no mosteiro se acha um religioso incorrigível, o Abade, após ter esgotado todos os recursos que lhe podem fornecer a caridade, as reprimendas, as punições, recorrerá, por fim, à oração. – “Se ele vê que, com toda a sua diligência, nada conseguiu, que empregue ainda o que é maior, a saber a sua oração e a de todos os irmãos com ele, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo. Adhibeat etiam (quod majus est) suam et omnium fratrum pro eo orationem, ut Dominus, qui omnia potest, operetur salutem circa infirmum fratrem”. Outra recomendação de São Bento, a respeito da oração, é a de oferecê-la a Deus pelos nossos inimigos e isto no amor de Jesus Cristo. In Christi amore pro inimicis orare. Enfim, para dar uma idéia mais completa da doutrina de São Bento sobre a oração, citamos o capítulo XX da Regra: Do Respeito que deve acompanhar a Oração “Se, quando queremos pedir algum favor aos poderosos, não ousamos fazê-lo a não ser com humildade e respeito, quanto mais, ao dirigir-nos a Deus, soberano Senhor de todas as coisas, devemos suplicar-lhe com profunda humildade e devoção pura. E saibamos que seremos atendidos não pela multiplicidade de palavras, mas pela pureza do coração e pelas lágrimas da compunção. E para isto a oração deve ser curta e pura, se não for prolongada por uma moção particular, uma inspiração da graça de Deus”. Assim pensava, assim rezava São Bento, cujo coração, segundo o testemunho da própria Virgem Santíssima, era totalmente cheio de Deus, erat cor ejus totum plenum Deo. CAPÍTULO XI O Ofício Divino Há na Igreja da terra uma oração solene e sagrada, que faz eco ao tríplice Sanctus dos Serafins do céu, uma oração que São Bento chama uma obra divina, a obra de Deus: Opus Dei. É a prece das sete horas místicas do dia, desenrolando-se após uma longa oração noturna: é a obra capital dos religiosos beneditinos, a qual não cede a nenhuma outra, aquela à qual devem ceder todas as outras. Nihil operi Dei praeponatur. A cada uma destas horas o filho de São Bento é, pela sua Regra, chamado ao coro para oferecer aí os seus louvores ao seu Criador. His temporibus referamus laudes creatori nostro. Ao primeiro sinal do ofício, é preciso imediatamente deixar tudo e dirigir-se ao coro, com uma religiosa solicitude, uma gravidade modesta e uma alegria incomparável de ser chamado a unir-se ao coro dos anjos, para começar aqui em baixo a oração que se aperfeiçoará, sem jamais terminar, nos céus. Não contente em chamar os seus irmãos ao ofício, São Bento prescreve punições para os que chegarem atrasados ao mesmo. Começado o ofício, é preciso manter-se nele com uma atenção mais intensa à presença de Deus. Sabemos o que São Bento ensina sobre o exercício da presença de Deus, e como ele recomenda a seu discípulo estar sempre atento; nós não nos espantaríamos de que ele dê uma advertência toda especial para o tempo do ofício divino: Ubique credimus divinam esse praesentiam, et oculos Domini in omni loco speculari bonos et malos; maxime tamen hoc credamus, cum ad opus divinum assistimus. Considerando que os religiosos no coro fazem na terra o ofício dos anjos no céu, São Bento quer que eles se tornem atentos à presença dos anjos. Consideremus qualiter oporteat nos in conspectu divinitatis et angelorum esse. O salmista havia dito: “Na presença dos anjos, Senhor, cantar-Vos-ei salmos”. Ainda existe um conselho muito interessante e importante de São Bento relativamente ao ofício divino: “Estejamos na salmodia de tal modo que a nossa mente concorde com a nossa voz. Sic stemus ad psallendum, ut mens nostra concordet voci nostrae”. Bem antes de São Bento, dissera São Paulo: “Rezarei com o coração; cantarei também com a inteligência”. Assim a voz, o coração, a inteligência, tudo o que está em nós, tudo o que nós somos, deve contribuir para o louvor de Deus. A voz canta, o coração ama, o espírito saboreia, anima, vivifica a salmodia e a torna digna de Deus. É bom cantar, é bom amar: mas cantar e amar com inteligência é a perfeição; e esta é exigida quando se trata do ofício divino. O religioso na terra que tem de unir-se ao ofício do anjo no céu, deve esforçar-se em se elevar até o anjo com as duas asas da inteligência e do amor. Portanto, é preciso saber. Quando os irmãos têm tempo livre após o ofício da noite, devem também empregá-lo no estudo dos salmos e das lições. São Bento assim o quer. É preciso saber. Toda a tradição beneditina consiste nisso. Essa também é a razão de tantos trabalhos, comentários, explicações, glosas sobre os salmos e a Escritura, que ocuparam os filhos de São Bento em todos os séculos. Eles queriam compreender, saber, a fim de cantar com inteligência e de glorificar mais Aquele que é ao mesmo tempo luz e amor, verdade e caridade. CAPÍTULO XII A Liberdade de Espírito Ao escrever estas palavras, a liberdade de espírito, sentimos a necessidade de dar a sua definição. Em nossos dias se tem abusado tanto da palavra liberdade que se torna indispensável tomar as maiores precauções para não cair em qualquer um dos preconceitos ou erros modernos, enfeitando-se com o belo nome de liberdade. Ora, por liberdade de espírito entendemos o estado duma alma, a qual nada impede em seu impulso para a perfeição, em seu vôo para Deus. São Bento quer que o seu discípulo tenha a alma bem à vontade, o espírito inteiramente em paz. Se ao homem exterior ele impõe uma disciplina exata e uma regra à primeira vista severa, o homem interior, por sua vez, é posto em liberdade. Aí há um grande trabalho, e São Bento não faz nenhuma dificuldade em reconhecer que os começos são um pouco penosos. Via salutis non nisi angusto initio incipienda. É o trabalho indispensável para desembaraçar a alma dos entraves que ela trouxe consigo ao vir do mundo. O pecado, e sobretudo o hábito do pecado, o desregramento das afeições, as miseráveis exigências duma vida demasiado sensual, são outros tantos obstáculos à santa liberdade de um filho de Deus. Não é sem custo que se se desprende de tantos entraves; mas à medida em que deles alguém se desembaraça, a dificuldade diminui e, depois, ela desaparece rapidamente, e o monge, feito obediente, não encontra mais na Regra nada de pesado, nada de difícil. Nihil asperum, nihil grave. Talvez, ao começar, ele mais se arrastava do que andava; contudo avançava, e isso é que é importante. Desde a primeira hora, São Bento pede que seu discípulo esteja de boa vontade: Admonitionem pii patris libenter excipe. Quer que ele esteja alerta, bem decidido. Se Deus lhe clama: Quem quer a vida eterna? Ele Lhe responde: Eu! Como caminhará aquele que assim começou? Após a dificuldade da primeira hora o caminho de Deus se alarga e, aumentando no discípulo de São Bento a boa vontade, ele antes corre do que anda. São Bento o diz claramente, e só no Prólogo da Regra, encontramos até três vezes este termo correr. “Se queremos chegar ao céu, diz o santo patriarca, não chegamos aí senão correndo: Nisi currendo minime pervenitur”_. E mais adiante: “É preciso correr e fazer agora o que nos deve aproveitar para a eternidade. Currendum et agendum est modo quod in perpetuum nobis expediat”. Pelo fim do mesmo Prólogo, São Bento repete ainda uma vez sua palavra favorita: “Com o coração dilatado, diz ele, por uma inenarrável doçura de amor, corre-se no caminho dos mandamentos de Deus: Dilatato corde, inenarrabili dilectionis dulcedine, curritur via mandatorum Dei”. São Gregório Magno refere um fato extremamente interessante que citamos aqui, pois ele tem a sua significação. Havia na Campânia um solitário chamado Martinho. Morava numa caverna, estava preso a ela por uma cadeia de ferro, duma parte ligada a seu pé e de outra chumbada ao rochedo da caverna. São Bento soube do fato deste solitário e lhe mandou dizer: “Se és servo de Deus, não deves estar retido por uma cadeia de ferro, mas pela cadeia de Cristo: Si servus Dei es, non teneat te catena ferri, sed catena Christi”. O solitário obedeceu logo à palavra de São Bento: com efeito, a cadeia de Jesus Cristo lhe foi suficiente, pois, após ter deixado a sua cadeia de ferro, continuou do mesmo modo prisioneiro em sua caverna. São Bento nos clama a todos a mesma coisa: Non teneat te catena ferri: deixai cair as cadeias de ferro de vossos pecados, de vossas paixões, de vossas vontades; há uma cadeia mais salutar, mais suave, mais leve, é a cadeia de Cristo: Catena Christi. Todas as outras são fardos, ela é porém a própria liberdade; nós não a levamos, ela é que nos leva. Portanto, como ela é desejável! Quando o discípulo de São Bento encontrou este tesouro, todas as observâncias se cumprem sem custo nenhum: Absque ullo labore. O segredo desta facilidade no bem é que se aprendeu a amar o rei pelo qual se combate. Age-se então pelo princípio do amor de Jesus Cristo: Amore Christi. Este novo amor fez nascer um homem novo que, com hábitos novos, caminha livremente para o céu: Consuetudine ipsa bona. Então as virtudes cristãs e monásticas enchem o coração com uma suavidade incomparável: Delectatione ipsa virtutum. Como é fácil, depois disso, correr no caminho: Currendum et agendum est modo quod in perpetuum nobis expediat! O discípulo não corre sozinho; São Bento está com ele, e vela com uma solicitude incomparável para que nada venha perturbar ou contristar o pacífico habitante da casa de Deus. Nemo perturbetur neque contristetur in domo Dei. No exterior nada perturba o monge fiel, pois tudo é muito bem regulado na casa de Deus. No interior nada existe que o possa entristecer: perto dele há um pai sempre vigilante, e um Deus que ama sem jamais interromper o ato divino pelo qual nos ama. Havia saboreado este ensinamento, o autor que escrevia o seguinte: “Ó Senhor meu Deus, livrai-me de minhas paixões e curai o meu coração de todas as suas afeições desordenadas, a fim de que, curado interiormente e bem purificado, eu me torne apto para amar. É uma grande coisa o amor: é um bem inteiramente grande. Só ele torna leve qualquer fardo; à própria amargura ele dá doçura e gosto. O amor quer estar no alto:  quer ser livre. Corre, voa, rejubila-se: é livre, nada o retém. Se alguém ama, este compreende”. CAPÍTULO XIII Um Testemunho A liberdade de espírito é um dos bens que devemos ao Cristianismo; São Paulo ensina-o formalmente: “Onde está o Espírito do Senhor, diz, aí está a liberdade”. E noutra passagem: “Vós fostes chamados para a liberdade, meus irmãos”. Esta mesma liberdade é um dos caracteres do espírito de São Bento. Eis a este respeito um testemunho particularmente interessante. Nós o devemos ao sábio e piedoso Pe. Faber, do Oratório de Londres: “Onde reina a lei de Deus, onde sopra o Espírito de Cristo, aí existe a liberdade. Ninguém pode ler os escritos espirituais da antiga escola de São Bento, sem notar com admiração a liberdade de espírito pela qual a sua alma estava penetrada. É precisamente o que nós temos o direito de esperar de uma Ordem cujas tradições são tão respeitáveis. Seria um grande bem para nós possuir um maior número de exemplares e de traduções de suas obras. Santa Gertrudes é um belo exemplo disso. Ela respira em todo o lugar o espírito de São Bento… O espírito da religião católica é um espírito fácil, um espírito de liberdade; e aí estava sobretudo o apanágio dos ascetas Beneditinos da velha escola. Os escritores modernos procuram circunscrever tudo, e este deplorável método fez mais mal do que bem”. CAPÍTULO XIV A luz em todas as coisas No capítulo XLI da Regra, São Bento, ao tratar da hora das refeições, estabelece que na Quaresma se jantará depois das Vésperas, mas de tal modo que a refeição termine à luz do dia. Após ter disposto todas as coisas para que assim se façam, acrescenta, para terminar todo o capítulo, esta reflexão: Que tudo se faça com luz: Cum luce fiant omnia. Dizíamos num capítulo precedente: É preciso saber! E nós cremos poder aproximar esta palavra da máxima de São Bento: cum luce fiant omnia. Que tudo se faça com luz. O espírito dos santos, formado na escola do Espírito de Deus, é como Este, ao mesmo tempo uno e múltiplo. Lemos no livro da Sabedoria que o Espírito Santo, Espírito de inteligência é uno e múltiplo: Spiritus intelligentiae Sanctus, unicus, multiplex. Igualmente o espírito dos santos é uno, porque se recolhe todo em Deus e na Sua santa vontade; ele é múltiplo, porque na sua unidade abarca a extensão imensa dos caminhos de Deus e todo o conjunto tão harmonioso dos meios de chegar a Ele. Quando São Bento, falando das refeições, diz que tudo se faça com a luz do dia, ele vai muito além. À luz do dia se sobrepõe a luz espiritual que Deus infunde nas almas. Estas também têm a sua luz e a sua refeição. Alimentam-se com a verdade eterna, desalteram-se na fonte da vida. A hora abençoada destas refeições celestes é a da oração, da salmodia, do Sacrifício eucarístico, da comunhão e mais tarde será a da visão de Deus no céu. Ora, em todas estas coisas, há uma luz que São Bento deseja para seus filhos. É preciso saber! As trevas têm algo de entristecedor, de repugnante, de terrificante. Mesmo sob o ponto de vista material, São Bento não quer que haja trevas no mosteiro: uma lâmpada deve iluminar o dormitório até o nascer do dia. Com mais forte razão, é preciso luz para as almas. A meia luz não basta; a fé procura compreender sempre melhor: Fides quaerit intellectum, é a palavra de Santo Anselmo. É preciso luz plena e total. Nosso Senhor o disse numa parábola: Tende na mão uma tocha acesa. E São Paulo dizia e escrevia a seus fiéis: Sois filhos da luz, do dia claro: não filhos da noite nem das trevas. Quando, rodeado de seus irmãos, São Bento cantava o Ambrosiano, o hino de Santo Ambrósio: Splendor paternae gloriae, como deveria saborear Aquele que é a luz, que nesse hino encontra-se denominado Plena aurora; Aurora totus! Para nós plena aurora, para os anjos todo luz no seu zênite. Arrebatado de alegria nos esplendores desta aurora, ele saboreava a doçura das iluminações divinas, e esperando o grande dia da eternidade, ele penetrava já nas profundezas das claridades superiores. “Enquanto os irmãos dormiam, São Bento, de pé junto à janela, estava em oração antes da hora das Matinas. Levantou então os olhos e, de repente, viu descer do alto uma luz tão grande que todas as trevas foram dissipadas por um esplendor bem superior à luz do dia. E neste esplendor, que não era da terra, o santo viu o mundo inteiro ser trazido diante dele e condensado como debaixo de um só raio de sol”. Quando, depois de tais graças, retornava para junto de seus irmãos, a fim de regular até as coisas mais comuns da vida, São Bento dizia com um acento muito profundo: Que tudo se faça com luz: Cum luce fiant omnia. É preciso notar que estas harmonias maravilhosas que enchiam a alma do santo, estendiam-se até à forma com a qual se revestia o seu pensamento. Como trabalhada, poetizada por uma inspiração celeste, a expressão tomava a forma dum verso jâmbico duma beleza perfeita: Cum luce fiant omnia. Verdadeiramente, seria bom, seria agradável ler assim, ler freqüentemente com o espírito dos santos. CAPÍTULO XV A glória de Deus em todas as coisas Leiamos mais uma vez com o espírito de São Bento. Nós o ouvimos prescrevendo a luz em todas as coisas: escutemo-lo cantando a glória de Deus em tudo. No capítulo LVII da Regra, São Bento edita diversas prescrições aos artesãos, aos artistas que se podem encontrar no mosteiro. Ele quer que as obras deles sejam vendidas abaixo do preço fixado entre os seculares e, querendo dar à lei que estabelece um fim inteiramente sobrenatural, termina com esta admirável sentença: “A fim de que em todas as coisas Deus seja glorificado: Ut in omnibus glorificetur Deus”. Certo dia, uma criança sem instrução tinha lido alguns capítulos da Regra de São Bento. Maravilhada com eles, manifestava seus sentimentos com estas palavras: Como isto leva diretamente a Deus! Sim, diretamente a Deus! Aí está todo o ensinamento de São Bento. Diretamente a Deus, e é preciso não somente andar, mas correr para o Senhor. O santo diz isto por três vezes, desde o prólogo da Regra, e o repete ainda no último capítulo. Assim diz: “Correndo em linha reta cheguemos até o nosso Criador: Recto cursu perveniamus ad Creatorem nostrum”. Assim, bem determinado o objetivo: Deus, e o meio bem definido de o atingir: a corrida, compreende-se que São Bento queira que Deus seja em tudo glorificado. Ut in omnibus glorificetur Deus. Nossos pais atribuíam a esta bela máxima um valor inestimável. Eles a tinham no coração, a exemplo de seu Pai: ela lhes era muito familiar, e de bom grado a escreviam somente com as iniciais latinas: U.   I.   O.   G.   D. Portanto, digamos com São Bento: Que em todas as coisas Deus seja glorificado! Com ele corramos! Com ele diretamente para Deus! #DoutrinaMonástica

  • A Missa de Lutero

    Conferência de Dom Lefebvre Florence – 15 de fevereiro de 1975 Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “DO LUTERANISMO AO PROTESTANTISMO” de Léon Cristiani) Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções. Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo. O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio. Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade. Portanto, é o Sacrifício da Cruz que se renova sobre nossos altares, e o Sacerdócio está em relação com ele, em relação essencial com esse Sacrifício. Não se compreende o Sacerdócio sem o Sacrifício, porque o Sacerdócio foi feito para o Sacrifício. Poder-se-ia dizer também: é a Encarnação de Jesus Cristo, séculos a fora: usque ad finem temporum (1) , o Sacrifício da Missa será oferecido. Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício, quis também ser nele a vítima, uma vez que é o Sacrifício da Cruz que continua, Ele quis que a vítima fosse sempre a mesma, quis ser Ele próprio a vítima. Para ser a vítima, Ele tem que estar presente, verdadeiramente presente nos nossos altares. Se Ele não estiver presente, se não houver a Presença Real nos nossos altares, não haverá vítima, não haverá Sacerdócio. Tudo está ligado: Sacerdócio, Sacrifício, Vítima, Presença Real, portanto TRANSUBSTANCIAÇÃO. Aí está “o coração” do tesouro – o maior, o mais rico – que Nosso Senhor concedeu à Sua Esposa, a Igreja e a toda a humanidade. Assim podemos compreender que, quando Lutero quis transformar, mudar esses princípios, começou por combater o Sacerdócio; como o fazem os modernistas. Pois Lutero bem sabia que se o Sacerdócio desaparecesse, não mais haveria Sacrifício, não mais haveria Vítima, não haveria mais nada na Igreja, não mais haveria a fonte das graças. Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio? Dizendo: “Não existe diferença entre padres e leigos. O Sacerdócio é universal”. Tais eram as idéias que ele propagava. Ele dizia que há três muros de defesa cercando a Igreja. O primeiro muro é essa diferença entre padres e leigos. (Sua Excia. então lê): “A descoberta de que o Papa, os bispos, os padres, os religiosos compõem o Estado Eclesiástico, ao passo que os príncipes, os senhores, os artesãos, os camponeses formam o estado secular, é pura invenção, uma mentira”. Essa diferença entre padres e leigos é então uma invenção, uma mentira. Eis o que diz Lutero: “Na realidade, todos os cristãos pertencem ao estado eclesiástico”. Não há diferença, a não ser a diferença de funções, de serviço. Todos têm o Sacerdócio a partir do Batismo; têm-no em razão do caráter batismal, todos os cristãos são padres e os padres não têm um caráter especial, não há um sacramento especial para os padres, mas seu caráter sacerdotal lhes vem do caráter do Batismo. Assim também se explica esta laicização dos padres; eles não querem mais ter uma veste particular, não querem mais se distinguir dos fiéis, porque todos são padres; e são os fiéis que devem escolher os padres, eleger os seus padres. Tais foram os princípios de Lutero, que prossegue: “Se um Papa ou um Bispo confere a unção, faz tonsuras, ordena, consagra ou dá uma veste diferente aos leigos ou aos padres, está criando enganadores”. Todos são consagrados padres, a partir do Batismo. Os progressistas do nosso tempo não descobriram novidades. Há um novo livro sobre os Sacramentos, aparecido em janeiro deste ano em Paris, sob a autoridade do Arcebispo, o Cardeal Marty. Saiu há pouco. Seus autores descobriram oito sacramentos, não mais sete, porque o oitavo sacramento é a profissão religiosa. Eles dizem claramente, nesse livro, que todos os fiéis são padres e que o caráter sacerdotal vem do caráter do Batismo. Os autores, por certo, devem ter lido Lutero, transformado para eles em Padre da Igreja. Lutero deu também outro passo à frente, após a supressão do Sacerdócio. Ele não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício. E disse claramente que a Missa não é um Sacrifício. A Missa é uma Comunhão. Podemos então chamar a Missa de Comunhão, Ceia, Eucaristia, tudo, menos Sacrifício. Não há, portanto, Vítima, nem Presença Real, mas apenas uma presença espiritual, uma recordação ou comunhão. Foi por isso que Lutero sempre combateu as Missas privadas; foi uma das primeiras coisas feitas por ele, porque uma Missa privada não é uma Comunhão. É preciso que os fiéis comunguem. A Missa privada, então, não está conforme a verdade, é preciso suprimir todas as Missas privadas. Ele chamava a Eucaristia de “Sacramento do Pão”. A Eucaristia, (dizia ele), tornou-se uma lamentável maldade. Essa “maldade” da Missa provém de terem feito dela um Sacrifício. Somos forçados a constatar que não se fala mais de Sacrifício da Missa nos boletins diocesanos ou paroquiais, mas de Eucaristia, de Comunhão, de Ceia. Que singular semelhança com as teses de Lutero! Além disso, Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa. Ele diz que um dos fins do Sacrifício da Missa é render graças a Deus. A Eucaristia é um SACRIFICIUM LAUDIS, mas não um SACRIFICIUM EXPIATIONIS, não um Sacrifício de expiação, mas de louvor, de eucaristia. Por isso é que se certos protestantes ainda falam de Sacrifício, nunca o é no sentido de sacrifício expiatório, que remite os pecados. No entanto se trata de um dos principais fins do Sacrifício da Missa, a remissão dos pecados. Por isso é que os protestantes modernos aceitam o novo rito da Missa, porque, dizem eles, (isso saiu publicado em uma revista da Diocese de Estrasburgo, noticiando uma reunião de protestantes da Confissão de Augsburgo), agora, com o novo rito, é possível rezar com os católicos. (L’Eglise en Alsace de 8-12-1973 e 1-1-1974). “De fato, com as atuais formas de celebração eucarística da Igreja Católica, e com as presentes convergências teológicas, muitos obstáculos que podiam impedir que um protestante participasse da celebração eucarística estão desaparecendo e agora vai se tornando possível reconhecer na celebração eucarística católica, a Ceia instituída pelo Senhor. Temos à disposição novas orações eucarísticas, que têm a vantagem de apresentar variações à Teologia do Sacrifício”. Isso é evidente! Há duas semanas atrás, estando eu na Inglaterra, soube que um bispo anglicano adotou, ultimamente, o novo rito católico para toda a sua diocese. E declarou: “Este novo rito é muito conforme com as nossas idéias protestantes.” É pois evidente que para os protestantes, não há mais dificuldades para admitir o novo rito. Por que eles não tomam o antigo rito? Foi o que o Senhor Salleron perguntou aos padres de Taizé: “Por que dizeis que hoje podeis admitir este novo rito e não o antigo?” Portanto há uma diferença entre o novo e o antigo e esta diferença é essencial; não é uma diferença acidental, porque eles não aceitam usar o antigo rito, com todas as orações dotadas de precisão e que esclarecem realmente a finalidade do Sacrifício: propiciatório, expiatório, eucarístico e latrêutico. Esta é a finalidade do Sacrifício da Missa católica que, claro no antigo rito, não o é mais no novo rito, porque não há mais Ofertório. E é também por isso que Lutero não quis Ofertório no rito dele. Vejamos como Lutero inaugurou sua nova Missa, sua reforma. A primeira missa evangélica foi levada a efeito na noite de 24 para 25 de dezembro de 1521. Nessa primeira missa evangélica, depois da pregação sobre a Eucaristia, eles falaram sobre a Comunhão sob as duas espécies como obrigatória e sobre a Confissão como inútil, bastando a fé. A seguir, Karlstadt, seu discípulo, apresentou-se no altar, com vestes seculares, recitou o Confiteor, começou a Missa como era antes, mas somente até o Evangelho; o Ofertório e a Elevação foram supressos (pág.282), o que quer dizer que tudo o que significava idéia de Sacrifício foi retirado. Após a Consagração veio a Comunhão e muitos assistentes haviam bebido e comido e até tomado aguardente, antes de comungar; comungaram sob as duas espécies e o pão consagrado, (dado) nas mãos. Uma das hóstias escapole e cai em cima da roupa de um assistente. Um padre a recolhe. Uma outra cai no chão e Karlstadt diz aos leigos para apanhá-la; e como eles se recusam, por respeito ou temor, ele declara: “Que ela permaneça onde está, pouco importa, contanto que não se pise em cima”. Pouco depois ele próprio a apanhou (pág.282). Muitos leigos, inúmeras pessoas estavam contentes com a novidade e eram muitos os que vinham assistir a essa nova Missa evangélica, porque uma parte era dita em língua alemã, e eles diziam que compreendiam melhor. Então os mosteiros começaram a se esvaziar. Lutero tinha declarado: “Eu conservarei o meu hábito, meu modo de me apresentar como monge”, mas muitos monges saíram; alguns ficaram nos mosteiros, mas a maioria se casou. Reinava grande anarquia entre os padres. Cada um celebrava sua missa como queria. O Concelho não sabia mais o que fazer (pág.285), tomando então a resolução de fixar uma nova liturgia, de não mais deixar a liberdade e de por um pouco de ordem. A maneira de celebrar a Missa deveria ser então a seguinte: Intróito, Glória, Epístola, Evangelho, Sanctus. Depois havia uma pregação; Ofertório e Cânon ficavam supressos; o padre então pronunciava a instituição da Ceia, que ele proferia, em voz alta, em alemão e distribuía a Comunhão sob as duas espécies. Depois vinha o Agnus Dei e o Benedicamus Domino, para terminar. As modificações da Consagração introduzidas no Novus Ordo são semelhantes às que foram introduzidas por Lutero; as palavras essenciais da Consagração não são mais unicamente as palavras da forma, tais como sempre tinham sido conhecidas: “HOC EST CORPUS MEUM. HIC EST CALIX SANGUINIS MEI,” e as palavras que lhe seguem. Não! A partir de então, as palavras essenciais começam nos seguintes termos: “Ele tomou o pão”, até as palavras após a consagração do vinho: “HOC FACITE IN MEAM COMMEMORATIONEM”. Lutero disse a mesma coisa. Por que? Porque se lê a narrativa da Ceia. “É uma narrativa, não uma ação, não um Sacrifício, não uma ação sacrifical, mas um simples memorial”. Por qual razão nossos inovadores o copiaram de Lutero? Lutero diz também: “As Missas e as Vigílias estão encerradas. O Ofício será conservado, assim como as Matinas, as Horas menores, as Vésperas, Completas, mas somente o Ofício ferial. Não se comemorará mais santo algum que não esteja expressamente nomeado na Escritura”. Desse modo, ele mudou completamente o Calendário, exatamente como foi feito atualmente (pág.309). Donde podemos concluir: A atual transformação é idêntica à de Lutero. Um último exemplo, o das palavras da Consagração do pão: “HOC EST CORPUS MEUM, QUOD PRO VOBIS TRADETUR”. Também Lutero acrescentou essas últimas palavras, porque, justamente são palavras da Ceia, pois ele pretendia que a Ceia não fosse um Sacrifício, mas uma refeição. Ora, o Concílio de Trento diz explicitamente: Quem disser que a Ceia não é um Sacrifício seja anátema. A Ceia foi um Sacrifício. E nossa Missa é a continuação da Ceia, porque a Ceia foi um Sacrifício. Isso já se constata na separação prévia do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. O Sacrifício já estava significado por essa separação, no entanto Lutero afirma: “Não. A Ceia não é um Sacrifício”, é por isso que nós devemos repetir todas as palavras que Nosso Senhor disse na Ceia, ou seja: “HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR”, que será entregue por vós sobre a Cruz. Por que imitar tão servilmente a Lutero na Nova Missa? A única razão que se pode aduzir é a do Ecumenismo. Pois sem esse motivo, nada se pode compreender dessa reforma. Ela não tem absolutamente vantagem alguma, nem teológica, nem pastoral. Nenhuma vantagem a não ser a de nos aproximar dos protestantes. Podemos legitimamente pensar, que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?! Lutero, em janeiro de 1526, promoveu a impressão de um novo ritual para as cerimônias da Missa. No seu pensamento, ele queria a liberdade total. E dizia (pág.314): “Se possível, eu gostaria de dar total liberdade aos padres, para fazerem o rito que quiserem; mas há o perigo de abusos, então é preciso estabelecer regras”. Seu pensamento, porém era de liberdade total. E também de igualdade entre os padres e os fiéis. E assim, todos os fiéis sendo padres, poderiam, também eles, ter idéias de como criar o culto. Então, todos juntos, aqueles que são padres, aqueles que têm uma função especial, aqueles que são escolhidos dentre os fiéis, todos juntos podem demonstrar sua criatividade no culto. Mas como era um pouco difícil, acabaria havendo bastante desordem, então ele escreveu um ritual. Nessa ocasião ele dizia também: “O uso do latim é facultativo”. Ele não era absolutamente contra o latim. Queria até que as crianças aprendessem latim. Mas também dizia: “O desejo dos leigos comuns de ter uma Missa em alemão é perfeitamente legítimo. Contudo há pessoas que vão à Igreja para ver novidade, para ver coisas novas. Esses, no entanto, não são verdadeiros cristãos, são curiosos, como se fossem aos turcos ou aos pagãos. Nos domingos se celebra a Missa. Mas Lutero conserva a palavra Missa com certa repugnância. As vestes sagradas, as velas são ainda mantidas provisoriamente. Começa-se com o Intróito em alemão, depois o Kyrie, depois uma Oração cantada pelo celebrante, ainda voltado para o altar, não para o povo. Mas para a Epístola e para o Evangelho, cantados em alemão, se voltará para o povo, quando então todos cantam o Credo em língua vulgar (pág.316). O celebrante dirá uma paráfrase do Pater, uma exortação à Comunhão, depois vem a Consagração, que será cantada, em alemão, assim: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão, rendeu graças e o partiu e apresentou a seus discípulos e disse: Tomai e comei, isto é o meu Corpo que é dado por vós”. – HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR; estas são as palavras exatas –. “Fazei isto todas as vezes que o fizerdes, em memória de mim. Do mesmo modo, Ele tomou também o cálice, após a Ceia e disse: Tomai e bebei dele todos, este é o cálice, um novo Testamento em meu Sangue, que é derramado por vós, para a remissão dos pecados”. Não disse PRO VOBIS ET PRO MULTIS, fez desaparecer as palavras PRO MULTIS e também MYSTERIUM FIDEI. (pág. 317) Mysterium fidei e pro multis desapareceram… “Que é derramado por vós, para a remissão dos pecados, fazei isso todas as vezes que beberdes esse cálice em memória de mim”. Essas palavras que Lutero dizia ser a consagração, portanto as palavras essenciais, correspondem exatamente às palavras do documento da Congregração do Culto. A única expressão a mais é pro multis, que restou no documento do Vaticano. Mas todas as palavras, assim como as que são ditas antes: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor tomou o pão”, essas palavras não são da forma; nunca a Igreja disse que as palavras, que precedem a Consagração, fazem parte da forma do Sacramento. Depois da elevação, que Lutero conservou até 1542, vinha a Comunhão na mão. Uma última oração – a coleta – terminava a Missa como a Postcomunio dos católicos (págs.317-318). Evidentemente Lutero não aceitou o celibato e lutou contra os votos dos religiosos. Ele queria o fim desses costumes da Igreja. Mas, coisa bastante curiosa, ele sempre teve certo medo das reformas que ele tinha feito. Seus discípulos iam na vanguarda, mais depressa do que ele; ele sempre estava um pouco ansioso. Dizia a seus discípulos: “Eu condeno a nova prática de dar a Eucaristia de mão em mão, bem como o uso irrefletido da Comunhão sob as duas espécies”. Isso nos primeiros tempos, depois ele aceitou; mas logo de começo lhe parecia que essa Comunhão na mão não era boa coisa. Depois de ter dito que a Confissão não era necessária, mesmo para aqueles que tinham pecados graves, hesitou e disse: “A Confissão é boa, mas se o Papa me pedir para me confessar, eu me recusarei a fazê-lo, eu não me quero confessar. Nem por isso eu aceito que alguém me proíba essa confissão secreta. Eu não a cederei nem por todos os tesouros da terra, porque eu sei o que ela já me proporcionou de força e de consolação…” Lutero estava roído de remorsos, no entanto vivia devorado pela necessidade de fazer novidades, de mudar tudo, de ir contra o Papa, contra a Igreja Romana, contra o dogma. Por isso ele continuou sua reforma. É evidente que a reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero. Eu disse isso, em Roma, a muitos Cardeais: “Vossa nova Missa é a Missa de Lutero!” A isso me foi respondido: “Mas então ela é herética!” E eu respondi: “Não, ela não é herética, mas é ambígua, equívoca, pois um pode celebrá-la com a fé católica integral do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação e outro pode celebrá-la sem ter essa intenção e, nesse caso, a Missa não será mais válida. As palavras que ele pronuncia e os gestos que ele faz não o contradizem. Ela é equívoca, sim, equívoca. E certamente Lutero, durante muitos anos, a celebrou validamente, quando ele ainda não estava contra o Sacrifício, quando ele era ainda mais ou menos católico. Porém, mais tarde, quando ele recusou o Sacrifício, o Sacerdócio, a Presença Real, então sua Missa passou a não ter mais validade. Mas como uma Missa pode ser assim equívoca? É impossível fazer isso com o antigo rito, porque ele é claro, ele é claro. O Ofertório todo diz com clareza o que nós realizamos. O Ofertório é uma verdadeira definição do Sacrifício da Missa. Por isso é que Lutero era contra o Ofertório, porque ele era por demais claro, e foi por isso que ele fez aquelas mudanças no Cânon para não deixar perceber se é uma narração ou uma ação; mas nós, nós sabemos que a Consagração é uma ação sacrifical. Eles sabem que em nossos antigos Missais, antes do Communicantes, está escrito INFRA ACTIONEM, pois não se trata de uma narração, nem de um memorial, uma simples recordação. É uma ação. Uma ação sacrifical. Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os padres novos, que não têm mais a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação, para os quais tudo isso não significa mais nada, esses padres novos perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz, e não celebram mais missas válidas; não há mais a Presença Real. Certamente os padres idosos, quando celebram conforme o novo rito, conservam ainda a fé de sempre. Celebraram a Missa no antigo rito, durante tantos anos, que conservam as mesmas intenções; então se pode crer que a Missa deles é válida. Mas na medida em que essas intenções se vão, desaparecem, nessa mesma medida as Missas deixarão de ser válidas. Eles quiseram se aproximar dos protestantes, mas foram os católicos que se tornaram protestantes e não os protestantes que se tornaram católicos. Isso é evidente, ninguém pode dizer o contrário. Quando cinco Cardeais e quinze Bispos compareceram ao “Concílio dos Jovens”, em Taizé, como esses jovens poderiam saber o que é catolicismo e o que é protestantismo? Alguns receberam a Comunhão das mãos dos protestantes, outros dos católicos. Quando o Cardeal Willebrands esteve em Genebra, no Concelho Ecumênico das Igrejas, declarou: “Temos que reabilitar Lutero”.Ele o disse, como enviado da Santa Sé. Vede a Confissão. Em que se transformou a Confissão, o Sacramento da Penitência, com essa absolvição coletiva? É acaso pastoral esse modo de dizer aos fiéis: “Nós demos a absolvição coletiva, os senhores podem comungar; quando tiverem oportunidade, se tiverem pecados graves, confessem-se no prazo de seis meses a um ano…” Quem pode dizer que esse modo de proceder é pastoral? Que idéia se poderá fazer do pecado grave? E a Confirmação. O Sacramento da Confirmação também está numa situação idêntica. Realmente eu penso que as palavras do livro dos Sacramentos da Comissão do Arcebispo de Paris, que constituem a forma, tornam o Sacramento inválido. Por que? Porque não há mais a significação do Sacramento na forma. O Bispo, quando confere o Sacramento da Confirmação, diz: “Signo te, signo Crucis et confirmo te Chrismate salutis, in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” e “CONFIRMO TE CHRISMATE SALUTIS”. A Confirmação: “CONFIRMO TE.” Agora estão dizendo: “Eu te assinalo com a Cruz e recebe o Espírito Santo”. É obrigatório esclarecer qual a graça especial do Sacramento, no qual se confere o Espírito Santo. Se não se diz esta palavra: “Ego te confirmo in nomine Patris…” Não há o Sacramento! Eu o disse também aos Cardeais, porque eles me declararam: “O senhor confere a Confirmação sem ter o direito de o fazer”. – “Eu o faço, porque os fiéis têm medo que seus filhos fiquem sem a graça da Confirmação, porque eles têm dúvida a respeito da validade do Sacramento, que é conferido atualmente nas igrejas. Não se sabe mais se é verdadeiramente um Sacramento ou não. Então, ao menos para ter essa certeza de ter realmente a graça, me pedem para crismar, e eu o faço porque me parece que eu não posso recusar aos que me pedem a Confirmação válida, pois ao menos eles recebem a graça, mesmo que não seja lícito, porque nós estamos num tempo em que o direito divino natural e sobrenatural passa à frente do direito positivo eclesiástico, já que este se lhe opõe, em vez de lhe servir de canal”. Estamos em uma crise extraordinária. Nós não podemos seguir essas reformas. Onde estão os frutos dessas reformas? Eu, de fato, me pergunto! Reforma litúrgica, reforma dos seminários, reforma das congregações religiosas, todos esses capítulos gerais! Onde eles estão colocando essas pobres congregações atualmente? Tudo se acabando…! Não há mais noviços, não há mais vocações…! Eles próprios reconhecessem que não há mais vocações. O Cardeal Arcebispo de Cincinatti o reconheceu também no Sínodo dos Bispos, em Roma: “Em nossos países (ele representava todos os países de língua inglesa), não há mais vocações, porque não sabem mais o que é o padre”. Nós devemos nos conservar na Tradição. Só a Tradição nos concede realmente a graça, nos proporciona realmente a continuidade na Igreja. Se abandonarmos a Tradição, passaremos a contribuir para a demolição da Igreja. Também isso eu disse àqueles Cardeais! “Não vedes que o Esquema da Liberdade Religiosa do Concílio é um esquema contraditório? Na primeira parte do Esquema está dito: “Nada muda na Tradição”, e , dentro do Esquema, está tudo ao contrário da Tradição. O contrário do que disseram Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII”. Portanto é preciso escolher! Ou estamos de acordo com a liberdade religiosa do Concílio e então somos contrários ao que esses Papas disseram, ou então nos conservamos de acordo com esses Papas e então nos recusamos a concordar com o que está contido no Esquema sobre a Liberdade Religiosa. É impossível estar de acordo com os dois. E acrescentei: EU ME ATENHO À TRADIÇÃO, EU SOU PELA TRADIÇÃO, E NÃO POR ESSAS NOVIDADES QUE CONSTITUEM O LIBERALISMO. NÃO É ABSOLUTAMENTE OUTRA COISA SENÃO O LIBERALISMO, QUE FOI CONDENADO POR TODOS OS PONTÍFICES, DURANTE SÉCULO E MEIO. ESSE LIBERALISMO PENETROU NA IGREJA ATRAVÉS DO CONCÍLIO: A LIBERDADE, A IGUALDADE, A FRATERNIDADE. A LIBERDADE: a liberdade religiosa; A FRATERNIDADE: o Ecumenismo. A IGUALDADE: a Colegialidade. E estes SÃO OS TRÊS PRINCÍPIOS DO LIBERALISMO, ORIGINADO DOS FILÓSOFOS DO SÉCULO XVIII, E QUE LEVOU A EFEITO A REVOLUÇÃO FRANCESA. FORAM ESSAS IDÉIAS QUE ENTRARAM NO CONCÍLIO, POR MEIO DE PALAVRAS EQUÍVOCAS. E AGORA VAMOS À RUÍNA, A RUÍNA DA IGREJA, PORQUE ESSAS IDÉIAS SÃO ABSOLUTAMENTE CONTRA A NATUREZA E CONTRA A FÉ. NÃO EXISTE IGUALDADE ENTRE NÓS. NÃO EXISTE VERDADEIRA IGUALDADE. O PAPA LEÃO XIII DISSE ISSO BASTANTE CLARO, EM SUA ENCÍCLICA SOBRE A LIBERDADE. A FRATERNIDADE TAMBÉM! SE NÃO HOUVER UM PAI, COMO ACHAREMOS FRATERNIDADE? SE NÃO HÁ PAI, SE NÃO HÁ DEUS, COMO PODEMOS SER IRMÃOS? COMO SE PODE SER IRMÃO, SE NÃO HOUVER UM PAI COMUM? IMPOSSÍVEL! DEVEMOS ENTÃO ABRAÇAR TODOS OS INIMIGOS DA IGREJA, OS COMUNISTAS, OS BUDISTAS E TODOS OS OUTROS QUE SÃO CONTRA A IGREJA, OS MAÇONS? ESSE DECRETO DE UMA SEMANA ATRÁS, QUE DIZ QUE AGORA NÃO HÁ MAIS EXCOMUNHÃO PARA UM CATÓLICO QUE ENTRE NA MAÇONARIA. MAS ONDE ESTÁ A IGREJA? ISSO É IMPOSSÍVEL! OS MAÇÕES SÃO OS INIMIGOS TRADICIONAIS DA IGREJA, SÃO AQUELES QUE QUEREM DESTRUIR OS PAÍSES CATÓLICOS! QUEM DESTRUIU PORTUGAL? QUEM ESTAVA NO CHILE? E AGORA NO VIETNAM DO SUL! PORQUE ESSES PAÍSES SÃO CATÓLICOS! E QUE SERÁ DA ESPANHA DENTRO DE UM ANO, DA ITÁLIA, ETC…? PORQUE A IGREJA ABRE OS BRAÇOS A TODA ESSA GENTE QUE SÃO INIMIGOS DELA? Na verdade temos que rezar, rezar; é um assalto do demônio contra a Igreja, como jamais se viu igual. Devemos rezar a Nossa Senhora, a Bem-Aventura Virgem Maria, para que Ela venha em nosso socorro, porque realmente nós não sabemos o que será de amanhã. E realmente parece que toda essa ruína trará conseqüências terríveis ao mundo. É impossível que Deus aceite todas essas blasfêmias, sacrilégios que são praticados contra Sua Glória, Sua Majestade! Ele tem muita paciência, mas virá o dia (quando virá, eu não sei), virá o dia do castigo, porque todas essa legalizações, leis sobre o aborto, que vemos em tantos países, o divórcio na Itália, toda essa ruína da lei moral, ruína da verdade, realmente é difícil acreditar que tudo isso se possa fazer, sem que Deus fale um dia! Então temos que pedir a Deus misericórdia por nós e por nossos irmãos. Mas também temos que lutar, combater. Combater para conservar a Tradição e não ter medo. Conservar, acima de tudo, o rito de nossa Santa Missa, porque Ela é o FUNDAMENTO DA IGREJA e da civilização cristã. Quando não houver mais uma verdadeira Missa na Igreja, a Igreja acabará. Portanto temos que conservar esse rito, esse Sacrifício. Todas as nossas igrejas foram construídas para esta Missa, não para uma outra Missa; para o SACRIFÍCIO DA MISSA, não para uma Ceia, para uma Refeição, para um Memorial, para uma Comunhão, não! para o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que continua sobre nossos altares! Foi por isso que nossos pais construíram essas belas igrejas, não para uma Ceia, não para um Memorial, não! Conto com vossas orações por meus seminaristas, para fazer de meus seminaristas VERDADEIROS PADRES, que tenham FÉ e que possam assim, ministrar SACRAMENTOS VERDADEIROS e o VERDADEIRO SACRIFÍCIO DA MISSA. Obrigado. + MARCEL LEFEBVRE, ARCEBISPO. SUPERIOR DA FRATERNIDADE S. PIO X. 1. Até o fim dos tempos – (Nota do Tradutor). #DomMarcelLefebvre

  • Mortalium Animus

    CARTA ENCÍCLICA MORTALIUM ANIMOS DO SUMO PONTÍFICE PIO XI AOS REVMOS. SENHORES PADRES PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DOS LUGARES EM PAZ E UNIÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE A PROMOÇÃO DA VERDADEIRA UNIDADE DE RELIGIÃO Veneráveis irmãos: Saúde e Bênção Apostólica. 1. Ânsia Universal de Paz e Fraternidade Talvez jamais em uma outra época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos. Pois, embora as nações ainda não usufruam plenamente dos benefícios da paz, antes, pelo contrário, em alguns lugares, antigas e novas discórdias vão explodindo em sedições e em conflitos civis; como não é possível, entretanto, que as muitas controvérsias sobre a tranquilidade e a prosperidade dos povos sejam resolvidas sem que exista a concórdia quanto à ação e às obras dos que governam as Cidades e administram os seus negócios; compreende-se facilmente (tanto mais que já ninguém discorda da unidade do gênero humano) porque, estimulados por esta irmandade universal, também muitos desejam que os vários povos cada dia se unam mais estreitamente. 2. A Fraternidade na Religião. Congressos Ecumênicos Entretanto, alguns lutam por realizar coisa não dissemelhante quanto à ordenação da Lei Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor. Pois, tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a Ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual. Por isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre frequência de ouvintes e para elas convocam, para debates, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão. 3. Os Católicos não podem aprová-lo Sem dúvida, estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que juogam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império. Erram e estão enganados, portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada. 4. Outro erro. A união de todos os Cristãos. Argumentos falazes Entretanto, quando se trata de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são enganados mais facilmente por uma disfarçada aparência do que seja reto. Acaso não é justo e de acordo com o dever – costumam repetir amiúde – que todos os que invocam o nome de Cristo se abstenham de recriminações mútuas e sejam finalmente unidos por mútua caridade? Acaso alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida de suas forças, não procura realizar as coisas que Ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus discípulos fossem “UM” (Jo 17,21)? Acaso não quis o mesmo Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como que sinal e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se amassem: “Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes amor um pelo outro?” (Jo 13,35). Oxalá todos os cristão fossem “UM”, acrescentam: eles poderiam repelir muito melhor a peste da impiedade que, cada dia mais, se alastra e se expande, e se ordena ao enfraquecimento do Evangelho. 5. Debaixo desses argumentos se oculta um erro gravíssimo Os chamados “pancristãos” espalham e insuflam estas e outras coisas da mesma espécie. E eles estão tão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário, cresceram em fileiras compactas e uniram-se em sociedades largamente difundidas, as quais, embora sobre coisas de fé cada um esteja imbuído de uma doutrina diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos. Esta iniciativa é promovida de modo tão ativo que, de muitos modos, consegue para si a adesão dos cidadão e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos católicos, pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os desejos da Santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo quanto o reconvocar e o reconduzir os filhos desviados para o seu grêmio. Na verdade, sob os atrativos e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé. 6. A verdadeira norma nesta matéria Advertidos, pois, pela consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o rebanho do Senhor seja envolvido pela nocividade destas falácias, apelamos, veneráveis irmãos, para o vosso empenho na precaução contra este mal. Confiamos que, pelas palavras e escritos de cada um de vós, poderemos atingir mais facilmente o povo, e que os princípios e argumentos, que a seguir proporemos, sejam entendidos por ele pois, por meio deles, os católicos devem saber o que devem pensar e praticar, dado que se trata de iniciativas que dizem respeitos a eles, para unir de qualquer maneira em um só corpo os que se denominam cristãos. 7. Só uma religião pode ser verdadeira: A revelada por Deus Fomos criados por Deus, Criador de todas as coisas, para este fim: conhecê-lO e serví-lO. O nosso Criador possui, portanto, pleno direito de ser servido. Por certo, poderia Deus ter estabelecido apenas uma lei da natureza para o governo do homem. Ele, ao criá-lo, gravou-a em seu espírito e poderia portanto, a partir daí, governar os seus novos atos pela providência ordinária dessa mesma lei. Mas, preferiu dar preceitos aos quais nós obedecêssemos e, no decurso dos tempos, desde os começos do gênero humano até a vinda e a pregação de Jesus Cristo, Ele próprio ensinou ao homem, naturalmente dotado de razão, os deveres que dele seriam exigidos para com o Criador: “Em muitos lugares e de muitos modos, antigamente, falou Deus aos nossos pais pelos profetas; ultimamente, nestes dias, falou-nos por seu Filho” (Heb 1,1 Seg). Está, portanto, claro que a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se funda na palavra revelada de Deus; começando a ser feita desde o princípio, essa revelação prosseguiu sob a Lei Antiga e o próprio crisot completou-a sob a Nova Lei. Portanto, se Deus falou – e comprova-se pela fé histórica Ter ele realmente falado – não há quem não veja ser dever do homem acreditas, de modo absoluto, em deus que se revela e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de Deus e para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra, o Filho Unigênito de Deus instituiu na terra a sua Igreja. 8. A única religião revelada é a Igreja Católica Acreditamos, pois, que os que afirma serem cristão, não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso. Assim, por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si. Entretanto, cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça (Mt 16,18 seg.; Lc 22,32; Jo 21,15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo 3,5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18,18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa (Mt 16,18), a um redil de ovelhas (Jo 10,16) e a um rebanho (Jo 21,15-17). Esta Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir todos os homens à salvação eterna: “Ide, pois, ensinai a todos os povos” (Mt 28,19). Acaso faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: “Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?” (Mt 28,20). Deste modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18). 9. Um erro capital do movimento ecumêmico na pretendida união das Igrejas cristãs Ocorre-nos dever esclarecer e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender toda esta questão e proceder essa múltipla ação e conspiração dos acatólicos que, como dissemos, trabalham pela união das igrejas cristãs. Os autores desta opinião acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a Cristo dizendo: “Para que todos sejam um”… “Haverá um só rebanho e um só Pastos”(Jo 27,21; 10,16). Fazem-no todavia de modo que, por essas palavras, queriam significar um desejo e uma prece de cristo ainda carente de seu efeito. Pois opinam: a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe; que ela pode, sem dúvida, ser desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum das vontades; mas que, entrementes, deve existir apenas uma fictícia unidade. Acrescentam que a Igreja é, por si mesma, por natureza, dividida em partes, isto é, que ela consta de muitas igreja ou comunidades particulares, as quais, ainda separadas, embora possuam alguns capítulos comuns de doutrina, discordam todavia nos demais. Que cada uma delas possui os mesmos direitos, que, no máximo, a Igreja foi única e una, da época apostólica até os primeiros concílios ecumênicos. Assim, dizem, é necessários colocar de lado e afastar as controvérsias e as antiquíssimas variedade de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão e, quanto às outras doutrinas, elaborar e propor uma certa lei comum de crer, em cuja profissão de fé todos se conhecam e se sintam como irmãos, pois, se as múltiplas igrejas e comunidades forem unidas por um certo pacto, existiria já a condição para que os progessos da impiedade fossem futuramente impedidos de modo sólido e frutuoso. Estas são, Veneráveis Irmãos, as afirmações comuns. Existem, contudo, os que estabelecem e concedem que o chamado Protestantismo, de modo bastante inconsiderado, deixou de lado certos capítulos da fé e alguns ritos do culto exterior, sem dúvida gratos e úteis, que, pelo contrário, a Igreja Romana ainda conserva. Mas, de imediato, acrescentam que esta mesma Igreja também agiu mal, corrompendo a religião primitiva por algumas doutrinas alheias e repugnantes ao Evangelho, propondo acréscimos para serem cridos: enumeram como o principal entre estes o que versa sobre o Primado de Jurisdição atribuído a Pedro e a seus Sucessores na Sé Romana. Entre os que assim pensam, embora não sejam muitos, estão os que indulgentemente atribuem ao Pontífice Romano um primado de honra ou uma certa jurisdição e poder que, entretanto, julgam procedente não do direito divino, mas de certo consenso dos fiéis. Chegam outros ao ponto de, por seus conselhos, que diríeis serem furta-cores, quererem presidir o próprio Pontífice. E se é possível encontrar muitos acatólicos pregando à boca cheia a união fraterna em Jesus Cristo, entretanto não encontrareis a nenhum deles em cujos pensamentos esteja a submissão e a obediência ao Vigário de Jesus Cristo enquanto docente ou enquanto governante. Afirmam eles que tratariam de bom grado com a Igreja Romana, mas com igualdade de direitos, isto é, iguais com um igual. Mas, se pudessem fazê-lo, não parece existir dúvida de que agiriam com a intenção de que, por um pacto que talvez se ajustasse, não fossem coagidos a afastarem-se daquelas opiniões que são a causa pela qual ainda vagueiem e errem fora do único aprisco de Cristo. 10. A Igreja Católica não pode participar de semelhantes reuniões Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo. 11. A verdade revelada não admite transações Acaso poderemos tolerar – o que seria bastante iníquo-, que a verdade e, em especial a revelada, seja diminuída através de pactuações? No caso presente, trata-se da verdade revelada que deve ser defendida. Se Jesus Cristo enviou os Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos que deviam ser instruídos na fé evangélica e, para que não errassem em nada, quis que, anteriormente, lhes fosse ensinada toda a verdade pelo Espírito Santo, acaso esta doutrina dos Apóstolos faltou inteiramente ou foi alguma vez perturbada na Igreja em que o próprio Deus está presente como regente e guardião? Se o nosso Redentor promulgou claramente o seu Evangelho não apenas para os tempos apostólicos, mas também para pertencer às futuras épocas, o objeto da fé pode tornar-se de tal modo obscuro e incerto que hoje seja necessários tolerar opiniões pelo menos contrárias entre si? Se isto fosse verdade, dever-se-ia igualmente dizer que o Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos, que a perpétua permanência dele na Igreja e também que a própria pregação de Cristo já perderam, desde muitos séculos, toda a eficácia e utilidade: afirmar isto é, sem dúvida, blasfemo. 12. A Igreja Católica: depositária infalível da verdade Quando o Filho unigênito de Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem anunciadas pela “testemunha pré-ordenadas por Deus” (At. 10,41). Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na consecução da salvação eterna, que não podem deixar de ser cumpridos, não poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro e claro a doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer perigo de errar. Afastam-se igualmente do caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente na terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos e disputas para encontrá-lo e possuí-lo que a vida dos homens seja apenas suficiente para isso, com se Deus benigníssimo tivesse falado pelos profetas e pelo seu Unigênito para que apenas uns poucos, e estes mesmos já avançados em idade, aprendessem perfeitamente as coisas que por eles revelou, e não para que preceituasse uma doutrina de fé e de costumes pela qual, em todo o decurso de sua vida mortal, o homem fosse regido. 13. Sem fé, não há verdadeira caridade Estes pancristãos, que empenham o seu espírito na união das igrejas, pareceriam seguir, por certo, o nobilíssimo conselho da caridade que deve ser promovida entre os cristãos. Mas, dado que a caridade se desvia em detrimento da fé, o que pode ser feito? Ninguém ignora por certo que o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que em seu Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus e que permanentemente costumavas inculcar à memória dos seus o mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros”, vetou inteiramente até mesmo manter relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de Cristo: “Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem digais a ele uma saudação” (2 Jo. 10). Pelo que, como a caridade se apóia na fé íntegra e sincera como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como no vínculo principal. 14. União Irracional Assim, de que vale excogitar no espírito uma certa Federação cristã, na qual ao ingressar ou então quando se tratar do objeto da fé, cada qual retenha a sua maneira de pensar e de sentir, embora ela seja repugnante às opiniões dos outros? E de que modo pedirmos que participem de um só e mesmo Conselho homens que se distanciam por sentenças contrárias como, por exemplo, os que afirmam e os que negam ser a sagrada Tradição uma fonte genuína da Revelação Divina? Como os que adoram a Cristo realmente presente na Santíssima Eucaristia, por aquela admirável conversão do pão e do vinho que se chama transubstanciação e os que afirmam que, somente pela fé ou por sinal e em virtude do Sacramento, aí está presente o Corpo de Cristo? Como os que reconhecem nela a natureza do Sacrifício e a do Sacramento e os que dizem que ela não é senão a memória ou comemoração da Ceia do Senhor? Como os que crêem ser bom e útil invocar súplice os Santos que reinam junto de Cristo – Maria, Mãe de Deus, em primeiro lugar – e tributar veneração às suas imagens e os que contestam que não pode ser admitido semelhante culto, por ser contrário à honra de Jesus Cristo, “único mediador de Deus e dos homens”? (1 Tim. 2,5). 15. Princípio até o indiferentismo e o modernismo Não sabemos, pois, como por essa grande divergência de opiniões seja defendida o caminho para a realização da unidade da Igreja: ela não pode resultar senão de um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé entre os cristãos. Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a negligência com a religião ou o Indiferentismo e para o denominado Modernismo. os que foram miseravelmente infeccionados por ele defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada, isto é, de acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com as várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada por uma revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos homens. Além disso, com relação às coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de modo algum, daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé, como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis: a Virtude sobrenatural da fé possui como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta. Por isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de Deus concebida sem a mancha original e não possuem igualmente uma fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério infalível do Pontífice romano, no sentido definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano. Nem se pode admitir que as verdade que a Igreja, através de solenes decretos, sancionou e definiu em outras épocas, pelo menos as proximamente superiores, não sejam, por este motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente acreditadas: acaso não foram todas elas reveladas por Deus? Pois, o Magistério da Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que as doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas também para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo mais fácil e seguro. E, embora seja ele diariamente exercido pelo Pontífice Romano e pelos Bispos em união com ele, todavia ele se completa pela tarefa de agir, no momento oportuno, definindo algo por meio de solenes ritos e decretos, se alguma vez for necessário opor-se aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais eficiente ou imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada expostos de modo mais claro e pormenorizado. Por este uso extraordinário do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma coisa nova é acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos implicitamente, no depósito da revelação, foram divinamente entregues à Igreja, mas são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam parecer obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas sobre a fé e que antes eram por alguns colocados sob controvérsia. 16. A única maneira de unir todos os cristãos Assim, Veneráveis Irmãos, é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela. Dizemos à única verdadeira Igreja de Cristo: sem dúvida ela é a todos manifesta e, pela vontade de seu Autor, Ela perpetuamente permanecerá tal qual Ele próprio A instituiu para a salvação de todos. Pois, a mística Esposa de Cristo jamais se contaminou com o decurso dos séculos nem, em época alguma, poderá ser contaminada, como Cipriano o atesta: “A Esposa de Cristo não pode ser adulterada: ela é incorrupta e pudica. Ela conhece uma só casa e guarda com casto pudor a santidade de um só cubículo” (De Cath. Ecclessiae unitate, 6). E o mesmo santo Mártir, com direito e com razão, grandemente se admirava de que pudesse alguém acreditar que “esta unidade que procede da firmeza de Deus pudesse cindir-se e ser quebrada na Igreja pelo divórcio de vontades em conflito” (ibidem). Portanto, dado que o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só (1 Cor. 12,12), compacto e conexo (Ef. 4,15), à semelhança do seu corpo físico, seria inépcia e estultície afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem está unido à cabeça, Cristo (Cfr. Ef. 5,30; 1,22). 17. A obediência ao Romano Pontífice Mas, ninguém está nesta única Igreja de Cristo e ninguém nela permanece a não ser que, obedecendo, reconheça e acate o poder de Pedro e de seus sucessores legítimos. Por acaso os antepassados dos enredados pelos erros de Fócio e dos reformadores não estiveram unidos ao Bispo de Roma, ao Pastor supremo das almas? Ai! Os filhos afastaram-se da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e nem foi destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene proteção de Deus. Retornem, pois, eles ao Pai comum que, esquecido das injúrias antes gravadas a fogo contra a Sé Apostólica, recebê-los-á com máximo amor. Pois se, como repetem freqüentemente, desejam unir-se Conosco e com os nossos, por que não se apressam em entrar na Igreja, “Mãe e Mestra de todos os fiéis de Cristo” (Conc. Later 4, c.5)? Escutem a Lactâncio chamado amiúde: “Só… a Igreja Católica é a que retém o verdadeiro culto. Aqui está a fonte da verdade, este é o domicílio da Fé, este é o templo de Deus: se alguém não entrar por ele ou se alguém dele sair, está fora da esperança da vida e salvação. é necessário que ninguém se afague a si mesmo com a pertinácia nas disputas, pois trata-se da vida e da salvação que, a não ser que seja provida de um modo cauteloso e diligente, estará perdida e extinta” (Divin. Inst. 4,30, 11-12). 18. Apelo às seitas dissidentes Aproximem-se, portanto, os filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que os Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue; daquela Sede, dizemos, que é “raiz e matriz da Igreja Católica” (S. Cypr., ep. 48 ad Cornelium, 3), não com o objetivo e a esperança de que “a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade” (1 Tim 3,15) renuncie à integridade da fé e tolere os próprios erros deles, mas, pelo contrário, para que se entreguem a seu magistério e regime. Oxalá auspiciosamente ocorra para Nós isto que não ocorreu ainda para tantos dos nossos muitos Predecessores, a fim de que possamos abraçar com espírito fraterno os filhos que nos é doloroso estejam de Nós separados por uma perniciosa dissensão. Prece a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. Oxalá Deus, Senhor nosso, que “quer salvar todos os homens e que eles venham ao conhecimento da verdade”(1 Tim. 2,4) nos ouça suplicando fortemente para que Ele se digne chamar à unidade da Igreja a todos os errantes. Nesta questão que é, sem dúvida, gravíssima, utilizamos e queremos que seja utilizada como intercessora a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da graça divina, vencedora de todas as heresias e auxílio dos cristãos, para que Ela peça, para o quanto antes, a chegada daquele dia tão desejado por nós, em que todos os homens escutem a voz do seu Filho divino, “conservando a unidade de espírito em um vínculo de paz” (Ef. 4,3). 19. Conclusão e Bênção Apostólica Compreendeis, Veneráveis Irmãos, o quanto desejamos isto e queremos que o saibam os nossos filhos, não só todos os do mundo católico, mas também os que de Nós dissentem. Estes, se implorarem em prece humilde as luzes do céu, por certo reconhecerão a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por fim, nEla tendo entrado, estarão unidos conosco em perfeita caridade. No aguardo deste fato, como auspício dos dons de Deus e como testemunho de nossa paterna benevolência, concedemos muito cordialmente a vós, Veneráveis Irmãos, e a vosso clero e povo, a bênção apostólica. Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia seis de janeiro, no ano de 1928, festa da Epifania de Jesus Cristo, Nosso Senhor, sexto de nosso Pontificado. Pio, Papa XI. #DoutrinadosPapas

  • Dom Marcel Lefebvre

    DOM MARCEL LEFEBVRE Em 29 de novembro de 1905, nascia Marcel numa família que contará até oito filhos, dos quais dois serão padres, três religiosas. Depois da formação no Seminário Francês, em Roma, e a aquisição dos doutorados de filosofia (1925) e teologia (1929), foi ordenado sacerdote eternamente, em 21 de setembro de 1929. Celebrou a primeira Missa na sua paróquia de origem, com grande concurso de povo, não menos de cinqüenta coroinhas cercando-o no altar. A sua piedosa Mãe disse: “Eu estava no céu!“. Depois de um ano, como quinto coadjutor duma paróquia na diocese, entrou no noviciado dos Padres do Espírito Santo. Dom Lefebvre na África Pronunciados os primeiros votos, o novo missionário embarcou para o Gabão, em outubro de 1932, ao encontro de seu irmão, Renato, já Padre. Foi sucessivamente missionário, professor de Dogma e Sagrada Escritura, diretor do seminário como do colégio. Amado dos colegas como dos alunos, era também confessor do seu bispo, Dom Tardy. Nas pregações populares, conferências, missões abertas e retiros, catecismos, administração dos sacramentos, atendimento das confissões, contatos com os não-cristãos, lhe dirá seu irmão no dia da consagração episcopal, “vivendo realmente de coração com os indígenas, você se fazia amado de todos, e muito deplorado quando foi transferido“. O Padre dirá simplesmente desta época: “Sempre a obediência é uma coisa boa. Eu estava pensando que não fazia senão meu dever. Nunca me arrependi“. Em 18 de setembro de 1947, ele é sagrado bispo, na cidade natal, Tourcoing, pelo cardeal Liénart. O mês seguinte, estava chegando a Dakar, onde o esperava uma esplêndida missão. Na “História religiosa do Senegal”, escreverá Jean Delcourt: “De 1947 até 1962, Dom LEFEBVRE, apóstolo infatigável, mudou a face do Senegal”; e o “Osservatore Romano”, jornal oficioso do Vaticano, declarará: “Em 1947, um jovem bispo espiritano, Dom Marcel LEFEBVRE, deu um impulso novo à evangelização, abrindo novos centros católicos e mandando novas forças apostólicas… Sua obra criadora deixou pegadas profundas“. Até os muçulmanos grande tinham  respeito e admiração para com o bispo. Durante uns dez anos, quer como primeiro arcebispo de Dakar, quer como delegado apostólico de toda a África francófona, Dom LEFEBVRE criou vinte e uma dioceses, erigiu Seminários maiores, multiplicou o número de sacerdotes indígenas. Mandou vir numerosas congregações religiosas européias, fundou o primeiro Carmelo da África negra, em Sebikhotane, e um mosteiro beneditino da congregação de Solesmes. Principalmente, estabeleceu uma sólida hierarquia indígena. De outro lado, desenvolveu a imprensa católica com máquinas modernas, organizou a Ação Católica. Dotou cada missão de um dispensário, desenvolveu as escolas do primeiro e segundo graus (em 1947, 2000 alunos em nove escolas primárias; dez anos mais tarde, 12000 alunos em cinqüenta escolas, mais 1600 repartidos em 12 estabelecimentos secundários). Delegado apostólico até 1959, se encontrava Dom LEFEBVRE, cada ano, com Sua Santidade o Papa Pio XII: seus relatórios e avisos estão na origem da encíclica “Fidei Donum” que revivificou a obra missionária da santa Igreja. Sobretudo, num país de maioria muçulmana, em que também rivalizavam animismo e superstição como proselitismo protestante, Dom LEFEBVRE se aplicou, com todas as suas forças, à obra doutrinária. As Cartas Pastorais mostram a preocupação sem cessar de edificar a sociedade cristã em bases profundas. Não podemos aqui dar conta de todas, que contudo são notáveis, mencionamos só a primeira carta que trata de um problema essencial: a ignorância religiosa. O arcebispo lembra o dever, para todos, de estudar o catecismo, os Livros Sagrados, e a obrigação dos pais de dar aos filhos o bom ensinamento, quer dizer a transmissão das verdades eternas como a prática das virtudes cristãs, e também o conhecer reto das verdades naturais. Resumindo a ação de Dom Marcel LEFEBVRE na África, um bispo disse dele: “Serviu a causa da Igreja com todo o seu coração e a sua fé“. Dom Lefebvre no Concílio Em julho de 1962, o Capítulo Geral dos Padres do Espírito Santo elegeu-o como Superior Geral. Mas em 1968, será colocado de lado pela mesma Congregação e, então, entregará a demissão. 1962-1965 foi também o período do funesto Concílio Vaticano II. Nesta época ninguém podia saber, ou imaginar, os frutos tão nocivos que seguiriam. Então, foi chamado Dom LEFEBVRE, pelo Papa João XXIII, para fazer parte da Comissão Preparatória do Concílio. Estava entusiasmado: a sua longa experiência missionária, seu caráter dinâmico e o sentido prático mostravam-lhe a necessidade de uma verdadeira reforma. Mas já, nesta comissão, se encontrou a confrontação de duas tendências: uma conservadora e dogmática, representada pelo Cardeal OTTAVIANI, e outra muito progressista, na pessoa do Cardeal BEA. Todos sabem o que foi o Concílio e as conseqüências trágicas: uma verdadeira revolução. Dom LEFEBVRE descobriu pouco a pouco as evoluções dos progressistas, e resistiu, tentando agrupar os bons. Mas os inimigos haviam de muito tempo preparado os seus ataques, e a maioria dos Padres conciliares ficou apática. O Cardeal Lefebvre, próprio primo de Dom LEFEBVRE, escreverá: “Nunca perdoaremos a Dom LEFEBVRE a sua atitude durante o Concílio…” Deste tempo data a feliz amizade sobrenatural que uniu, até a morte, Dom Marcel LEFEBVRE a Dom Antônio de CASTRO MAYER. Depois de ter conhecido a Igreja florescente, que irradiava as sociedades e todas as instituições, encontravam-se ambos os bispos na obrigação de verificar dolorosamente que, com o favor do funesto Concílio, os erros do liberalismo e do modernismo derrubavam até os fundamentos eclesiásticos com os mais graves resultados: feridos os pastores, as ovelhas ficavam dispersas. Com paciência e firmeza resistiram a esta “autodemolição” da Igreja. Dom Lefebvre na Igreja Conduzido pela Providência – isso foi sempre a sua regra de agir –, foi levado Dom LEFEBVRE a fundar uma obra de formação sacerdotal. Pode assim se dizer que a Fraternidade São Pio X é um fruto do Concílio, no sentido que a Igreja perene expressa-se algumas vezes pela boca dos chefes progressistas, do modo que Caifás profetizou durante a Paixão de Cristo. O leitor pode julgar disso, como do caráter profético das declarações seguintes: – “Dados os encorajamentos expressos pelo Concílio Vaticano II, no decreto “Optatam totius” que concerne os seminários internacionais e a repartição do clero; dada a necessidade urgente da formação de padres zelosos e generosos conforme às diretivas do decreto supracitado; constatando que os estatutos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X estão correspondendo com estes fins, Nós, Francisco Charrière…” (decreto de ereção canônica, 1/11/1970). – “… a Fraternidade Sacerdotal vai poder harmonizar-se bem com o fim querido pelo Concílio (…) para a distribuição do clero no mundo”. (card. Wright, pref. da Sagr. Congr. para o Clero, carta de aprovação e elogio, 1971). É verdade que Dom Lefebvre sempre teve na intenção unicamente o bem da Igreja. Estando a Igreja enferma principalmente do seu clero, a solução primeira para não contribuir para destruição geral se impunha: renovar a formação sacerdotal, manter intato o Santo Sacrifício da Missa.Tinha 65 anos de idade quando começou esta obra nova, e 83 anos quando, com Dom Antônio, sagrou quatro bispos para a sobrevivência da Tradição, vida da santa Igreja. “Não há maior tesouro na Igreja que um padre santo”. Esta convicção explica a vida própria de Dom Marcel LEFEBVRE, e também toda a sua obra, tanto na África como na sua ação desde o funesto Concílio. #DomMarcelLefebvre

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