24 de out de 20224 min

XIX – O Serviço de Deus - As promessas e as recompensas

II – As promessas e as recompensas

1 – As do mundo

O demônio e o mundo vos atraem e vos dizem: “Servi-nos; sentireis como se está bem no nosso serviço! Tereis tão bela fortuna e uma vida feliz e beatífica!”.

Atentais, queridos jovens! Eu vos advirto que esses bens são falsos: parecem bens e são danos. Se vos deixais deslumbrar pelo seu esplendor, em vez de encontrar a vida, topareis a morte. Tais bens se podem comparar ao fruto que colheram Adão e Eva no Paraíso terrestre.

Adão e Eva e o fruto fatal – Os nossos progenitores, tentados pelo demônio a comerem o fruto proibido, julgaram tornar-se umas divindades: “Sereis como deuses”, dissera-lhe o demônio. E eles deram ouvido à tentação. Mas que se seguiu daí? Chegaram, pelo contrário, ao ódio a Deus, tiveram a maldição de Deus escrita na fronte, e foram por um Anjo expulsos do Paraíso terrestre. Depois foram obrigados a levar uma vida miserável e infeliz, e a ganhar o pão com o suor do rosto; esta terra começou para eles a produzir tribulações e espinhos. Eis o belo resultado!

O demônio e o mundo foram e sempre serão traidores.

2 – As de Deus

a) O que promete Deus?

Deus, único e verdadeiro Senhor nosso, que nos manda servi-Lo, jamais nos faz grandes promessas de prazeres e de felicidade nesta vida. Antes nos diz que tomemos da cruz e andemos atrás d'Ele: “Quem viver atrás de mim: que se renegue a si mesmo, tome de sua cruz e me siga” (Mt 6, 24). Mas nos adverte de que: “o seu jugo é suave, e leve o seu peso (Mt 11,30). Assegura-nos que carregando esse peso não sentiremos padecimentos, mas sim tranquilidade e repouso de nossas almas.

b) O que dá?

Quem serve fielmente o Senhor terá nesta terra uma paz que por certo não encontrarão nunca os adeptos do mundo: “A paz de Deus que ultrapassa a toda compreensão (Flp 4,7); e sentirá que servir a Deus é um reinar (S. Ambrósio).

“Senhor, me enganaste!” – Um bom solitário que servia o Senhor fielmente, voltado para Ele exclamava com ingênua simplicidade: “Senhor, me enganaste! Ao me pôr ao vosso serviço, eu imaginava senão cruzes difíceis a carregar; não via senão dias de penitência e de luto! E, no entanto, sinto a mais doce consolação. Senhor, me enganaste; mas, oh! Feliz engano!”

c) A prova dos santos

O homem justo, que serve a Deus com uma vida realmente cristã, goza de paz e de consolação até no meio das tribulações e padecimentos. O Salmista disse: “Muita paz para os que amam a tua lei (ó Senhor)” (Sl 118,165). Quando o justo sofre, não se perturba e diz: Seja feita a vontade de Deus! E às vezes exclama como S. Paulo: “Inundo-me de alegria de toda atribulação” (2 Cor 7,4).

São Francisco de Assis, quando deixou o mundo e seus próprios haveres pelo amor de Deus, embora se achasse descalço e apenas vestido de um farrapo, dizia com grande contentamento: Tenho Deus, e tenho tudo! São Francisco de Bórgia, deixada a corte de Espanha e entregue inteiramente ao serviço de Deus, sentia tanta consolação, que muitas noites não podia dormir. São Filipe Néri, que também não podia conciliar o sono, pelo grande prazer que sentia ao serviço de Deus, dizia: “Por favor, ó bom Jesus, deixa-me dormir!”. De São Francisco Xavier se sabe que ao se encontrar nos campos das Índias abria o peito a gritar: “Basta, ó Senhor! Não mais consolações, que o meu coração não é capaz de contê-las”. Dizia bem Santa Tereza, que mais vale um só pingo da paz que Deus dá, que todos os prazeres, todas as riquezas e glórias do mundo.

d) O grande prêmio

Quem serve a Deus em vida, sentirá o maior confronto na hora da morte, por causa do grande prêmio que o espera. Qual é esse prêmio? A vida eterna (Rom 6, 23). Entendestes? É a posse de Deus no Paraíso. Imaginai: por poucos dias de serviço prestado a Deus nesta vida, embora à custa de um pouco de padecimento, obter como recompensa o próprio Deus! E gozar uma felicidade que não terá fim nunca! É pouco isso?!

3 – O confronto e a escolha

Fazei agora o confronto das recompensas que dão o demônio e o mundo com a que dá Deus. E à vista da diferença deveis escolher afinal. Josué, ao se achar perto da morte, exortou os filhos de Israel a servir Deus e a observar os seus mandamentos. E, depois de recordar-lhes os grandes benefícios que haviam recebido do Senhor, aduziu: “Agora, então, escolhei: elegei o que vos parecer e a quem devais antes servir: se a Deus ou aos demônios” (Jos 24,15).

O mesmo digo eu a vós. Vistes o que vos dá o demônio se o servis; e vistes também o que vis dá Deus se fordes fieis servos seus. Escolhei, pois, o vosso senhor. A qual dos dois servireis? Quem não gostará de escolher o serviço de Deus?

E, no entanto, quantos jovens recusam o serviço a um Senhor tão bom, que como prêmio dá a vida eterna, para servir o demônio que dá a morte eterna a seus adeptos, depois de lhes intoxicar a vida!”. Não sejais daqueles que, como diz o Profeto Jeremias, “elegem mais a morte do que a vida” (Jer 8, 3), e que “de olhos fechados vão para o fogo eterno” (S. Greg.)

Dirá alguém: Como se faz para servir a Deus? Devemos retirar-nos do mundo e ir para os desertos fazer penitência, como faziam os santos anacoretas? Nada disso.

O modo prático de servir a Deus vós encontrareis no próximo capítulo.

(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)