4 de mar de 20235 min

XXII – Os deveres para com os pais - A obediência

Atualizado: 6 de mar de 2023

Os deveres para com os pais

A obediência

II – A Obediência

1 – O dever de obedecer

Esse dever é tão grave, que na lei de Moisés os pais deviam levar seus filhos indóceis e desobedientes perante o povo, para que este os punisse com a lapidação (Dt 21,18-21).

Lembrai, ó filhos: os pais fazem para vós as vezes de Deus nesta terra. O próprio Deus vos manda por sua boca; e desobedecer-lhes é desobedecer a Deus. Por isso São Paulo disse: “Filhos, sede obedientes em tudo aos pais; porquanto assim apraz ao Senhor: Filii, oboedite parentibus per omnia; hoc enim placitum est in Domino” (Col 3, 20).

2 – A obediência aos superiores

O mesmo São Paulo manda obedecer também aos Superiores: “Sede obedientes aos vossos Superiores, e sede-lhes submissos; porque eles velam como devedores de contas de vossas almas” (Hb 13,17).

a) Necessidade da obediência aos Superiores – Em toda parte convém haver quem mande e quem obedeça. Se todo mundo quisesse mandar e viver a seu talante, que seria a sociedade humana? Um caos, ou uma jaula de feras. Tirai a um côro de músicos o chefe: e a música se torna desconcerto; tirai a um exército o capitão: e vereis a desordem das fileiras. Tirai o piloto do navio: e ei-lo ao sabor dos ventos. Também não pode ser ordenada sociedade alguma sem os superiores que a dirijam.

b) Excelência e utilidade da obediência – Não se conhece o seu valor. Por isso dizia Santa Teresa: “Vendo o demônio que não havia para levar depressa à santidade caminho como o da obediência, interpõe-lhe muitos desgostos e dificuldades, sob o disfarce do bem”. “Levantar do chão uma palha por obediência, é de maior mérito que fazer uma prédica, um jejum, uma disciplina, ou uma oração de vontade própria” (Rodríguez). Mesmo os atos indiferentes (comer, dormir, divertir-se), e as coisas que nos parecem inúteis, tornam-se meritórias, se se fazem por obediência.

O bastão florido – O historiador Sulpício Severo (+410) conta este fato que tem do prodigioso. Um jovem se apresentou ao Abade de um convento a fim de ser recebido entre os monges. O Abade lhe disse: “Estás disposto a ser sempre obediente, renegando a tua vontade?” “Sim”. Então ele plantou no chão um bastão seco, e ordenou a todo dia que se regasse com água do Nilo, distante duas milhas. O jovem curvou a cabeça e cumpriu aquela ordem durante três anos. “Mas que trabalho doido!”, dir-se-á. Entretanto foi de sábio. Por isso premiou naquele noviço a obediência. Ao cabo de três anos o bastão floriu.

Até os pagãos reconheceram o mérito dos atos praticados por obediência.

A obediência de Agesislau – O historiador Plutarco conta de Agesislau, famoso capitão grego, que estando ocupado na guerra contra os inimigos da pátria, chega-lhe dos éforos a ordem de parar a guerrear. Agesislau obedeceu prontamente. E Plutarco conta que essa obediência mereceu a Agesislau maior honra e fama do que tudo o que já havia feito em sua carreira marcial.

c) Sem a obediência perdem o valor até as obras mais santasO sacrifício e a desobediência de Saul – Saul voltava glorioso da guerra contra os amalecitas; e contra a ordem de Deus, a ele comunicada por Samuel, poupou o gado para com ele fazer um holocausto a Deus. Mas eis que chega Samuel e lhe diz: “Procedeste nesciamente. Deseja porventura Deus as vítimas? Sabe, pois, que Deus te rejeitou, e não mais reinarás sobre Israel” (IRs 13).

3 - O exemplo de Jesus

Se houve no mundo quem poderia eximir-se da obediência, foi por certo o divino Redentor. Era Deus: a Ele, por conseguinte, deviam obedecer a todos os reis da terra e todos os povos. E, no entanto, ninguém foi tão obediente quanto Ele. Sua ocupação em toda a sua vida foi obedecer em tudo ao Pai Eterno, e Ele próprio o declarou: “O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que me enviou” (Jo 4, 34).

E São Paulo exalta a obediência de Jesus, dizendo dele: “Humilhou-se fazendo-se até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). E como obedeceu a seu divino Pai, também obedeceu por 30 anos a Maria Santíssima e a São José, que eram criaturas suas. O Evangelho compendia a vida privada de Jesus ao dizer que era a eles submisso: Et erat subditus illis (Lc 2, 51). Vedes que exemplo deu Jesus? Ele, Criador do Universo, era obediente às suas criaturas!

4 – Quando se pode desobedecer?

Pode-se obedecer aos pais e superiores quando eles mandam coisas más, isto é, contrárias aos mandamentos de Deus e da Igreja: por exemplo, se mandassem roubar, dizer mentiras, odiar, não fazer a Páscoa? Em tais casos a obediência seria pecaminosa; e então é preciso recordar que “se deve obedecer mais a Deus do que aos homens” (At 5, 29). Porém, mesmo ao desobedecer, se tal ocorresse, devem os filhos usar de todo o respeito, fazendo saber aos pais e superiores que não querem ofender a Deus.

“Papai, hoje é domingo.” – Um pai sem religião mandou um filho lavrar no campo num dia santo. O filho disse-lhe respeitosamente: “Papai, hoje é domingo”. “E que queres dizer com isso?”. “Quero dizer que há o mandamento de Deus para não trabalhar nos dias santificados”. “Mas que mandamento?! Estes são para as crianças, tu agora estás grandezinho...”. O filho prontamente: “Então eu não te obedeço, pois afinal o quarto mandamento não me convém”. O pai mordeu os lábios sem responder. E eis uma boa maneira de se recusar às ordens injustas dos pais.

5 – Qualidade da obediência

Para que então seja a obediência aceita por Deus, e meritória, deve ser:

a) Pronta – São Bernardo diz: “O verdadeiro obediente não sabe o que seja preguiça ou demora: até previne as ordens”. Quando Zaqueu, que se achava em cima da árvore, foi chamado por Jesus, desceu prontamente, como está dito no Evangelho: Festinans descendit (Lc 19, 6).

b) Simples – Diz S. Paulo: “Obedecei na simplicidade de vosso coração, como a Cristo” (Ef 6, 5). Deve-se obedecer sem discutir acerca do que é ordenado, e sem querer saber o porquê. S. Pedro e S. André, ao ouvirem de Jesus Cristo o convite: “Vinde, far-vos-ei pescadores de homens”, não disseram: “Mas onde? Mas como? E depois? Como viver?” Não! Obedeceram com simplicidade, deixando sem hesitações as redes.

c) Alegre – “Deus ama quem dá alegremente, diz ainda S. Paulo” (2 Cor 9, 7). Deve-se obedecer, não resmungando, ou soltando lamentos, ou mostrando mau humor; mas voluntariamente e de bom grado, refletindo no prazer que se dá a Deus e na recompensa que se terá dele.

d) Sobrenatural – Não por motivos humanos, por interesse, por ambição; mas porque Deus o quer. Escutai o que diz S. Paulo: “Filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor (isto é, por amor do Senhor): Filli, oboedite parentibus vestris in Domino” (Ef 6, 1). Obediência interessado não tem nenhum valor diante de Deus.

5 – Os defeitos

Tal deve ser a obediência. Entretanto... Em muitos filhos faltam todas as quatro qualidades que ela deve ter. quando se lhes manda alguma coisa, respondem: “Agora não! Fazei vós isso! Por que sempre a mim?! Isso é cansativo!”. E depois se obedece à força. Mas isso é obediência? Agradará ao Senhor? Recordai o que diz o Espírito Santo: que só o verdadeiro obediente cantará o hino da vitória: Vir oboediens loquetur victoriam (Prov 21, 28).

(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)