A Impureza
As Consequências
II – As Consequências
1 – Os danos materiais
Quem os pode enumerar?
a) A impureza precipita o homem na miséria e na ignomínia. Informe o exemplo do Filho pródigo. Quantos, como aquele desgraçado, após uma vida dissoluta, devem exclamar: “Aqui morro de fome: hic fame pereo!” (Lc 15, 17). Não falemos na perda do tempo, dos bens, da reputação. Passemos por cima das rivalidades, das discórdias, dos desgostos em que são amarguradas as famílias por causa da desonestidade.
Acrescentem-se os danos sociais. Os próprios pagãos reconheceram-nos. Cícero (De Senect) reporta esta sentença de Arquitas de Taranto, filósofo e homem de Estado (séc. IV a.C.): “Não há no mundo peste mais perniciosa do que a volúpia. Nela têm origem as traições da pátria, as agitações dos Estados, as guerras das Nações... Não há vício nem excesso, por maior que seja, a que a libidinagem não estimule”.
b) A perda da felicidade – Como se pode dizer feliz um jovem que cai de culpa em culpa, de ruína em ruína? E que, como o filho pródigo, não tem outro alimento além da imundície? “No fundo dos prazeres vãos, que eu chamo em minha ajuda, eu encontro um desgosto que me faz morrer”. É esta a confissão de um libertino; e seria a de todos os libertinos, se quisessem ser sinceros. A paz, a alegria, o repouso... são coisas desconhecidas de uma alma presa dos vícios.
c) A ruína da saúde – Como a castidade é útil ao vigor de um corpo, assim o prejudica a impureza. O conhecido higienista Mantegazza escreveu: “Todos e mormente os jovens, podem sentir os benefícios imediatos da castidade: a memória é pronta e tenaz, o pensamento rápido e fecundo, a vontade robusta, e o caráter se dispõe a um vigor inteiramente desconhecido dos libertinos”. A impureza faz o contrário: por causa dela a juventude, caríssima flor da vida, se murcha, o intelecto se obscurece, a beleza se eclipsa. Os poucos prazeres se pagam com longas dores, por isso que a impureza gera as moléstias mais horríveis e vergonhosas, que se transmitem até por hereditariedade. Um célebre médico, com palavras mais fortes e concisas, disse: “O vício impuro é o flagelo da humanidade; é a esterqueira onde se desenvolvem todas as podridões”. Há nas Guianas umas aves que, batendo levemente as asas, conciliam o sono dos transeuntes, aos quais depois sugam o sangue, causando-lhes a morte. Como essas aves é o feio vício. A quantos jovens, depois de os haver adormecido, tem sugado o sangue, mandando-os ao túmulo na flor da vida!
Uma visita ao hospital. Um bom pai de família, ao perceber que um filho seu cedia ao vício da impureza, levou-o a um hospital, à enfermaria onde os doentes por causa dos pecados desonestos pagavam suas desordens por entre convulsões atrozes. À vista daqueles desgraçados, em grande parte moços, envelhecidos antes do tempo, macilentos, ulcerosos, a exalar intolerável fedor, e ao ouvir seus gemidos, o jovem sentiu-se desmaiar. Aí o pai lhe disse: "Eis as consequências da impureza mora: agora vai, infeliz, segue também a rota da dissolução; não demorará muito que tu também, neste hospital, terás a sorte desses desgraçados!" — A lição e do pai fez tal impressão no espirito do jovem, que imediatamente se emendou de seus vícios: e, empreendendo a carreira militar, foi exemplo de morigeração para todos os colegas.
2 – Os danos espirituais
Mais terríveis ainda são as consequências relativas à alma. Ei-las:
a) O esquecimento de Deus. — O homem animal (assim chama S. Paulo o homem escravo dos sentidos) não só não ama, como nem concebe as coisas que são do espírito da Deus (1Cor 2,14). Falai a um desonesto em Deus, alma, vida eterna, prática da religião, orações, Sacramentos. Que linguagem é essa? Não a entende. Desejaria até persuadir-se de que certas verdades não existem, para entregar-se sem remorsos às suas desordenadas paixões.
b) A Cegueira do Espírito e o endurecimento do coração. — É uma consequência natural.
A maga Circe — A mitologia grega significou estupendamente os efeitos dos prazeres sensuais no mito de Circe. Esta era uma feiticeira que atraía os homens, mormente os jovens, e tendo-os como hóspedes e comensais, dava-lhes para beber um certo licor que os convertia em animais irracionais. Quantos jovens, caídos em poder da volúpia, figurada naquela maga, se transformaram tanto que sua alma, imortal e tão nobre, nada mais tem de humano, mas sim de irracional!
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Quem se entrega ao vício pecando como um animal irracional, perde necessariamente a luz da inteligência: não vê mais nada, não concebe mais nada, exceto o objeto da paixão: torna-se até pior do que os irracionais.
Que importa se de seu pecado outras pessoas tomam o mau exemplo? Se por causa deles se perdem outras almas? Que lhe importa até a reputação perdida? Está cego, está surdo para tudo. Assim não vê a série de culpas que se sucedem inúmeras e se repetem: pensamentos, palavras, olhares, atos...
Como lhes pode calcular a gravidade, contar o número, distinguir as circunstâncias?
Com toda facilidade depois cai de abismo em abismo e comete sem remorso outras iniquidades: injustiças, furtos, sacrilégios... e até homicídios.
Davi o provou. Depois do adultério, chegou ao excesso de fazer trucidar Urias, o mais fiel dos seus soldados. Tomando juízo, exclamava afinal em sua dor: Surpreenderam-me as minhas iniquidades, e eu não as pude ver mais” (Sl 39,12).
Ao desonesto inveterado, endurece-lhe até o coração. Podeis dar-lhe conselho e censurá-lo, ameaçá-lo: é trabalho perdido! Replicar-vos-á com repelente cinismo; tornar-se-á cruel com quem quer o seu bem. Herodes, que até estimava S. João Batista, endurecido no coração, fê-lo decapitar!
c) Perde a fé – Os desonestos para viverem tranquilos nos prazeres sensuais, não gostariam que para eles houvesse o castigo eterno; por isso, fascinados pelas paixões e enganados por falsas máximas, começam primeiramente a duvidar das verdades da fé; depois (como diz S. Paulo) repelida a boa consciência, naufragam na fé (1 Tim 1,19). É a devastação que do coração sobe ao espírito. Disse com sensatez Pico della Mirandola: “Não é o ateísmo o pai de desonestidade; a desonestidade é que é a mãe do ateísmo”. Veja-se o exemplo de Salomão e de outros. Salomão foi o oráculo da sua época enquanto se conservou longe das impudicícias. Engolfando-se depois no mau costume, ei-lo a apostatar de Deus e a tornar-se idólatra: “Ficou depravado o coração dele... a ponto de ir atrás de deuses estrangeiros” (3 Rs 11,4).
Henrique VIII de Inglaterra teve de início convicções católicas tão firmes que merecia o título de defensor da fé. Depois a luxúria transformou o apologista num cismático insolente e feroz. Teodoro Beza, já amigo de S. Francisco de Sales, tornou-se chefe da Reforma em França e na Suíça. E o motivo da apostasia? Confessou-o ele mesmo, apontando a sua indigna companheira de pecado. Lutero, o fundador do protestantismo, era a princípio, frade agostiniano. Depois saiu da Ordem e apostatou da Fé. As causas? Duas: a soberba e a imoralidade. O rebelde e desonesto chega a arrebatar de um mosteiro da Alemanha uma freira que ele mantém sempre ao seu lado.
d) A impenitência final. — Diz S. Cipriano que a impudicícia é a mãe da impenitência. E Tertuliano chama a impureza "vício imutável”. não porque seja absolutamente impossível curar esse mal; mas no sentido de que é muito difícil a vitória sobre a carne para quem habitualmente se deixou vencer por ela. O pecado se tornou nele uma segunda natureza; por isso até reduzido ao leito embora passando-lhe pela mente os princípios da fé, dirá aquele "não posso" que aterroriza; e morrerá impenitente.
Eutímio e a força do hábito. — Santo Ambrósia conta de certa Eutímio que, mergulhado nos prazeres imundos, embora se sentisse baixar as forças e estragar a saúde, não sabia vencer a torpe paixão. Depois de várias doenças, foi atacado de grave corrimento nos olhos; e aí os médicos lhe declararam francamente: ou deter a libidinagem, ou então perder a vista. A resposta foi esta: "Que se vá a vista, e se preciso, até a vida; mas a meus hábitos acho que não posso renunciar!" – Tal é a força do hábito! É o triunfo da paixão sobre a liberdade: é uma corrida precipitada que se realiza por força da inércia. Quantos jovens, escravos do mau hábito, que não barraram a tempo. Deles se tornaram vítimas até a morte, verificando-se neles o que disse o Espírito Santo do mal habituado: "Os seus ossos encher-se-ão dos vícios de sua mocidade, os quais com ele dormirão no pó" (Jó 20,11) — Eis as consequências comuns da impureza: nesse abismo de desgraças despeja-se o homem que cede às ilusões da feia paixão.
(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,
Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)
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